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Bicho de Sete Cabeças

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Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Bicho de Sete Cabeças
Bicho de Sete Cabeças
Pôster de divulgação
 Brasil[1]
2000 •  cor •  74 min 
Gênero drama
Direção Laís Bodanzky
Produção Sara Silveira
Caio Gullane
Fabiano Gullane
Luiz Bolognesi
Marco M�ller
Produ��o executiva Maria Ionescu
Fabiano Gullane
Roteiro Luiz Bolognesi
Baseado em Canto dos Malditos, de Austreg�silo Carrano Bueno
Elenco Rodrigo Santoro
Othon Bastos
C�ssia Kiss
M�sica Andr� Abujamra
Pena Schmidt
Diretor de fotografia Hugo Kovensky
Dire��o de arte Marcos Pedroso
Edi��o Jacopo Quadri
Letizia Caudullo
Companhia(s) produtora(s) Buriti Filmes
Dezenove Som e Imagens Produ��es Ltda.
Gullane Filmes
Fabrica Cinema
Distribui��o Columbia TriStar
RioFilme
Lan�amento 22 de junho de 2001
Idioma portugu�s
Or�amento R$ 1,5 milh�o[2]
Receita R$ 2,184,514

Bicho de Sete Cabe�as � um filme de drama brasileiro de 2000 dirigido por La�s Bodanzky e com roteiro de Luiz Bolognesi baseado no livro autobiogr�fico de Austreg�silo Carrano Bueno, Canto dos Malditos. O filme foi realizado com a parceria entre as produtoras brasileiras Buriti Filmes, Dezenove Som e Imagens Produ��es Ltda. e Gullane Filmes, com a participa��o da brasileira RioFilme e da italiana Fabrica Cinema e a distribui��o da Columbia TriStar,[2] e contou com Rodrigo Santoro, Othon Bastos e C�ssia Kis nos pap�is principais.

O filme conta a hist�ria de Neto (Rodrigo Santoro), um jovem que � internado em um hospital psiqui�trico ap�s seu pai descobrir um cigarro de maconha em seu casaco. L�, Neto � submetido a situa��es abusivas. O filme, al�m de abordar a quest�o dos abusos feitos pelos hospitais psiqui�tricos, tamb�m aborda a quest�o das drogas e a rela��o entre pai e filho e as consequ�ncias geradas na estrutura da fam�lia.

Bicho de Sete Cabe�as foi amplamente aclamado de um modo geral, recebendo v�rios pr�mios e indica��es, dentre eles, o Pr�mio Qualidade Brasil, o Grande Pr�mio Cinema Brasil e o Trof�u APCA de "Melhor Filme", al�m de ser o filme mais premiado do Festival de Bras�lia e do Festival do Recife. O filme abriu portas para uma nova maneira de pensar sobre as institui��es psiqui�tricas no Brasil, e em torno disso, foi aprovada pelo Congresso Nacional uma lei que pro�be a constru��o de institui��es com caracter�sticas asilares, ou seja, as que n�o garantem os direitos fundamentais dos doentes mentais.[3] Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associa��o Brasileira de Cr�ticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.[4]

O filme come�a com Sr. Wilson (Othon Bastos) lendo uma carta que recebeu de seu filho, na qual este diz estar lhe mostrando "a porta da rua". Ap�s um flashback, a hist�ria come�a a ser contada:[5] Wilson de Souza Neto,[6] um jovem estudante de segundo grau e de classe m�dia baixa, mais conhecido como Neto (Rodrigo Santoro),[1] tem um relacionamento conturbado com seu pai e sua m�e (C�ssia Kis Magro). Ele prefere ficar com seus amigos, andar de skate, pichar muros e fumar maconha.[7] Em um dia, Neto viaja sem avisar para onde vai,[5] junto com Lobo (Gustavo Machado), por�m n�o gosta do que encontra e vai embora.[8]

