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Estandarte

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Estandarte (desambiguação).
Estandarte real de Portugal, s�culos XIX e XX

O estandarte - no �mbito da her�ldica e da vexilologia - constitui um tipo de bandeira.

Na her�ldica, o termo carateriza uma bandeira pelo seu formato espec�fico. Conforme a tradi��o her�ldica, pode referir-se a um tipo de bandeira de formato quadrado ou a um tipo de formato triangular e alongado. Em vexilologia, o termo � usado mais ambiguamente, aplicando-se a uma diversidade de bandeiras, caracterizando-as mais pelo seu tipo de uso, independentemente dos respetivos formatos. Aplica-se assim frequentemente �s bandeiras usadas como distintivos pessoais de chefes de estado, bem como a bandeiras port�teis usadas por unidades militares, institui��es religiosas e organiza��es civis em desfiles e outros eventos cerimoniais.[1][2]

O termo "estandarte" � ocasionalmente tamb�m usado para designar certos tipos de vexil�ides.[3][4]

Em l�ngua portuguesa, a palavra "estandarte" tem origem na antiga palavra francesa estendard (que entretanto evoluiu para �tendard no franc�s moderno). Por sua vez, estendard derivou da palavra fr�ncica standhard - composta pelos elementos stand (ficar) e hard (firme) - que significava assim "est�vel", "fixo" ou "inabal�vel". De observar que este termo deu tamb�m origem � palavra inglesa standard que, al�m de significar "estandarte", tamb�m passou a significar "padr�o" ou "norma", tendo entrado no l�xico da l�ngua portuguesa com esta �ltima significa��o.[5]

O termo "estandarte" aparece inicialmente referido sob v�rias variantes no franc�s antigo, tais como estendard, estandard ou standart, sendo ocasionalmente latinizado para formas como standardum ou standarum. Uma das primeiras apari��es do termo ocorre na Can��o de Rolando, escrita no s�culo XI, tendo como tema a Batalha de Roncesvales travada em 778 dC. O autor da obra chama estandart (estandarte) a uma ins�gnia de Maom� e Termagante (divindade m�tica que os crist�os medievais acreditavam ser venerada pelos sarracenos), a qual era levada perante o emir Baligant. O texto n�o explica contudo como seria esta ins�gnia, mas indicia que a mesma seria um vexiloide e n�o uma bandeira propriamente dita, uma vez que na obra as bandeiras aparecem referidas como enseigne (signa) or gunfanun (gonfal�o). A inspira��o do autor poder� ter vindo de uma ins�gnia sarracena capturada durante a contempor�nea Primeira Cruzada. Assim, no ver�o de 1099 e durante os combates para tomar Jerusal�m, Roberto II da Normandia teria tomado aos sarracenos um objeto ent�o referido como "estandarte", que consistia numa longa haste coberta de prata no topo da qual assentava uma bola ou ma�� dourada. Segundo Alberto de Aquisgr�o, cronista da Primeira Cruzada, este tipo de estandarte seria levado adiante dos ex�rcitos sarracenos, sendo em redor do qual que se reuniria o escol das suas tropas.[4]

Batalha de Legnano, travada em 1176, entre a Liga Lombarda e o imperador Frederico Barbarossa, vendo-se em segundo plano o carroccio (vers�o italiana do estandarte) carregado de tropas e arvorando uma grande bandeira.

