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Heleny Guariba

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Heleny Guariba
Heleny Guariba
Nascimento 13 de março de 1941
Bebedouro, Brasil
Morte 12 de julho de 1971 (30 anos)
Petrópolis, Brasil
Nacionalidade Brasil brasileira
Ocupação professora
produtora teatral
guerrilheira

Heleny Telles Ferreira Guariba (Bebedouro, 17 de março de 1941 – Rio de Janeiro, 12 de julho de 1971) foi uma professora de teatro, dramaturga e guerrilheira brasileira, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização de esquerda que fazia a luta armada contra o regime militar, durante a ditadura militar que foi instaurada no Brasil em 1964.[1]

É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, um colegiado organizado pelo governo do Brasil para apurar mortes e desaparecimentos ocorridos durante o período.

Filha de Isaac Ferreira Caetano e Pascoalina Ferreira, Heleny Telles Ferreira Guariba nasceu em Bebedouro, São Paulo, em 17 de março de 1941.

Aos dois anos de idade ficou órfã de pai, desse modo, foi criada pela mãe, pela avó e por uma tia. Após a morte de seu pai, a família se mudou para São Paulo. Quando adolescente, deu aulas para crianças e jovens na Escola Dominical da Igreja Metodista.

Formou-se na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) com especialização em cultura grega. Paralelamente, estudou teatro e trabalhou como professora na Faculdade de Filosofia da USP e na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD). Em 1962, casou-se com Ulisses Telles Guariba Netto, com quem teve dois filhos, Francisco e João Vicente.

Durante os anos em que cursou filosofia (1960-1964), Heleny conheceu Iara Iavelberg, estudante e guerrilheira, tornando-se colegas de militância.[2]

Muito focada nos estudos e nas atividades culturais, em 1965 recebeu uma bolsa de estudos do Consulado da França, em São Paulo, especializando-se na Europa, onde ficou com o marido até 1967. Fez inúmeros cursos, inclusive em Berlim, onde estudou a arte de Bertolt Brecht e estagiou como assistente de direção.

Na França, fez seu doutorado, al�m de est�gios em diversos teatros do pa�s, como o Theatre de la Cit�, de Roger Planchon, disc�pulo de Brecht.

Ao voltar para o Brasil, passou a dar aulas na Escola de Artes Dram�ticas da USP e foi contratada pela prefeitura de Santo Andr� (SP), onde se tornou a diretora do grupo de teatro da cidade. Ali iniciou uma s�rie de trabalhos culturais, montando uma pe�a de Moli�re com os alunos das escolas municipais. Na Alian�a Francesa, na capital paulista, lecionou, montou e dirigiu pe�as de teatro.

Em 1968, fundou um grupo de teatro em Santo Andr�, cidade pr�xima � S�o Paulo. A primeira montagem do grupo foi "Jorge Dandin, o Marido Tra�do", do dramaturgo franc�s Moli�re, que foi vista por mais de 7 mil pessoas.

Em 1969, o grupo montou "A �pera dos Tr�s Vint�ns, de Bertolt Brecht.

Trabalhou com Augusto Boal, dando aulas no semin�rio de dramaturgia do Teatro de Arena. Al�m disso escreveu diversos artigos, publicados em jornais na d�cada de 1960[3].

Pris�o e Desaparecimento

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Com a emiss�o do decreto AI-5, em dezembro de 1968, seu trabalho no �mbito cultural foi interrompido.

Em 1969, se separou do marido e, a partir deste ano, come�ou a militar com o codinome Lucy, na Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR), organiza��o de extrema-esquerda que atuava atrav�s de luta armada contra o regime militar.[1] Heleny passou a namorar um colega da VPR, Jos� Olavo, e, ent�o, a viver na casa dos pais do novo companheiro, em Po�os de Caldas, Minas Gerais. O pai de Jos� Olavo � preso pela Opera��o Bandeirante (OBAN) e, mediante tortura, revela onde est� Heleny, que � presa pela primeira vez em 24 de abril de 1970.[2]

Presa em Po�os de Caldas no come�o de 1970, durante a execu��o da Opera��o Bandeirantes, Heleny foi localizada pelo seu ex-marido e ex-sogro, o general em reserva Francisco Mariani Guariba no Departamento de Ordem Pol�tica e Social(DOPS/SP) com marcas roxas ocasionadas pelo uso de choque el�trico em seu corpo. Foi torturada na OBAN e no Destacamento de Opera��es de Informa��o - Centro de Opera��es de Defesa Interna (DOI-CODI/SP), pelos capit�es Benoni de Arruda Albernaz e Homero C�sar Machado.

