Butch e femme
Butch e femme s�o termos usados na subcultura l�sbica e s�fica[1][2][3][4][5] para atribuir ou reconhecer uma express�o de g�nero desfeminilizada (butch) ou feminina (femme) com seus tra�os, comportamentos, estilos, autopercep��o e assim por diante.[6][7] Os termos foram fundados em comunidades l�sbicas no s�culo XX. Esse conceito foi chamado de "maneira de organizar rela��es sexuais, g�nero e identidade sexual".[8] A cultura butch-femme n�o � a �nica forma de um sistema di�dico l�sbico, pois h� muitas mulheres em relacionamentos butch-butch e femme-femme.[9]
Tanto a express�o de l�sbicas individuais de express�es butch e femme quanto o relacionamento da popula��o l�sbica em geral com a no��o de butch e femme como um princ�pio organizador do relacionamento sexual variaram ao longo do s�culo XX.[10] Algumas feministas l�sbicas argumentaram que o butch-femme � uma replica��o das rela��es heterossexuais, enquanto outras comentaristas argumentam que, embora ressoe com os padr�es heterossexuais de relacionamento, butch-femme desafia-o simultaneamente.[11] Pesquisas realizadas nos anos 90 nos Estados Unidos mostraram que "95% das l�sbicas est�o familiarizadas com os c�digos butch/femme e podem classificar a si mesmas ou a outras em termos desses c�digos, e, no entanto, a mesma porcentagem considera que butch/femme 'n�o � importante em suas vidas'.[12]
Em portugu�s existem as palavras caminhoneira, bolachona, machorra e bofinha (ou bofinho, em alus�o a tomboy),[13][14][15][16] que podem ter uso semelhante a butch. O termo sapatona ou sapat�o pode ser usado de forma pejorativa como insulto, palavr�o, profana��o ou cal�nia, logo ela se torna incompat�vel ao uso de butch e compar�vel a dyke ou bulldyke, por isto muitas mulheres l�sbicas usam butch como empr�stimo lingu�stico.[17][18][19][20][21][22][23][24][25][26][27][28] Outro termo semelhante � ursa, ursete e ursula, que tenta copiar urso da cultura gay, para designar mulheres ursinas.[29][30] H� tamb�m outras tradu��es para dyke: fancha, viada, fufa, racha, mulher-macho, macha, cola velcro, marimacho, marimacha, sapa, virago, safista, fessureira e sapatia.[31][32]
Femme, fem ou feme, � comumente usado por pessoas queer que n�o s�o essencialmente l�sbicas, como mulheres bissexuais, travestis e homens gays ou bissexuais afeminados, indicando uma feminilidade LGBT ou QPoC (pessoa queer de cor, queer person of color), ou que de qualquer forma foge da conformidade e do bin�rio de g�nero, mas ainda assim podem usar fem (abreviatura de femme ou feminilidade).[33][34][35][36][37][38][39][40][41][42] A tradu��o pode ser semelhante �s conhecidas palavras sapatilha, sapatinha, sapatinho e sandalhinha, na comunidade l�sbica.[43][44]
Butch e femme j� foram traduzidos como mach�o e mocinha tamb�m, respectivamente.[45] Desfem pode ser usado por algumas pessoas que s�o descritas por butch ou futch.[46][47]
Etimologia e simbologia
[editar | editar c�digo-fonte]A palavra femme � retirada da palavra francesa para mulher. A palavra butch, que significa "masculino", pode ter sido cunhada abreviando a palavra butcher, como observado pela primeira vez no apelido de George Cassidy, Butch Cassidy.[48] No entanto, a origem exata da palavra ainda � desconhecida.