Uma segunda forma do uso do termo "estandarte" ir� aparecer no s�culo XII, referindo-se agora ao engenho - j� ent�o utilizado pelos italianos e por eles referido como carroccio - que consistia num grande carro de guerra de quatro rodas, no qual assentava um grande poste, semelhante a um mastro de navio, no qual eram arvoradas uma ou mais bandeiras. Estes engenhos tinham inicialmente uma fun��o t�tica nos campos de batalha, servindo como redutos de campanha, onde se posicionavam os comandantes dos ex�rcitos e � volta do quais se reuniam os n�cleos principais das tropas para combater o inimigo. A sua import�ncia t�tica levou a que lhes fosse tamb�m uma associada uma forte import�ncia simb�lica. Como tal, para al�m de arvorarem as bandeiras dos respetivos soberanos, ostentavam frequentemente outras ins�gnias estatais ou religiosas. Um engenho deste tipo, tendo arvorada a bandeira de Ricardo I de Inglaterra, aparece referido como "estandarte" na descri��o do seu emprego pelos cruzados num combate com os sarracenos, perto do Acre, no final de agosto de 1191. O uso deste tipo de engenhos estaria algo generalizado nos ex�rcitos europeus da �poca. A Batalha do Estandarte, travada entre ingleses e escoceses em 1138, perto da localidade inglesa de Northallerton, ficou conhecida por este nome justamente por nela se ter destacado o uso de um engenho como aquele, no qual estariam arvoradas tr�s bandeiras. Tipicamente, as bandeiras arvoradas nos mastros dos estandartes eram geralmente semelhantes �s fl�mulas arvoradas nos topes dos mastros dos navios, sendo assim de formato longo e triangular, terminando em v�rias pontas.[4]

A designa��o "estandarte" aplicada inicialmente ao engenho que servia de suporte �s bandeiras acabou por transferir-se para as pr�prias bandeiras nele arvoradas. Como estas representavam normalmente a entidade � qual as tropas deviam lealdade, no s�culo XIII, o termo "estandarte" come�a a ser utilizado para designar as principais bandeiras de monarcas, bem como de cidades-estado e de outras entidades dotadas de soberania.

Na regi�o europeia de influ�ncia anglo-normanda, compreendendo parte da Fran�a, Flandres e Gr�-Bretanha, o termo "estandarte" continuou a ser usado para designar o formato espec�fico de bandeira que era tipicamente arvorado nos antigos engenhos com aquele nome, referindo-se portanto a uma longa bandeira triangular terminando em v�rias pontas.[4]

No �mbito da her�ldica, o termo "estandarte" caracteriza uma bandeira pelo seu formato espec�fico, podendo usar-se tanto para designar uma bandeira material contendo emblemas her�ldicos, como para designar uma figura na forma daquela, constante do ordenamento de um bras�o. As tradi��es her�ldicas ib�rica e galo-brit�nica usam contudo o mesmo termo para designar formatos distintos.

Her�ldica galo-brit�nica

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Na tradi��o her�ldica galo-brit�nica, surgida na regi�o que compreende a Flandres, o Norte de Fran�a e a Gr�-Bretanha, o estandarte constitui uma bandeira longa e estreita, cuja largura vai diminuindo do lado da haste para lado do batente, terminando geralmente em duas pontas arredondadas. Em regra, o seu campo � das cores do libr� do titular, nelas assentando as empresas ou emblemas her�ldicos deste, incluindo o respetivo mote. Em contraste com a bandeira armorial e outras bandeiras her�ldicas - que t�m como objetivo a exibi��o de bras�es de armas -, o estandarte tem como objetivo principal exibir as empresas pessoais e as cores do libr� do seu titular.

Estandarte her�ldico da fam�lia Stafford, Inglaterra

Esta forma de estandarte teria surgido no s�culo XIV, em Fran�a, quando do aparecimento dos ex�rcitos profissionais em complemento �s j� existentes hostes feudais. A bandeira armorial com as armas familiares do senhor feudal servia para guiar a sua hoste no campo de batalha. N�o era contudo apropriada para guiar as tropas profissionais, uma vez que estas que n�o eram constitu�das por vassalo do senhor feudal. Foi portanto necess�rio utilizar uma outra signa para guiar estas tropas, aparecendo assim o estandarte, segundo o conceito galo-brit�nico. Enquanto que a bandeira armorial era quadrada e continha as armas familiares, o estandarte era triangular e alongado, terminando geralmente em duas pontas e exibindo os sinais pessoais - e n�o familiares - do titular, nomeadamente as cores do seu libr�, as suas empresas e os seus motes.[6]