Sem dinheiro, no meio da cidade de Santos, ele come�a a abordar pessoas para pedir dinheiro, mas a maioria recusa. Apenas Leninha (Val�ria Alencar), uma mulher num bar, lhe ajuda. Eles v�o para a casa dela e, depois de comerem, fazem sexo.[9][10] Ap�s ir embora, ele vai pichar junto de seus amigos, por�m s�o vistos e ele � preso, for�ando seus pais a busc�-lo na delegacia. Ele e seu pai brigam e, quando Neto vai para o quarto, Wilson encontra um cigarro de maconha em seu casaco.[5] Os pais de Neto s�o aconselhados pela sua filha (Daniela Nefussi), que ajuda a conseguir uma vaga no lugar, a intern�-lo.[11][12]

Seu pai diz que vai lev�-lo para visitar um colega no hospital,[13] por�m quando eles chegam l�, os enfermeiros o levam a for�a[14] e ele � internado sem a realiza��o de um exame sangu�neo ou psicol�gico para constatar a necessidade de interna��o, recebendo um sedativo antes do diagn�stico do Dr. Cintra Ara�jo[12] (Altair Lima), que raramente se encontra no hospital.[5] Quando acorda, se depara com Cear� (Gero Camilo), um homem de comportamento hiperativo, e vai at� o refeit�rio, onde encontra uma situa��o decadente e de descuido. Alguns presos pedem um cigarro para ele,[15] por�m eles s�o afastados pelo enfermeiro Marcelo (Lu�s Miranda).[16]

Ele tamb�m conhece Rog�rio (Caco Ciocler), um usu�rio de drogas injet�veis internado por sua fam�lia h� cinco meses, que lhe diz que � imposs�vel fugir dali e se ele tentar seria drogado com haloperidol, ou receber choques el�tricos.[17][18] Seu colega lhe instrui a n�o consumir os rem�dios dados pelos enfermeiros,[19] pois eles despertam o apetite para que os pacientes se alimentem e pare�am saud�veis.[20] Enquanto isso, o Dr. Cintra tem uma conversa na qual ele discute sobre a verba dada pelo governo e que se fosse necess�rio ele poderia facilmente conseguir pessoas, principalmente sem-tetos, para n�o perd�-la.[21]

Ap�s pelo menos quinze dias de interna��o, o tempo m�nimo para um interno poder receber visitas,[22] os pais e a irm� de Neto v�o visit�-lo, descobrem que ele ter� que ficar meses no local e mesmo ap�s ele implorar para ser levado embora, eles recusam. Antes do encontro, o doutor disse que ele agiria assim a fim de engan�-los.[12]

Em um dia, Neto tenta fugir aproveitando a distração dos enfermeiros, mas é capturado e, naquela noite, recebe descargas elétricas como punição.[23] De repente, seu pai vai visitá-lo, diz que ele e sua mãe estão sentindo muito a falta dele e que nunca viu ela tão triste. Neto pede que seu pai o leve embora e ele faz isso.[24] Na sua casa, sua mãe pergunta ao garoto abatido, que diz ainda não estar recuperado, se deseja voltar para o colégio ou trabalhar como vendedor e ele decide que quer o emprego.[25] Após a mãe de um amigo seu proibi-lo de visitá-lo[26] e ele descobrir que Leninha é casada,[1][27] Neto começa a ficar estressado a ponto de abandonar um cliente em meio a uma negociação para passear.[28] Para aliviar tensão, à noite ele vai a uma festa, onde começa a beber bastante Coca-Cola e cachaça,[29] e após ficar bêbado leva Bel (Talita Castro) para o banheiro. Porém, provavelmente devido aos abusos no manicômio, Neto sofre impotência sexual, o que o leva a se descontrolar e a destruir diversos objetos. A garota foge, ele é preso por resistir à prisão, e internado novamente.[30]

