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Piquenique

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(Redirecionado de Picnic)
 Nota: Para outros significados, veja Piquenique (desambigua��o).
O quadro "The Picnic", por Thomas Cole.
Um piquenique em Paris, em 2005.

Um convescote, piquenique (do franc�s pique-nique) ou picnic (do ingl�s de mesma grafia) � uma atividade de entretenimento que consiste na realiza��o de uma refei��o ao ar livre, como um lanche ou almo�o. O termo est� associado a uma atividade id�lica, simples ou mesmo rom�ntica. Geralmente os lugares escolhidos s�o �reas verdes de campos, florestas e parques, para usufruir do contato com a natureza e a vida selvagem. � uma pr�tica muito difundida na Am�rica do Norte, Europa, Oceania e Jap�o.[1]

O Oxford English Dictionary define um piquenique como um evento social de lazer em que cada pessoa presente contribui com uma parcela das provis�es. Um lazer festivo incluindo uma excurs�o a um ponto, geralmente no campo, onde a refei��o � consumida ao ar livre[2]. O piquenique evoca o ato de compartilhar e a convivialidade, hoje associados ao lazer, mas outrora ligado aos trabalhos coletivos realizados ao ar livre. O h�bito pode ser uma reminisc�ncia ainda mais antiga, remontando aos prim�rdios dos seres humanos, quando o ato de comer era sempre uma atividade n�mada.[3]

A palavra piquenique tem origem no franc�s pique-nique, no s�culo XVII. Ela aparece pela primeira vez na edi��o de 1649 do livro Les charmants effets des barricades, para designar uma refei��o convivial ao ar livre. A express�o passou a ser utilizada pela sociedade erudita parisiense da �poca, de modo que o termo foi incluso na edi��o de 1694 do livro Dictionnaire du Etymologique de la langue Fran�ois, do linguista Gilles Menage.[1] A palavra � pique � (correspondente ao ingl�s pick) vem do verbo piquer, pegar pequenas por��es, ciscar, inspirado pelos galin�ceos que ciscam pequenas por��es. J� � nique � designa uma coisa pequena. A justaposi��o das duas palavras resultaria na ideia de petiscar, ampliada para o conceito de refei��o convivial em um espa�o exterior.[4] A palavra aparece na l�ngua inglesa pela primeira vez em uma carta de Lord Chesterfield de 1748 (OED), num contexto de uma reuni�o de conversa��o, jogos de cartas e consumo de bebidas, ou um simp�sio amig�vel.[5]

Textos esp�rios que circulam pelas redes sociais da Internet frequentemente alegam que a express�o seria origin�ria do idioma ingl�s "Pick a nigger", derivada das antigas reuni�es da aristocracia escravocrata do sul dos Estados Unidos, de car�ter festivo e convivial, que inclu�am refei��es coletivas, onde escravos negros eram negociados, e por vezes linchados, entretanto mesmo que tais reuni�es acontecessem de fato, essa alega��o n�o passa de uma lenda urbana[6].

O h�bito de se realizarem refei��es ao ar livre, dentro de sociedades civilizadas, remontam o pr�prio advento da civiliza��o. Os antigos babil�nios realizavam refei��es ao ar livre fora das cidades, juntamente do rei e de sacerdotes, durante as comemora��es do ano novo. Essa refei��o possu�a um car�ter ritual�stico, mas tamb�m festivo[1].

Entre os antigos gregos, rituais, sacrif�cios e celebra��es nas imedia��es dos templos eram acompanhadas de refei��es festivas ao ar livre, que inclu�am a prepara��o dos alimentos no local[1].