O estandarte de combate do Rei de Fran�a tinha designa��o particular de "auriflama", sendo por ele levado nas suas campanhas militares, durante a Idade M�dia.[6]

Na Inglaterra medieval, o estandarte era maior que as outras bandeiras e o seu cumprimento variava de acordo com grau nobiliárquico do portador. Geralmente, tinha do lado da haste a cruz de São Jorge e o restante campo dividido dois esmaltes dispostos em faixa, correspondentes às cores do libré do detentor, sobre o qual assentavam as suas empresas heráldicas e listeis com os motes. Na Inglaterra de hoje, qualquer titular de armas a quem tenha sido também concedida uma empresa heráldica tem direito ao uso de um estandarte. Na Escócia, contudo, o uso de estandarte está sujeito a uma concessão especial e apenas dentro de certas condições. O comprimento dos estandartes escoceses varia entre 10 pés (3 m) e 21 pés (6,4 m) conforme o grau do detentor.[7]

Heráldica ibérica

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Castelo de Almeida no início do século XVI, tendo arvorado o estandarte pessoal de D. Manuel I de Portugal (longa bandeira triangular) e a bandeira real (que era o antigo "estandarte", segundo conceito que vigorava no século XIII).

No âmbito da tradição heráldica surgida nos reinos cristãos medievais da Península Ibérica, o estandarte constituía uma bandeira de formato quadrado.

Uma das mais antigas definições do que era então um estandarte aparece nas Sete Partidas, uma compilação das leis e costumes seguidos então na Península Ibérica, codificadas a mando do rei Afonso X de Castela (1252-1284). No conjunto de leis que se referem à guerra, as Sete Partidas incluem talvez a mais antiga regulamentação vexilológica conhecida, a qual refletiria a prática ibérica nesta área durante o século XIII. O que são hoje genericamente designadas como "bandeiras" eram então referidas como "signas", estando classificadas nas Sete Partidas como subdivididas em signas maiores e em pendões. O estandarte aparece como sendo a principal das signas maiores, com um formato quadrado e sem farpas. O seu uso estava reservado aos imperadores e aos reis, sendo que o almirante-mor deveria arvorar o estandarte do seu rei na galé em que embarcasse.[8][6][9][10]

Por volta do século XV, a designação das diversas signas torna-se aparentemente mais ambígua, aparecendo o uso do termo "estandarte" também com a mesma aceção que a usada na heráldica galo-britânica, designando assim uma signa longa e triangular. Por outro lado, o termo "bandeira" - que nas Sete Partidas se aplicava apenas a uma signa específica de formato retangular para uso dos chefes de 10 a 50 cavaleiros - passou a ser usado de forma mais generalista, aplicando-se também ao estandarte real de formato quadrado, que passa frequentemente a ser referido como "bandeira real".[6][9][10]

Nas heráldicas portuguesa, espanhola e italiana, o termo "estandarte" continua ainda hoje a ser ocasionalmente usado como termo alternativo para designar uma bandeira quadrada empregue como figura do escudo.[11][12]

No âmbito da vexilologia - cuja terminologia ainda não se encontra tão bem definida como a da heráldica -, o termo "estandarte" é utilizado de forma mais ambígua, podendo referir-se a várias realidades distintas. O termo é geralmente usado para classificar uma bandeira mais pela sua função e não tanto pelo seu formato. São assim geralmente referidas como "estandartes" as bandeiras distintivas dos chefes de estado e as bandeiras cerimoniais e processionais de unidades militares, municípios, instituições religiosas e organizações civis. O termo é também usado na vexilologia para designar determinados vexilóides.