Nessa nova instituição, Neto desperta a ira do enfermeiro Ivan (Jairo Mattos) após contar ao seu superior que ele exagerou ao tentar acalmar um paciente.[31] A partir de então, o enfermeiro fica de olho em Neto e quando o vê não tomando um comprimido aproveita para dar a ele uma injeção.[32] Na noite do mesmo dia, Neto deixa uma enfermeira inconsciente e pede para Biu (Marcos Cesana) colocar fogo em vários medicamentos.[33] Quando Ivan descobre, ele o leva para uma sala isolada e o tranca.[34] Num outro dia, Neto escreve uma carta, e quando seu pai vem visitá-lo, ele apenas a entrega e não quer conversar.[35] Após se recusar a cortar o cabelo, ele é preso novamente num quarto isolado, onde ele põe fogo. Ivan vê e não faz nada e Biu acha que ele morreu, porém abrem a porta e Neto sai de lá.[36] Após ler a carta em que Neto conta tudo o que passou na instituição, seu pai o tira do hospital.[37]

O elenco de Bicho de Sete Cabeças, listado a seguir,[1] foi premiado em vários festivais. Seus atores e atrizes receberam prêmios de "Melhor Ator", para Rodrigo Santoro, que fazia seu primeiro longa-metragem,[38] "Melhor Atriz" para Cássia Kiss e "Melhor Ator Coadjuvante" para Gero Camilo e Othon Bastos.[38][39][40][41]

"Era como se pudesse ouvir um grande grito que ele dava para o mundo — um alerta para mudar a triste realidade manicomial brasileira. Tive certeza que este grito tinha que ser amplificado e ventilado. Achava que, assim como eu, muita gente desconhecia o que acontecia atrás dos muros dessas instituições, mantendo esse desumano tratamento invisível à sociedade. Foi esse fogo aceso que iluminou toda a caminhada de anos para realizar o filme Bicho de Sete Cabeças."

Laís Bodanzky sobre Canto dos Malditos[47]

Foi em 1996, quando fazia parte de um grupo de pesquisa sobre saúde mental no Brasil, que Laís Bodanzky leu pela primeira vez o livro Canto dos Malditos, de Austregésilo Carrano Bueno, ficando impressionada com sua narrativa. Ela então convidou o roteirista Luiz Bolognesi para adaptar a história de Carrano para os cinemas, por saber que ele tinha um olhar sobre o mundo parecido com o dela e teria bastante respeito sobre o tema abordado.[47] O que Bodanzky disse a Bolognesi era que queria transpor a história vivida por Carrano nos anos 70 para os dias de hoje, porque, na verdade, não havia mudado nada atrás dos muros, e ela queria causar esse impacto no espectador.[47]

Ela percebeu que o universo da loucura é um tema tabu, e mesmo com toda a dificuldade, isso a estimulava ainda mais a correr atrás e levantar a produção para o filme. Também disse que se a história não fosse tão "ardida" ou tão necessária, talvez ela não tivesse feito o seu primeiro longa; ela disse que sentiu que tinha que contar essa história.[48] Bodanzky desejava mostrar e denunciar que os problemas dos manicômios não haviam acabado com o fim da ditadura e para conseguir tal objetivo, ela decidiu utilizar uma linguagem seca, quase documental. O documentário O Profeta das Cores, de Leopoldo Nunes, foi uma da suas principais influências para as cenas onde eram mostrados os pacientes do hospital.[49]

O título do filme foi baseado na canção homônima de Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, que compôs a trilha sonora, sendo interpretada por Zeca Baleiro na versão do filme. Bodanzky disse que "era necessário encontrar um título que substituísse o nome do livro, [...] porque o filme não era exatamente o livro, mas inspirado nele."[45]