A web designer butch Daddy Rhon criou um s�mbolo de um tri�ngulo preto cruzando um c�rculo vermelho para representar a sexualidade de butch/femme, que foi usada pela primeira vez no in�cio do s�culo XXI no site butch-femme.com e come�ou a ser usada em outros lugares.[49]
Atributos
[editar | editar c�digo-fonte]H� um debate sobre a quem os termos butch e femme podem ser aplicados, e particularmente se os indiv�duos trans podem ser identificados dessa maneira. Por exemplo, Jack Halberstam argumenta que homens trans n�o podem ser considerados butch, uma vez que constitui uma fus�o de masculinidade com butchness. Ele ainda argumenta que butch-femme � exclusivamente voltada para trabalhar em relacionamentos l�sbicos.[50] Alguns defendem que indiv�duos transmasculinos possam viver uma �rea cinza, entre butch e homem trans, chamando de cusper.[51] Os estere�tipos e as defini��es de butch e femme variam muito, mesmo dentro de comunidades LGBT. Por outro lado, a escritora Jewelle Gomez refletiu que as mulheres butches e femmes no in�cio do s�culo XX podem estar expressando sua identidade transg�nera.[52][53] A antipatia por butches f�meas ou femininas e femmes machas ou masculinas tem sido interpretada por alguns comentadores como transfobia,[54] embora os maches (ou machos) femmes e f�mes (f�mies ou f�meos) butches nem sempre sejam transg�neros, e de fato alguns heterossexuais de ambos os sexos exibem esses atributos.[55][56]
Estudiosas como Judith Butler e Anne Fausto-Sterling [en] sugerem que butch e femme n�o s�o tentativas de assumir pap�is de g�nero "tradicionais". Em vez disso, elas argumentam que o g�nero � social e historicamente constru�do, em vez de essencial, "natural" ou biol�gico. A historiadora l�sbica femme Joan Nestle argumenta que femme e butch podem ser vistos como g�neros distintos em si mesmos.[57]
Butch
[editar | editar c�digo-fonte]"Butch" pode ser usado como adjetivo ou substantivo[58] para descrever o g�nero ou performance de g�nero de um indiv�duo. Uma pessoa masculina de qualquer sexo pode ser descrita como butch, embora seja mais comum usar o termo para mulheres com tra�os mais masculinos, masculinizados ou masculinizantes.[59] O termo butch tende a denotar um grau de masculinidade exibido por uma pessoa do sexo feminino al�m do que seria considerado t�pico de uma moleca/tomboy. N�o � incomum que mulheres com apar�ncia de butch enfrentem ass�dio ou viol�ncia.[60] Uma pesquisa de butches nos anos 90 mostrou que 50% eram atra�dos principalmente por mulheres, enquanto 25% relataram ser geralmente atra�dos por outros butches.[61] A estudiosa feminista Sally Rowena Munt descreveu as butches como "a forma p�blica reconhec�vel de lesbianismo (lesbianidade, lesbicidade ou lesbiandade)" e uma figura fora da lei na cultura l�sbica.[62]
BUTCH Voices, uma confer�ncia nacional para "indiv�duos masculinos do centro", incluindo variante de g�nero, foi fundada em 2008.[63][64]
Femme
[editar | editar c�digo-fonte]Assim como o termo "butch", femme pode ser usado como adjetivo ou substantivo.[58] As femmes n�o s�o "lidas" como l�sbicas de verdade, a menos que estejam com uma parceira butch, porque est�o em conformidade com os padr�es tradicionais de feminilidade. Por n�o expressarem qualidades masculinas, as mulheres eram particularmente irritantes para sex�logos e psicanalistas que queriam argumentar que todas as l�sbicas desejavam ser homens.[65] Tradicionalmente, esperava-se que a femme em um casal butch-femme aja como uma mulher feminina estereotipada e forne�a apoio emocional ao seu parceiro butch. Na primeira metade do s�culo XX, quando os pap�is de g�nero butch-femme foram limitados � cena underground dos bares, as femmes foram consideradas invis�veis sem um parceiro butch - ou seja, elas poderiam passar como heterossexuais por causa de sua conformidade de g�nero.[66] No entanto, Joan Nestle afirma que as mulheres em um casal butch-femme tornam a butch e a femme extremamente vis�veis. Ao ousar serem publicamente atra�dos por mulheres butch, as femmes refletiam sua pr�pria diferen�a sexual e faziam do butch um assunto conhecido do desejo.[67]