Na década de 1960, o heraldista F. P. de Almeida Langhans sugeriu um sistema de nomenclatura e padronização em língua portuguesa para os diversos tipos de bandeiras, no qual o termo "estandarte" designaria uma bandeira rica, de formato quadrado, destinada a ser suspensa numa haste de lança, para ser transportada à mão. Seria feito de tecidos e fios preciosos, no qual os metais heráldicos (ouro e prata) se apresentariam nos seus tons originais (e não em amarelo e branco, como nas bandeiras para arvorar em mastros e adriças). Os seus lados seriam reforçados por um cordão dos esmaltes dominantes no pano, servindo as extremidades deste - que terminariam em borlas - para segurar e suspender o estandarte à sua haste. O estandarte teria 1 m de lado como dimensões de base, as quais constituíam a unidade a partir da qual poderiam ser concebidas outras dimensões e formas de panos. O uso desta nomenclatura teve alguma generalização em Portugal, nomeadamente com o uso do termo "estandarte" para designar as bandeiras de desfile de unidades militares, municípios e de outras instituições e ordenando-se frequentemente as mesmas seguindo o padrão proposto por Almeida Langhans.[1]

Estandartes da antiguidade

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Lábaro representado numa moeda romana da época de Constantino

Os estandartes da antiguidade consistiam maioritariamente em signas compostas por um emblema colocado no topo de uma haste, não dispondo de qualquer pano, em contraste com as modernas bandeiras. Constituíam portanto o que na vexilologia atual são classificados como "vexilóides". Os emblemas escolhidos para rematar as hastes eram originalmente simples, mas tornaram-se cada vez mais elaborados, consistindo frequentemente em imagens ou pequenas esculturas de animais.[3]

O Exército da Roma Antiga desenvolveu um sistema de signas cuja principal se tornou a águia, usada como estandarte das legiões, tornando-se mais tarde símbolo do próprio Império Romano. Como signa das tropas de cavalaria e de outras unidades auxiliares, os romanos adotaram o vexilo, que consistia num pequeno estandarte de pano pendente de uma vareta horizontal fixa transversalmente à haste. Pensa-se que os atuais estandartes - sobretudo os armados em verga - são originários dos antigos vexilos romanos.[3]

O lábaro era o estandarte especial que o imperador Constantino passou a usar após a sua vitória sobre Maxêncio em Ponte Mílvia. Tinha o formato de um vexilo, caracterizando-se por conter as letras gregas Chi (χ) e Rho (ρ), formando o monograma de Cristo (ΧΡΙΣΤΟΣ ou Χριστός em grego).[13]

Apesar dos vexilóides acima descritos serem hoje retrospetivamente referidos como "estandartes", não o eram na própria época em que foram usados. O primeiro vexilóide referido como "estandarte" na própria época em que existiu foi uma signa sarracena observada pelos cruzados cristãos do século XI. Esta signa seria constituída por uma haste no topo da qual assentava uma bola dourada e seria usada para guiar os exércitos sarracenos.[4]

Estandartes militares

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Estandarte do 1� Regimento de Cavalaria do Ex�rcito Brasileiro, 1850

Nos ex�rcitos europeus do s�culo XVII, generalizou-se o uso do termo "estandarte" para designar as bandeiras das suas unidades de cavalaria. Os estandartes de cavalaria distinguiam-se das bandeiras de infantaria por serem mais pequenos e leves, a fim de poderem ser facilmente transport�veis a cavalo. Refletindo o estatuto mais exclusivo e elitista da cavalaria, os seus estandartes eram geralmente mais elaborados, bordados e feitos de tecidos mais ricos que as bandeiras da infantaria. Conforme a organiza��o de cada ex�rcito, existia em regra um estandarte por cada companhia ou esquadr�o de cavalaria. Em alguns ex�rcitos, as unidades de cavalaria ligeira e de drag�es tinham modelos espec�ficos de estandartes designados, respetivamente, "cornetas" e "gui�es".