Bicho de Sete Cabeças foi o primeiro longa de Bodanzky e segundo ela, o roteiro foi a peça-chave no filme.[47] Muitas pessoas foram atraídas pelo roteiro, como os atores Rodrigo Santoro, Othon Bastos e Cássia Kiss, os produtores Caio e Fabiano Gullane e Sara Silveira, e o co-produtor Marco Müller, da Fabrica Cinema.[45] Para sua adaptação do livro, Bolognesi decidiu trabalhar da maneira mais livre possível, considerando o livro uma peça de inpiração do trabalho, mas com a liberdade irrestrita para inventar situações, personagens ou até modificar a personalidade dos personagens. Carrano logo depois aceitou, conforme o que o roteirista e a diretora disseram: "Nosso desejo era manter a espinha dorsal da história, ventilando-a para o grande público, mas com a liberdade de recriar o que achássemos necessário para a eficácia da narrativa cinematográfica."[43] Bolognesi procurou criar um Neto muito mais tímido do que o articulado e carismático Carrano. O roteirista também queria que Neto não fosse o líder da turma, mas apenas um dos alunos da sala de aula. O objetivo segundo ele "era construir um personagem que espelhasse o espectador comum e não anunciasse um herói."[50] O roteirista também sentia a necessidade de construir um segundo eixo narrativo, então ele construiu uma relação entre pai e filho, outro tabu enfrentado pela sociedade, tratando-a como uma história de amor e ódio. Como inspiração para esse relacionamento, ele citou o livro Carta ao Pai, de Franz Kafka.[51]

A primeira versão do filme foi escrita em 1997 durante uma viagem com o Cine Mambembe. Naquele período, Bodanzky e Bolognesi viajavam pelo interior do Brasil projetando curtas brasileiros em praças e escolas. Essa viagem ajudou Bolognesi a escrever a primeira versão do filme. Depois da viagem, o roteiro foi comentado por Bodanzky e recebeu críticas fundamentais de alguns colaboradores. Durante dois anos, o roteiro foi reescrito cinco vezes. Por último e mais importante, poucos meses antes das filmagens, Carrano leu e aprovou o roteiro.[52][53]

Preparação do elenco e montagem

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Sérgio Penna foi quem fez a preparação do elenco do filme. Durante a preparação dos atores, foi feito um trabalho de desconstrução da figura superficial e preconceituosa dos lugares e das pessoas que habitam os hospitais psiquiátricos. O desafio era construir uma imagem na qual pudesse revelar aspectos mais humanos e profundos. Os atores fizeram um estudo profundo sobre esse universo quase desconhecido.[54] Quando questionada em uma entrevista da IstoÉ Gente, se foi difícil trabalhar com o ator Rodrigo Santoro, Bodanzky respondeu:

Rodrigo Santoro foi convidado pela diretora para o papel por indicação de Paulo Autran, que atuou com ele em Hilda Furacão.[49] Durante a sua pesquisa para o personagem, Santoro visitou instituições psiquiátricas, observando os pacientes que ali se encontravam.[56] Atores que são usuários de serviço de saúde mental, integrantes do Grupo Pazzo a Pazzo e da Cia. Teatral Ueinzz, ambos dirigidos por Penna, também participaram, como convidados. Eles interpretaram personagens que não estão no ambiente manicomial; isso foi uma opção da preparação de elenco e da direção.[54] Ele ainda leu o livro de Carrano e assistiu produções sobre o tema, entre elas Um Estranho no Ninho, de Miloš Forman.[49]

Bolognesi e Bodanzky ficaram, durante quatro meses, montando o filme em Trieste, na Itália, com a dupla de montadores italianos Jacopo Quadri e Letizia Caudullo. Eles então ordenaram o material e fizeram o primeiro corte como o roteiro indicava e foi filmado. De acordo com Bolognesi, o filme foi "sonhado, escrito e filmado" para os brasileiros. Para isso, eles precisavam ouvir as opiniões dos brasileiros, e assim retornam ao Brasil.[57] Depois de algumas sessões no Brasil, eles descobriram que o filme não dava certo. De volta para a Itália, eles reescrevem uma possível estrutura para o filme, e no avião nasce o Bicho de Sete Cabeças. O que eles fizeram foi concentrar o foco narrativo em Neto, retirando algumas histórias e personagens paralelas, e também trabalhar mais na relação entre pai e filho.[57] Finalmente, ainda faltava convencer o produtor italiano e os montadores. De um grande debate sobre as mudanças propostas, nasceu a versão final do filme.[58]

