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Etnomusicologia

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Tocadores de balafon da Rep. de Camar�es, 1914. Uma variante do xilofone e da marimba

Etnomusicologia, tamb�m conhecida como antropologia da m�sica,[1] ou mais propriamente etnografia da m�sica,[2] � a ci�ncia que objetiva o estudo da m�sica em seu contexto cultural ou o estudo da m�sica como cultura.

Hist�ria da Disciplina

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A etnomusicologia surgiu no final do s�culo XIX e in�cio do s�culo XX, sob o nome de musicologia comparativa (Vergleichende Musikwissenschaft), sendo definida por Guido Adler (1885) [3] como o ramo da musicologia que teria como tarefa a compara��o das obras musicais, especialmente as can��es folcl�ricas dos v�rios povos da terra, para prop�sitos etnogr�ficos, e a classifica��o delas de acordo com suas v�rias formas. A mudan�a do nome � atribu�da a Jaap Kunst, no seu livro Musicologia, de 1950. [4]

� dito que o surgimento da etnomusicologia s� foi poss�vel gra�as � inven��o do fon�grafo, em 1877 por Thomas Edison. Nessa �poca era comum pesquisadores como Erich von Hornbostel ficarem em seus escrit�rios realizando transcri��es e escrevendo sobre culturas musicais as quais eles nunca conheceram pessoalmente, gra�as a grava��es realizadas por curiosos, turistas, ou pesquisadores de outras �reas. Posteriormente, sob forte influ�ncia antropol�gica, a pesquisa de campo tornou-se uma exig�ncia da disciplina.

Um dos mais conhecidos etnomusic�logos foi o tamb�m compositor B�la Bart�k.

Em 1956 surge nos Estados Unidos a Society for Ethnomusicology, enquanto que a Associa��o Brasileira de Etnomusicologia s� veio a firmar-se em 2001. Atualmente o Brasil conta com pelo menos seis p�s-gradua��es em etnomusicologia (Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina [UDESC], Rio de Janeiro, S�o Paulo, Para�ba e Paran�), e alguns cursos de antropologia com forte vertente etnomusicol�gica. Em Portugal as forma��es no ensino superior na �rea s�o dadas pelas Universidades de �vora, Nova de Lisboa e Universidade de Aveiro.

Metodologia de an�lise

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A transcri��o para nota��o musical em si j� pode ser considerada uma forma de an�lise segundo Ellingson [5] apud Ribeiro [6] para quem este m�todo j� prov� as informa��es objetivamente quantific�veis e analis�veis, que forneceram uma base s�lida para a etnomusicologia validar-se como disciplina cient�fica.

Tomando com par�metros as proposi��es de Alan Merriam (1923 - 1980) [7] a m�sica deve ser an�lise do ponto de vista da etnologia (etnomusicologia) em tr�s n�veis de an�lise: uma concep��o de m�sica (sua est�tica e valor social), comportamento em rela��o � m�sica (atividade "profissional", associa��o � dan�as, �xtase religioso arte marcial e outras t�cnicas corporais) e quanto � m�sica propriamente dita (ritmo, harmonia, etc).

Segundo Mauss [8] devem ser analisadas na sua rela��o com as demais artes (dan�a, artes pl�sticas, drama, canto, poesia, literatura etc), quanto aos seu elementos, que segundo ele s�o basicamente dois: um elemento sensorial, correspondendo �s no��es de ritmo, equil�brio, contrastes e harmonia; e um elemento ideal, um elemento de teoria, a cria��o e imagina��o que se constata na mais simples das artes musicais (oc. p 115). Ainda segundo esse autor o sentido musical aparece repartido de forma muito desigual segundo as sociedades. Ritmos, melodias, polifonias, variam em propor��es consider�veis de uma sociedade para outra e tamb�m numa mesma sociedade entre os sexos, as idades, as classes: m�sica nobre e m�sica vulgar, m�sica militar, m�sica de igreja, m�sica de cinema, etc, mas constituem-se como um sistema com extrema homogeneidade no todo apesar da distribui��o vari�vel. (oc. pg. 118)

Para o antrop�logo Claude L�vi-Strauss (1908-2009) � poss�vel estabelecer um paralelo entre a m�sica, a linguagem e o mito. H� n�tidos paralelos entre os fonemas e unidades sonoras (as notas musicais) definidas como sonemas ou tonemas, com a diferen�a, segundo ele, que na linguagem humana os fonemas formam as palavras que por sua vez formam as frases, enquanto que na m�sica n�o h� um equivalente �s palavras, dos elementos b�sicos passa-se logo para as frases mel�dicas. Estendendo essa compara��o com os mitos, observa que naqueles n�o h� o termo equivalente � fonemas, os elementos b�sicos s�o as palavras, o que dificulta o estabelecimento de uma compara��o apesar da l�gica e poss�vel origem tanto da m�sica como dos mitos na linguagem com desenvolvimentos em processo separados com distintas dire��es: a m�sica destacando os aspectos do som, já presentes na linguagem e os mitos o aspecto do sentido (significado) também já profundamente presente na linguagem. [9]

Campo de Estudo

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Apesar de estar relacionada com o campo maior de estudos sobre música (Musicologia), e alguns programas de pós-graduação evitarem a divisão dos campos da Etnomusicologia e da Musicologia, alguns autores e pesquisadores preferem manter essa divisão. O motivo está baseado na crença de que a principal diferença entre a musicologia (ou mais especificamente, a musicologia histórica) e a etnomusicologia estaria no foco. Enquanto a musicologia se preocupa primeiramente com o texto musical, a etnomusicologia dá ênfase ao contexto no qual a música está inserida, como forma de compreender o porquê daquela música ser da forma que é. Há, inclusive, pesquisadores que defendem uma possível etnomusicologia histórica, através da fusão de ambas as áreas de concentração.