Em alguns pa�ses, para al�m das unidades de cavalaria, tamb�m as guardas reais e outras unidades sob patronato especial do monarca tinham o privil�gio de dispor de bandeiras de honra representativas do seu soberano que eram igualmente designadas "estandartes". Exemplos de unidades com esse privil�gio s�o os regimentos de guardas a p� brit�nicos e a antiga Companhia dos Guardas-Marinhas portuguesa.[3][14]

A tradi��o do uso de estandartes pelas unidades montadas a cavalo ou, modernamente, em viaturas mec�nicas - em contraponto �s bandeiras de maiores dimens�es usadas pelas unidades apeadas - manteve-se em grande parte dos ex�rcitos at� ao s�culo XX. No Ex�rcito Portugu�s por exemplo, existia um estandarte em cada um dos quatro esquadr�es de um regimento de cavalaria, cuja cor de fundo (azul, escarlate, amarelo ou branco) identificava o esquadr�o, tendo ao centro as armas reais. A partir de 1863, passou a existir um �nico estandarte em cada regimento considerado montado (cavalaria, artilharia a cavalo e mais tarde aeron�utica) com as cores da bandeira nacional, mantendo as armas nacionais ao centro. Na d�cada de 1960, acabou a distin��o tradicional entre os estandartes e as bandeiras de unidades a p�, passando a ser todos id�nticos e genericamente designados "estandartes nacionais". Durante o per�odo do Imp�rio, as unidades de cavalaria do Ex�rcito Brasileiro usavam tamb�m estandartes de menores dimens�es que as bandeiras usadas pelas unidades de infantaria, cujo desenho se baseava no da bandeira nacional.[15]

A distin��o entre estandartes de menores dimens�es para as unidades montadas e as bandeiras para as unidades a p� � ainda preservada por tradi��o em bastantes ex�rcitos, incluindo os da B�lgica, Dinamarca, Fran�a, It�lia, M�xico, Pa�ses Baixos e Reino Unido.[16][2]

Nas for�as militares e paramilitares atuais de muitos pa�ses, designam-se "estandartes" as bandeiras port�teis cerimoniais das v�rias unidades e outros �rg�os militares. Estas podem ser a forma port�til da respetiva bandeira nacional ou uma bandeira cerimonial com a simbologia privativa de cada unidade. Nas For�as Armadas do Brasil, algumas organiza��es militares disp�em de um estandarte hist�rico normalmente contendo as cores e s�mbolos her�ldicos das mesmas. Nas For�as Armadas Portuguesas, cada unidade disp�e de um estandarte nacional (semelhante � bandeira nacional) e de um estandarte her�ldico (com a simbologia her�ldica particular da unidade).[17]

Estandartes de chefes de estado

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Estandarte gr�o-ducal do Luxemburgo, hasteado na viatura oficial do Gr�o-Duque

As bandeiras distintivas pessoais dos chefes de estado s�o tradicionalmente conhecidas como "estandartes". Esta designa��o ocorre desde a Idade M�dia, altura em que o estandarte era a signa maior de uso exclusivo de um rei ou imperador. Como o tempo, os estandartes dos diversos monarcas medievais acabaram por ser utilizados num �mbito mais alargado, deixando de representar meramente a pessoa do rei e a representar a totalidade do seu reino, constituindo portanto os percursores do que viriam a ser as bandeiras nacionais. Sendo inicialmente bandeiras armoriais (bandeiras cujo pano � totalmente ocupado pela quadratura do campo do respetivo escudo de armas), a partir de final do s�culo XVI, os estandartes tendem a continuar a conter as armas reais, mas agora ocupando apenas o centro do pano e contidas dentro de um escudo no seu formato original, sobre o qual assentava a coroa real.[8][18]

Conforme o t�tulo e a natureza dos respetivos chefes de estado, os seus estandartes podem ser mais especificamente referidos por designa��es particulares, tais como "estandartes imperiais", "estandartes reais", "estandartes presidenciais" ou outras. Em alguns casos, a bandeira do chefe de estado � referida como "estandarte" meramente por uma quest�o de uso e tradi��o, uma vez que n�o � essa a sua designa��o formal. � o caso do chamado "estandarte real" do Reino Unido, o qual - de acordo com as regras da her�ldica brit�nica - n�o � tecnicamente um estandarte mas sim uma bandeira armorial. Em algumas monarquias, existem tamb�m estandartes para outros membros da fam�lia real, para al�m do pr�prio monarca.