Os romanos eram grandes entusiastas de refei��es festivas ao ar livre. Existia o costume de se organizarem refei��es pr�ximas das sepulturas de antepassados , assim como em reuni�es de ca�a, onde os servi�ais preparavam a refei��o no pr�prio local, a partir de animais rec�m abatidos pelos mestres. A literatura romana est� repleta de refer�ncias � encontros nos limites da cidade, em gramados ou nas praias, onde as pessoas comuns realizavam banquetes e relaxavam. S�neca descreve na obra Cartas morais para Lucilius, que as refei��es no campo, ao ar livre, onde o homem comum pode comer, conversar e escrever, s�o um dos maiores prazeres da vida[1].

Idade M�dia

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Iluminura representando um Piquenique de nobres na idade m�dia

Na idade m�dia, os nobres em ca�adas, ou em viagens, realizavam refei��es festivas ao ar livre, � moda dos antigos romanos. Gaston de Foiz, escritor franc�s, em um livro intitulado Le Livre de chasse (1387), descreve em detalhe tais eventos na Fran�a medieval. No s�culo XIV tais eventos eram tamb�m similares na Inglaterra, onde se consumiam carnes curadas, assados e p�es[7]. A express�o "colocar a mesa" tinha um sentido literal, pois colocava-se uma t�bua apoiada em cavaletes para que os nobres pudessem comer em meio da natureza[1].

Ainda durante a idade m�dia, viajantes europeus que visitavam regi�es dominadas pelo Islamismo descreviam a presen�a do habito de realizar piqueniques em pomares e jardins[3]. No Egito a realiza��o de piqueniques durante a chegada da primavera era uma tradi��o muito antiga e remonta o culto � Os�ris, tendo sido retomada pelo calend�rio copta. Na S�ria, desde o seculo XIII, as festas da primavera consistiam em piqueniques fora da cidade, havendo tamb�m a fun��o de encontros discretos entre jovens pretendentes ao casamento[8].

Idade Moderna e Contempor�nea

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Fran�ois Lemoyne - piquenique durante a ca�ada, s�culo XVII

Essa pode ser considerada a era de ouro dos piqueniques, onde ele assume o significado cl�ssico ao qual se associa o termo, isto �, uma refei��o, habitualmente comunal, ao ar livre, durante uma escapada, ant�tese da rotina social estabelecida, sem restri��es de hor�rios, podendo abranger tamb�m atividades recreacionais. O fen�meno coincide na Europa Ocidental com a gradual passagem da vida campestre e pastoral para um contexto progressivamente mais urbano com o decl�nio das vilas em favor dos grandes centros populacionais. Passa a haver uma necessidade social do homem urbano de reencontro com o campo, ou com fac-s�miles do campo como parques e �reas gramadas ou mesmo um pequeno bosque urbano.[1]

Em todo continente, a pr�tica se tornava progressivamente popular entre a nobreza e a aristocracia do s�culo XVII. Mer�nda em italiano, Merienda em espanhol, pique nique em franc�s, Picknick em alem�o, ou picnic em ingl�s, o h�bito se universaliza com seu car�ter simb�lico. Sabe-se que em uma tarde, em 1654, Oliver Cromwell, Lord protetor da Inglaterra, realizou um piquenique nas gramas do Hyde Park. Alguns nobres transformavam os piqueniques em verdadeiros jantares de gala com porcelanas, pratarias e orquestra.[3]

Manet - Le D�jeuner sur l'Herbe, 1863

A partir do s�culo XVIII, o pensamento iluminista ajuda a trazer a pr�tica para as demais camadas da sociedade. Jean-Jacques Rousseau teorizava sobre os benef�cios da proximidade e intimidade do ser humano com a natureza: o homem-animal reconquista seu universo atrav�s do contato com a natureza. Ele pr�prio era um adepto da pr�tica do piquenique. Com o advento da Revolu��o Francesa, os parques reais tornam-se abertos ao p�blico pela primeira vez. O piquenique se torna ent�o uma atividade bastante comum em Paris, e com a progressiva ascens�o burguesa por toda Europa, o h�bito ir� se enraizar profundamente entre os costumes desta classe social. O piquenique se institucionaliza, e se espalha para as Am�ricas. Surgem sociedades de piqueniques na Inglaterra, e o h�bito passa a ser tema de pinturas e livros.[1]