Bicho de Sete Cabeças
Bicho de Sete Cabeças
Trilha sonora de André Abujamra
Lançamento 2001
Gênero(s) Vários
Gravadora(s) BMG

No período em que Bolognesi estava reescrevendo o seu roteiro, Bodanzky sugeriu que ele ouvisse Arnaldo Antunes. De acordo com o roteirista, ele encontrou algumas canções que pareciam ter sido compostas para o filme.[52] A trilha sonora foi composta por André Abujamra que chegou a usar o recurso de distorcer alguns sons do próprio filme para compor sua trilha. Fazem parte da trilha sonora, além de Antunes e Abujamra, os cantores Décio Rocha, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Zeca Baleiro, a banda de rap Zona Proibida e a banda de punk rock Infierno.[59] A trilha sonora de Bicho de Sete Cabeças é composta pelas seguintes músicas:[60]

N.º TítuloArtista Duração
1. "Fora de Si"  Arnaldo Antunes  
2. "O Caminho das Pedras"  Zona Proibida  
3. "Satélites"  Infierno  
4. "Abertura e Corredor"  André Abujamra  
5. "O Buraco do Espelho"  Arnaldo Antunes  
6. "Eletrochoque e Fuga"  André Abujamra  
7. "Carnaval"  Arnaldo Antunes  
8. "No Ponto de Ônibus"  André Abujamra  
9. "E Só"  Arnaldo Antunes  
10. "Refeitório"  André Abujamra  
11. "Seu Olhar"  Arnaldo Antunes  
12. "Janela de Apartamento II"  Décio Rocha  
13. "Bicho de Sete Cabeças II"  Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Zeca Baleiro  
14. "O Nome Disso"  Arnaldo Antunes (remix André Abujamra)  

Lançamento e prêmios

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Bicho de Sete Cabeças teve sua sessão de estreia em outubro de 2000, quando foi selecionado e exibido no Festival do Rio. No mesmo mês, foi o único filme brasileiro escolhido pelo público como um dos 12 melhores filmes da Mostra de Cinema Internacional de São Paulo. O filme participou de vários festivais como o Festival de Brasília e o Festival do Recife, sendo o mais premiado em ambos.[41][61] No início de 2001, diante de um público de 2 mil pessoas, o filme foi exibido em Praça Pública no Festival de Tiradentes, em Minas Gerais, conseguindo uma ótima recepção do público, que conferiu em 89% de ótimo e 11% de bom do voto popular.[61] Bicho de Sete Cabeças ficou em cartaz em circuito comercial em 22 de junho de 2001.[62] De acordo com o Projeta Brasil Cinemark, o filme foi a segunda melhor bilheteria do evento de 2001 e foi visto por 21.268 pessoas. A primeira posição pertence a A Partilha, uma comédia de Daniel Filho, com 24.899 espectadores.[63] No Brasil, o filme foi visto por cerca de 401.565 espectadores nos cinemas, arrecadando 2.184.514 de reais,[64] e quando teve sua exibição na Rede Globo, atingiu média de 37 pontos de audiência.[39][65]

A partir de agosto de 2001, o filme começaria a participar de festivais internacionais. A primeira exibição de Bicho de Sete Cabeças fora do Brasil aconteceu no 54º Festival de Locarno, na Suíça. Foi muito bem recebido e aplaudido pelo público em vários outros festivais internacionais, incluindo festivais na Alemanha e no Canadá.[61] Ganhou o prêmio de "Melhor Filme" no 10º Festival Biarritz Amérique Latine e no Festival de Creteil, na França.[39][66]

O filme também foi um dos grandes vencedores do 1º Grande Prêmio Cinema Brasil levando para casa sete prêmios, dentre eles o de "Melhor Filme", o de "Melhor Ator" para Rodrigo Santoro, "Melhor Direção", "Melhor Roteiro" e de "Melhor Ator Coadjuvante" para Othon Bastos.[67] Santoro ganhou muitos prêmios e foi elogiado pela sua atuação como Neto, e Laís Bodanzky também recebeu vários prêmios pela sua direção do filme.[39][68] Bicho de Sete Cabeças foi pré-selecionado para a 74ª edição do Óscar, em 2002, para concorrer na categoria "Melhor Filme Estrangeiro".[69][70]