O estandarte de um chefe de estado serve para ser arvorado na sua resid�ncia oficial ou em outros locais onde o mesmo se encontre. Se o chefe de estado se encontrar a bordo de um navio, o seu estandarte � normalmente arvorado no tope do mastro principal. Uma vers�o reduzida do mesmo � hasteada numa pequena haste colocada na parte frontal de uma viatura oficial em que chefe de estado seja transportado.

At� ao s�culo XIX, nas marinhas de diversos estados mantinha-se o costume de origem medieval do oficial general comandante de uma armada ou frota naval ter o privil�gio de arvorar o estandarte real no navio em que embarcasse, mesmo que o soberano n�o se encontrasse a bordo. Este privil�gio fez com que, no �mbito naval, o estandarte real passasse a ser considerado como a ins�gnia de um almirante ou outro alto comandante naval, assinalando o seu navio-almirante.[8][19][20]

Estandartes religiosos e civis

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O termo "estandarte" � tamb�m usado como designa��o generalista das bandeiras cerimoniais de corpora��es e comunidades religiosas (ordens religiosas, institutos seculares, par�quias, confrarias, etc.) e civis (munic�pios, academias, associa��es, sindicatos, clubes, etc.), que se destinam a ser transportadas � m�o em cortejos, desfiles, prociss�es, solenidades e outros eventos.

Estandartes cat�licos, exibidos na prociss�o da Assun��o de Maria em Paris.

Os estandartes processionais das institui��es e comunidades religiosas cat�licas s�o tipicamente armados em verga, sendo portanto suspensos verticalmente de uma vareta horizontal que forma uma cruz com a haste vertical. O seu pano � geralmente rematado com franjas, sendo frequentemente farpado, com duas ou mais pontas das quais pendem borlas. Por norma, s�o feitos de tecidos ricos (seda ou cetim) sendo as inscri��es e outros motivos decorativos bordados no pano a fio de ouro ou de prata. No centro do anverso do pano est� pintada a imagem do seu orago ou ocasionalmente o emblema da institui��o. Por vezes, no reverso do pano est� colocado um outro emblema. Como � comum na vexilologia, n�o existe uma designa��o padronizada para estes estandartes, os quais s�o frequentemente referidos simplesmente como "bandeiras" ou por outras designa��es. Os estandartes armados em verga s�o frequentemente referidos como "pend�es" ou ocasionalmente como "vexilos" (uma vez que s�o semelhantes e descentes diretos dos antigos vexilos romanos).

No passado, os estandartes usados pelas corpora��es civis seguiam um padr�o semelhante aos estandartes processionais das institui��es cat�licas, sendo nomeadamente armados em verga. Hoje em dia, contudo, tendem a ser bandeiras quadradas ou retangulares, suspensas diretamente da haste vertical. Dada a diversidade de corpora��es civis, existe uma correspondente diversidade de modelos de estandartes em uso pelas mesmas. Em Portugal, o modelo dos estandartes a usar pelos munic�pios, freguesias e pessoas coletivas de utilidade p�blica administrativa est� definido por lei. Os estandartes destas institui��es ordenam-se de forma semelhante �s respetivas bandeiras para arvorar em mastros e adri�as, mas s�o de formato quadrangular com a medida fixa de 1 metro de lado, contendo sempre as armas do titular ao centro. Devem ser feitos de tecido de seda, bordados e debruados por um cordão, dos esmaltes heráldicos dominantes do brasão do titular e cujas extremidades são rematadas por borlas, servindo para dar laçadas na haste. A haste é de metal dourado e dela se projeta uma varinha horizontal que serve para manter o estandarte permanentemente desfraldado. O estandarte envia na haste por uma bainha denticulada e na vareta horizontal por uma bainha continua.[21]