O movimento feminista separatista do final das d�cadas de 1960 e 1970 for�ou o sexo feminino, como feministas radicais l�sbicas descobriram que os pap�is de g�nero l�sbico eram uma replica��o decepcionante e opressiva do estilo de vida heterossexual.[68] No entanto, a d�cada de 1980 viu um ressurgimento dos pap�is de g�nero butch e femme. Nessa nova configura��o de butch e femme, era aceit�vel, e at� desej�vel, ter pares sexuais e rom�nticos femme-femme. Femmes ganharam valor como seu pr�prio sexo l�sbico, tornando poss�vel a exist�ncia separada de butches. Por exemplo, Susie Bright, fundadora do On Our Backs, a primeira peri�dica de sexo l�sbico do g�nero, identifica-se como femme.[69] Al�m das representa��es na pornografia, a est�tica neo-butch e neo-femme na vida cotidiana ajudou a adicionar um senso de identidade visual �s l�sbicas que abandonaram esses pap�is em nome do politicamente correto.[70]
Em "Negotiating Dyke Femininity" (negociando a feminilidade sapat�nica (ou sapata)), a estudiosa l�sbica Wendy Somerson, explica que as mulheres da comunidade l�sbica que s�o mais femininas e que n�o se encaixam no estere�tipo "butch" podem passar da maneira h�tera. Ela acredita que o v�nculo entre apar�ncia, desempenho de g�nero e a sexualidade de algu�m deve ser interrompido, porque a apar�ncia de algu�m n�o deve definir sua sexualidade. Em seu artigo, Somerson tamb�m fala claramente sobre como na comunidade l�sbica algumas s�o consideradas mais masculinas que outras.[71]
As mulheres ainda combatem a invisibilidade que sua apresenta��o cria e afirmam sua sexualidade atrav�s de sua feminilidade.[72] A rejei��o de mulheres como ileg�timas ou invis�veis tamb�m ocorre dentro da pr�pria comunidade LGBT, o que cria um impulso para que as mulheres se defendam como uma identidade aut�noma, inerentemente ligada a butches.[73]
Outros termos
[editar | editar c�digo-fonte]Algumas mulheres em comunidades l�sbicas evitam as classifica��es butch ou femme, acreditando que elas s�o inadequadas para descrever um indiv�duo ou que os r�tulos s�o limitadores por si s�. Outras pessoas da comunidade LGBT adaptaram os r�tulos comuns para serem mais descritivos, como "soft stud", "hard butch", "gym queen" ou "tomboy femme". A comediante Elvira Kurt contribuiu com o termo "fellagirly" como uma descri��o para mulheres LBT que n�o s�o estritamente femme ou butch, mas uma combina��o. Nas d�cadas de 1950 e 1960, os termos chi-chi e kiki (qui-qui) era usado para significar a mesma coisa.[74]
"L�sbicas de batom" (lipstick lesbians) s�o l�sbicas femininas. Uma mulher que gosta de receber e n�o ser ativa sexualmente � chamada de "rainha do travesseiro" (pillow queen) ou "princesa do travesseiro" (pillow princess).[75] Por outro lado, uma mulher butch pode ser descrita como "butch de pedra" (stone butch), "dique de diesel" (diesel dyke),[76] "bulldagger" ou "bull bitch".[77]:136 O termo boi � normalmente usado por mulheres LGBT mais jovens. Definindo a diferen�a entre um butch e um boi, uma boi disse a um rep�rter: "esse senso de jogo - h� uma grande diferen�a de ser uma butch. Para mim, butch � como um adulto. Voc� � o homem da casa".[78] H� tamb�m um uso emergente dos termos soft butch (butch leve) "stem" (stud-femme ou stemme), "futch" (feminine butch)[79] ou "chapstick lesbian" como termos para mulheres que t�m caracter�sticas de butch e femme. L�sbicas unissex e nem butch nem femme s�o chamadas de "andr�ginas" ou "andros". Um outro termo, mais antigo, que denota s�ficas, chamado bluff, mistura butch com fluff.[80][81][82][83][84]
Truck driver ou trucker pode ser considerada uma tradu��o de camionneuse,[85] g�ria em franc�s para uma butch, parecida com diesel dyke, que tamb�m se encontra noutros idiomas, como camionera em espanhol, camionista em italiano e caminhoneira em portugu�s.[86][87]
Stag (veada) e tomcat designam especificamente mulheres bissexuais de express�es de g�nero butch ou futch, sendo doe (cor�a) para femme.[88][89][90]
Ver tamb�m
[editar | editar código-fonte]Referências
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