Recepção crítica

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Os atores e a produção receberam em sua maioria críticas positivas por parte dos críticos especializados. Ruy Gardnier elogia o filme escrevendo que ele "seduz por uma fluência de narrativa e um jogo de câmera raros no cinema brasileiro, por interpretações excelentes dos protagonistas e dos coadjuvantes..."[5] Marcelo Forlani, do site Omelete, elogiou o ator Rodrigo Santoro por sua atuação que, de acordo com ele, "beira a perfeição", o ator Gero Camilo e todos os demais internos dos manicômios, citando que "é difícil acreditar que os atores ali não sejam loucos de verdade". Também destacou a fotografia e a edição de som, na qual seria outro fator que diferencia Bicho de Sete Cabeças dos outros filmes.[71] Beth Andalaft, do site Universo HQ, também elogiou a atuação de Camilo, colocando em sua análise que ele "rouba a cena, dando um show de interpretação", e os outros atores do filme, escrevendo que eles "estão em seus melhores desempenhos".[72] Alessandro Gianni, da IstoÉ Gente, elogiou a "interpretação surpreendente" de Rodrigo Santoro e a trilha sonora.[7]

O jornal Folha de S. Paulo definiu o filme como "um retrato do inferno em movimento", dizendo que assistir "um retrato pintado com tanta paixão, competência e integridade" é "ao mesmo tempo, um tormento e um prazer." A Folha comentou que todas as escolhas feitas por Bodanzky "são certeiras" e elogiou o tom documental que "amplifica a contundência da história" e os diálogos por serem naturais e cotidianos, notando que "a ausência de proselitismo facilita a entrada do espectador no universo dos personagens." A música de Abujamra também foi elogiada por conseguir condensar "a rebeldia e o lirismo do início da vida adulta."[73] Ivan Claudio, da IstoÉ Gente, elogiou todo o elenco, inclusive os figurantes, que "[v]agando como zumbis pelos pátios do manicômio, [...] contribuem para o clima realista do filme", porém destacou a interpretação de Rodrigo Santoro, afirmando que todo o esforço conjunto "de nada valeria" sem a sua atuação.[49] Escrevendo para a mesma revista, Paula Alzugaray também elogiou a trilha sonora, dizendo que ela "transpira vigor e qualidade do princípio ao fim." Ela comentou que a trilha incidental combinada com as canções de Arnaldo Antunes "formam um conjunto ao mesmo tempo harmonioso e explosivo."[74]

Questões sociais

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O filme aborda questões sociais como os abusos sofridos pelos pacientes dos hospitais psiquiátricos cometidos pelos médicos e funcionários desses locais, a questão das drogas e a relação problemática entre pai e filho. Essas abordagens renderam críticas positivas sobre o filme e fizeram com que as pessoas repensassem antes de internar seus filhos em alguma instituição.[56] Carrano se refere às instituições como "chiqueiros psiquiátricos", e quando perguntado a ele se Laís Bodanzky fizera uma adaptação fiel de seu texto, ele respondeu:

Em suas análises, os críticos trataram de comentar sobre a importante temática social, econômica e cultural abordada no filme, como a falta de informação sobre os centros de internação e a falta de diálogo entre as famílias.[76][77] Segundo a análise de Sandra Etges, membro analista do CEL-RS, Instituição Psicanalítica do Rio Grande do Sul:[77]

O crítico de cinema Ruy Gardnier escreveu em sua análise que o filme "foca claramente na questão manicomial e tenta denunciar como uma prática 'científica' dá resultados incompatíveis com aquilo que ela prega". Também observou que o filme é quase em primeira pessoa, "que denuncia uma ocorrência, mas jamais tenta capturar todas as complexidades que giram em torno das práticas de saber psiquiátricas que estão por trás dos manicômios, muito menos investigar a natureza da loucura".[5]