Referências

  1. a b LANGHANS, F. P. de Almeida, "Estandartes, Bandeiras, Flâmulas e Galhardetes", Heráldica, Ciência de Temas Vivos (Volume II), Lisboa: Gabinete de Heráldica Corporativa, Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, 1966
  2. a b PEREIRA SALLES, E.A., "Apontamentos acerca das Bandeiras e Estandartes regimentais do Exército e da Armada, e ainda de outras bandeiras militares", Elucidário Nobiliárquico, Vol. 2, n.º 12, dezembro de 1929
  3. a b c d WISE, Terence, ROSIGNOLI, Guido, Military Flags of the World: 1618-1900, New York: Arco Publishing Company, Inc., 1978
  4. a b c d e PERRIN, W. G., VAUGHANS, Herbert S., British Flags: Their early history and their development at sea with an account of the origin of the flag as a national device, Cambridge: University Press, 1922
  5. Dicionário da Língua Portuguesa, Porto: Porto Editora, 2011
  6. a b c d BRUN, Pedro, GENTIL, Juan, "Tratado III - Capítulo XXIX, Nobiliario, Sevilha, 1492
  7. BOUTELL, Charles, The Handbook to English Heraldry, Londres: Reeves & Turner, 1914
  8. a b c SOBRAL, José, "As Bandeiras nas Sete Partidas de Afonso X", Audaces, 2012
  9. a b DORNELAS, Afonso de, "Subsídios para o estudo das signas portuguesas", Elucidário nobiliarchico : revista de história e de arte, Vol. 2, n.º 4, abril de 1929
  10. a b SÃO PAYO, (D. António) Conde de, "A nomenclatura das signas medievais", Armas e Troféus : revista de História e de Arte, volume I, Lisboa, 1932
  11. BANDEIRA, Luís Stubbs Saldanha Monteiro, Vocabulário Heráldico, Lisboa: Edições Mama Sume, 1985
  12. GARCIA GARRAFA, Antonio & Arturo, "Capítulo XVI - Las banderas y estandartes", Enciclopedia heráldica y genealógica hispano-americana, tomo I, Madrid: Imprensa de Antonio Marzo, 1920
  13. QUINSON, Marie-Therese, Dicionário cultural do cristianismo, Edicões Loyola, 1999
  14. BREU, Guilherme Mattos de, "O estandarte que nunca se abateu", Revista de Villegagnon", Rio de Janeiro: Escola Naval, 2011
  15. RIBEIRO, Clóvis, "VII - Bandeiras militares", Brazões e Bandeiras do Brasil, São Paulo: São Paulo Editora, Lda., 1933
  16. SOBRAL, José, "Estandartes da cavalaria portuguesa (1853-1863)", Audaces, 2010
  17. PORTUGAL, Conselho da Revolução de, "Decreto-lei n.º 331/80 de 28 de agosto de 1980 - Regulamento de Continência e Honras Militares", Diário da República, 1980
  18. ZNAMIEROWSKI, Alfred, The Word Encyclopedia of Flags, Londres: Lorenz Books, 2004
  19. CASTELLO BRANCO, Antonio do Couto de, "Tratado XIV (Dos postos que há no mar)", Memórias Militares, Amsterdão : Caza de Miguel Diaz, 1719
  20. CÂMARA E VASCONCELOS, Francisco José da, "Tratado Nono - Capítulo LXVI (Da política das bandeiras)", Dieta Náutica e Militar, 1720
  21. PORTUGAL, Assembleia da República de, "Lei n.º 53/91, de 7 de agosto - Regula a heráldica autárquica e das pessoas colectivas de utilidade pública administrativa", Diário da República, 1991.