No s�culo XIX diversos fen�menos colaboram com o apogeu do estabelecimento social da pr�tica do piquenique: o naturalismo e a "sacraliza��o" dos h�bitos buc�licos, assim como o pensamento higienista, colocam a pr�tica ainda mais em evid�ncia. A corrente impressionista da pintura, e a literatura (�mile Zola, Guy de Maupassant, Stendhal, Charles Dickens) celebram o piquenique. Na medida que as cidades iam criando mais barreiras em rela��o ao campo, mais pessoas estavam dispostas a fazer piqueniques.[1]

Caracter�sticas

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Os piqueniques acontecem em espa�os p�blicos pr�ximos da natureza como parques, montanhas, bosques, praias, ou mesmo em �reas de repouso de auto-estradas, durante os meses mais quentes do ano, sobretudo no hemisf�rio norte. A refei��o tem como base comidas de f�cil preparo e transporte (sandu�ches, frutas, ovos cozidos, biscoitos), al�m de bebidas. Deve-se evitar produtos perec�veis[9]. Tradicionalmente, os alimentos s�o transportados at� o s�tio do evento dentro de uma cesta ou sambur�, e s�o dispostos em um len�ol apropriado (geralmente com motivos de estampa xadrez) sobre o solo, em torno dos quais os comensais se alojam. Existem tamb�m locais p�blicos que j� contam com mesas de piquenique[10]. Varia��es do card�pio podem incluir pratos preparados ou quentes, e que variam segundo a cultura e as prefer�ncias locais. Uma possibilidade � que os pratos sejam preparados no local do piquenique, como � o caso do churrasco, bastante popular em eventos festivos do Brasil e do cone sul[11].

Atividades de lazer s�o frequentes em piqueniques, e podem incluir jogos com bolas, nado, jogo de peteca, frisbee, pipas, jogos de cartas e atividades l�dicas e musicais[12].

Referências

  1. a b c d e f g h i Walter Levy, The Picnic: A History, Rowman & Littlefield, 2013. 216 páginas
  2. Oxford English Dictionary [Clarendon Press:Oxford], 2nd edition, Volume XI (p. 779)
  3. a b c Francine Barthe-Deloizy (dir.), LE PIQUE-NIQUE OU L’ÉLOGE D’UN BONHEUR ORDINAIRE, Editions Bréal, 2008, 256 p.
  4. Pascal (31 de julho de 2012). «L'origine de ces fameuses expressions : « Faire un pique-nique »». Projet Voltaire. Consultado em 20 de agosto de 2015 
  5. Philip, Harper (1838). The Works of Lord Chesterfield: Including His Letters to His Son. [S.l.: s.n.] 
  6. David Emery. «Origin of the Word 'Picnic'?». Urban Legends. Consultado em 20 de agosto de 2015 
  7. Oxford Companion to Food, Alan Davidson [Oxford University Press:Oxford] 1999 (p. 602)
  8. François da Rocha Carneiro (17 de maio de 2009). «Critique du livre: LE PIQUE-NIQUE OU L'ÉLOGE D'UN BONHEUR ORDINAIRE». Consultado em 20 de agosto de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  9. DeeDee Stovel, Picnic: 125 Recipes with 29 Seasonal Menus, Storey Publishing,2012 - 192 páginas
  10. Anna Carolina Oliveira, Bruna Ribeiro e Sophia Braun (11 de janeiro de 2013). «Lugares para fazer piquenique e o que levar». Veja SP. Consultado em 20 de agosto de 2015 
  11. Luciana Hartmann, « Performances culturais: expressões de identidade nas festas da fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai », Etnográfica, vol. 15 (2) | 2011, 233-259.
  12. Phoebe Doyle (18 de junho de 2014). «10 games to play on a picnic». Tesco Living. Consultado em 20 de agosto de 2015 
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