Ludmila Carvalho, do jornal A Tarde, escreveu que "com um olhar franco e urbano sobre a juventude, Bicho de Sete Cabeças consegue ser tão intimista quanto Garota, Interrompida e ao mesmo tempo denunciar a situação calamitosa a que chegou o tratamento da saúde mental neste país", adicionando que "questões como as sequelas causadas pelos remédios e sessões de eletrochoque e a impossibilidade de readaptação à sociedade são introduzidas no filme de maneira sutil e inteligente".[78]

  • Bodanzky, Laís; Bolognesi, Luiz. 2002. Bicho de Sete Cabeças. Editora 34. 143 páginas. ISBN 857326229X
  • Laís Bodanzky (diretora) (2001). Bicho de Sete Cabeças (DVD). Brasil: Columbia TriStar, RioFilme 

Notas e referências

Notas

  1. Nos créditos do filme, o nome do personagem aparece escrito "Sr. Wilson",[42] porém ele é referido pelo policial que liga para a sua casa como "Seu Wilson", mesmo nome pelo qual é chamado por Luiz Bolognesi no livro Bicho de Sete Cabeças em que revela fatos sobre a produção do filme.[30][43]
  2. Nos créditos do filme, o nome do personagem aparece escrito "Biu",[44] porém ele é referido tanto por Laís Bodanzky quanto por Luiz Bolognesi como "Bil" no livro Bicho de Sete Cabeças em que revela fatos sobre a produção do filme.[45][46]

Referências

  1. a b c d «Bicho de Sete Cabeças». Cinemateca Brasileira. Consultado em 12 de julho de 2013 
  2. a b «Bicho de Sete Cabeças: Co-produção». Consultado em 29 de março de 2011 
  3. «Duas Cabeças». A Tarde. 1 de agosto de 2001. Consultado em 2 de abril de 2011 
  4. André Dib (27 de novembro de 2015). «Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros». Abraccine. abraccine.org. Consultado em 26 de outubro de 2016 
  5. a b c d e f Gardnier, Ruy. «Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky». Contra Campo. Consultado em 2 de abril de 2011 
  6. Bodanzky, Bolognesi p. 61
  7. a b Giannini, Alessandro (25 de junho de 2001). «Bicho de Sete Cabeças». IstoÉ Gente. Consultado em 12 de julho de 2013 
  8. Bodanzky, Bolognesi p. 51
  9. Bodanzky, Bolognesi p. 52
  10. Bodanzky, 12:25–15:50
  11. Bodanzky, 20:00–20:22
  12. a b c Bodanzky, 39:41–42:53
  13. Bodanzky, 20:58
  14. Bodanzky, Bolognesi p. 59
  15. Bodanzky, Bolognesi p. 64
  16. Bodanzky, 25:06
  17. Bodanzky, 28:37–30:08
  18. Bodanzky, 32:51
  19. Bodanzky, 32:25
  20. Bodanzky, 35:10–35:21
  21. Bodanzky, 36:20–36:27
  22. Bodanzky, 35:54
  23. Bodanzky, 47:08–50:30
  24. Bodanzky, 52:05–52:45
  25. Bodanzky, 53:19–54:37
  26. Bodanzky, 56:54
  27. Bodanzky, 59:50
  28. Bodanzky, 61:00
  29. Bodanzky, Bolognesi p. 115
  30. a b Bodanzky, 62:53–64:31
  31. Bodanzky, 66:17–66:23
  32. Bodanzky, 66:56–67:19
  33. Bodanzky, 68:42
  34. Bodanzky, 70:25
  35. Bodanzky, 72:33–73:24
  36. Bodanzky, 74:29–76:57
  37. Bodanzky, 77:12
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  43. a b Bodanzky, Bolognesi p. 11
  44. Bodanzky, 78:19
  45. a b c Bodanzky, Bolognesi p. 8
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  47. a b c d Bodanzky, Bolognesi p. 7
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  51. Bodanzky, Bolognesi p. 13
  52. a b Bodanzky, Bolognesi p. 14-15
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