Deu entrada no Hospital Militar com hemorragias provocadas pelas torturas e l� ficou internada por dois dias. Foi, ent�o, transferida para cumprir pena no Pres�dio Tiradentes, sendo solta pela Justi�a Militar em abril de 1971. Poucos meses depois, viajou para o Rio de Janeiro para encontrar e estabelecer estrat�gias com um agente vindo do exterior para alterar t�ticas de atua��o do movimento de oposi��o. Em julho do mesmo ano, quando se preparava para deixar o pa�s e viver no exterior, foi presa no Rio de Janeiro, junto com o guerrilheiro que voltava de Cuba, Paulo de Tarso Celestino, dirigente da A��o Libertadora Nacional (ANL) e desapareceu. A ex-guerrilheira e presa pol�tica In�s Etienne Romeu, em depoimento dado ao Minist�rio da Justi�a anos depois, afirmou que Heleny Guariba esteve presa em Petr�polis, na chamada Casa da Morte, onde In�s esteve, e que foi torturada, durante tr�s meses, e, por fim, executada.[4]

Entretanto, segundo informa��es dadas pelos �rg�os de seguran�a, Heleny n�o estava realmente presa porque obteve �xito em sua viagem para o exterior. Em dezembro de 1975, o Servi�o de Pol�cia do III Exercito de Porto Alegre emitiu a sua pris�o preventiva pela sua condenação na 2º Circunscrição Judiciária Militar (CJM), em 18 de julho de 1972 e a colocou na lista dos foragidos e procurados pela polícia judiciária militar.

O Serviço Nacional de Informações (SNI), divulgou em julho de 1976 um documento que atestava que Heleny seria utilizada como "pombo correio" da militância e operava junto de perigosos terroristas e que naquele momento encontrava-se foragida. Neste mesmo ano, a Federação Democrática Internacional das Mulheres dirigiu ao diretor da divisão de direitos humanos, em Genebra, uma declaração atestava a violação de direitos humano que ocorria naquele período no Brasil.

Segunda as pesquisas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), um documento da SNI onde estão alguns nomes de militantes desaparecidos e a data de seu falecimento, seu nome se vincula ao dia 24 de julho de 1971.Chegou-se a conclusão, no entanto, de que a mesma teria sido detida pelas forças armadas no dia 12 de julho de 1971, no Rio de Janeiro. Assim, apesar de seu corpo não ter sido encontrado, Heleny foi dada como morta.[5]

Homenagens post mortem

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Seu nome hoje batiza um Centro Cultural em Diadema, São Paulo, o Teatro Studio Heleny Guariba, na Praça Franklin Roosevelt, 184, São Paulo[6] e também o Cursinho Popular Heleny Guariba, iniciativa dos alunos de Teatro do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista - Unesp, em São Paulo, para preparação dos vestibulandos para as provas específicas da universidade.

No centro de Santo André (SP), o Auditório Heleny Guariba, na Praça IV Centenário também é uma homenagem à professora.

Relatos sobre Heleny

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Celso Frateschi

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Segundo o ator e diretor Celso Frateschi, a convivência com Heleny era marcada pela intensidade e radicalidade. Ela haveria lhe ensinado sobre Stanislavski e Brecht, dos quais o artista não tinha conhecimento algum. Além disso, a professora teria lhe orientado sobre estética teatral.

Referências

  1. a b «HELENY FERREIRA TELLES GUARIBA - Comissão da Verdade». comissaodaverdade.al.sp.gov.br. Consultado em 10 de outubro de 2019 
  2. a b «Heleny Telles Ferreira Guariba: Uma história interrompida - Brasil Escola». Monografias Brasil Escola. Consultado em 13 de outubro de 2019 
  3. Heleny Guariba, acesso em 11/03/2021
  4. «Heleny Telles Ferreira Guariba». Grupo Tortura Nunca Mais. Consultado em 27 de junho de 2011 
  5. «Heleny Ferreira Telles Guariba». Memórias da ditadura. Consultado em 5 de outubro de 2019 
  6. «Centro Cultural Heleny Guariba». Consultado em 27 de junho de 2011