É muito comum que leigos achem que a etnomusicologia seja o estudo da "música dos povos tradicionais". Essa é uma confusão normal, por associarem o termo "etno" com "etnia", ou seja, o estudo de músicas étnicas. Esse pensamento não é de todo errôneo, uma vez que, como bem afirmara Blacking[10], toda música é fruto das relações humanas, definindo música como sons humanamente organizados. Entretanto, como foi dito acima, o termo "etno" vem da palavra etnografia (ver artigo para melhor compreensão do termo).

Portanto, apesar de ter seu início marcado pelo estudo da música de povos não-ocidentais por pesquisadores ocidentais, tais como a música tibetana, javanesa, africana, chinesa ou de grupos indígenas[11], há algumas décadas a etnomusicologia passou a incluir em seu campo de estudo as músicas ocidentais, sejam de origem ou tradicionalmente ligadas ao contexto rural, tais como o maracatu, samba de roda, bandas de pífano, Taieiras[12] ou músicas de contexto urbano, tais como o Funk carioca, o samba/pagode carioca ou da Bahia[13], ou o Heavy Metal[14].

Frances Densmore gravando

Referências

  1. Merriam, Alan. The Anthropology of Music Evanston. USA Northwestern University 1964.
  2. Seeger, Anthony. Ethnography of Music. In Myers, Helen. Ethnomusicoly - an introduction. Londres, The MacMillan Press, 1992
  3. Adler, Guido. "Umfang, Methode und Zeil der Musikwissenschaft. Vierteljahrsschrift für Musikwissenschaft I: 5-20.1885.
  4. Kunst, Jaap. Musicologica: A Study of the Nature of Ethno-Musicology, its Problems, Methods and Representative Personalities. Amsterdam: Uitgave van het Indisch Instituut, 1950
  5. Ellingson, Ter. 1992. “Notation”. In Ethnomusicology – an introduction. Helen Meyers, ed. New York: W. W. Norton.
  6. Ribeiro, Hugo L. A análise musical na Etnomusicologia. Ictus 4 Ba, Periódico do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal da Bahia Disponível em pdf
  7. Merriam, Alan . The Anthropology of Music, USA,Il Northwestern University Press, 1980
  8. Mauss, Marcel. Manual de etnografia. Lisboa,Pt, Pórtico, 1967
  9. Lévi-Strauss, Claude. Mito e música in: Lévi-Strauss, C. Mito e significado. Lisboa, Edições 70, 1989
  10. Blacking, John. 1973 How Musical is Man? Seattle: University of Washington.
  11. Bastos, Rafael José de Menezes. 1999. A Musicológica Kamayurá: para uma antropologia da comunicação no Alto Xingu. Florianópolis: Editora da UFSC.
  12. Ribeiro, Hugo L. 2008. As Taieiras. Aracaju: Editora da Universidade Federal de Sergipe.
  13. Leme, Mônica Neves. 2003. Que Tchan é Esse?: indústria e produção musical no Brasil dos anos 90. São Paulo: Annablume.
  14. Ribeiro, Hugo L. 2010. Da Fúria à Melancolia: a dinâmica das identidades na cena rock underground de Aracaju. Aracaju: Editora da Universidade Federal de Sergipe.
  • ANDRADE, Mario de. 1928. Ensaio Sobre Musica Brasileira; Estética e Folclore. SP, I. Chiarato & Cia.
  • AYTAI, Desidério. 1995. Mini-manual para etno-musicólogos. Publicações do Museu Histórico de Paulínia n. 64, p. 4-12, n. 65, p. 22-28, n. 66, p. 50-54.
  • DE CRUCES VILLALOBOS, Francisco. 2001. Las culturas musicales: lecturas de etnomusicologia. Madrid, Alianza Editorial, S.A.
  • HOOD, Mantle. 1971. The Ethnomusicologist. New York: McGraw-Hill.
  • MUSOTTO, Ramiro. 2012. O berimbau da Bahia: um estudo da técnica, escrita e evolução da música tradicional e contemporânea da Bahia. Ba, HarpDan - Secretaria de Cultura.
  • MYERS, Helen (ed.). 1992. Ethnomusicology: An Introduction. New York: Norton.
  • NETTL, Bruno. 1983. The Study of Ethnomusicology: Twenty-Nine Issues and Concepts. Urbana: University of Illinois.
  • OLIVEIRA P, Tiago de. 2001. Som e música: Questões de uma antropologia sonora. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 44, n.º 1, 2001.
  • SHELEMAY, Kay Kaufman (ed.). 1992. Ethnomusicology: History, Definitions, and Scope: A Core Collection of Scholarly Articles. Londres: Routledge.

Ligações externas

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