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Justiça climática

Origem: Wikip�dia, a enciclop�dia livre.
Crian�as numa manifesta��o por justi�a clim�tica em Minnesota, EUA, em abril de 2017

Justi�a clim�tica � um termo usado para enquadrar o aquecimento global como uma quest�o �tica e pol�tica, em vez de uma quest�o de natureza puramente ambiental ou f�sica. Busca colocar a equidade e os direitos humanos no centro da tomada de decis�es e da a��o em mat�ria de altera��es clim�ticas.[1] Isso � feito atrav�s do relacionamento das causas e dos efeitos das mudan�as clim�ticas aos conceitos de justi�a, particularmente justi�a ambiental e justi�a social. Justi�a clim�tica examina conceitos como igualdade, direitos humanos, direitos coletivos e as responsabilidades hist�ricas pelas mudan�as clim�ticas.

O conceito se baseia na constata��o de que comunidades historicamente marginalizadas, como mulheres, comunidades ind�genas e comunidades de cor muitas vezes enfrentam as piores consequ�ncias das mudan�as clim�ticas: na verdade, os menos respons�veis pelas mudan�as clim�ticas sofrem as suas consequ�ncias mais graves.[2][3] Pelo fato de as mudan�as clim�ticas poderem reproduzir ou exacerbar as desigualdades existentes, foram rotuladas de 'triplas injusti�as' das mudan�as clim�ticas.[4][5][6]

Na sua forma mais simples, as concep��es de justi�a clim�tica podem ser agrupadas ao longo das linhas de justi�a processual, que enfatiza a tomada de decis�o justa, transparente e inclusiva, e justi�a distributiva, que coloca �nfase em quem arca com os custos das mudan�as clim�ticas e as ac��es tomadas para ir de encontro com os objetivos.[4]

Um foco especial � colocado no papel do PAMA (Pessoas e �reas Mais Afetadas),[7] ou seja, grupos desproporcionalmente afetados pelas mudan�as clim�ticas, como mulheres, BIPOC,[8] jovens, pessoas mais velhas e mais pobres.[9]

Facetas da justi�a clim�tica

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A justi�a clim�tica apresenta muitas facetas:

  • Desigualdades estruturais: Mesmo dentro de um mesmo pa�s, os impactos das mudan�as clim�ticas podem ser sentidos de forma desigual devido �s desigualdades estruturais baseadas em ra�a, etnia, g�nero e n�vel socioecon�mico. As mulheres s�o mais gravemente afetadas pelos impactos das mudan�as clim�ticas, pois t�m acesso a menos recursos para se adaptar e lidar com mudan�as bruscas.[10] As pessoas com defici�ncia correm um risco maior de sofrer os impactos adversos das mudan�as clim�ticas, incluindo amea�as � sa�de, � seguran�a alimentar, ao acesso � �gua, � energia e ao saneamento e aos meios de subsist�ncia, principalmente nos pa�ses em desenvolvimento. Os povos ind�genas, que protegem 80% da biodiversidade do mundo, est�o enfrentando amea�as e riscos cada vez maiores �s suas vidas, aos seus meios de subsist�ncia e ao seu conhecimento tradicional. [1]
  • Desigualdades socioecon�micas: Os impactos da mudan�a clim�tica e os recursos necess�rios para lidar com os impactos da mudan�a clim�tica s�o distribu�dos de forma desigual em todo o mundo. Os pa�ses de baixa renda e as popula��es vulner�veis desses pa�ses s�o mais suscet�veis a perdas e danos induzidos pelo clima. Globalmente, os 10% das fam�lias com as maiores emiss�es per capita contribuem com 34% a 45% das emiss�es globais de gases de efeito estufa, enquanto os 50% das fam�lias mais pobres contribuem com 13% a 15%[11].[1]
  • Desigualdade intergeracional: As crian�as e os jovens de hoje n�o contribu�ram de forma significativa para a crise clim�tica, mas suportar�o toda a for�a dos impactos da mudan�a clim�tica � medida que avan�arem na vida. Como seus direitos humanos s�o amea�ados pelas decis�es das gera��es anteriores,[12] seus direitos devem ser centralizados em todas as decis�es e a��es clim�ticas[13].[1]

Desdobramentos mais recentes

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O uso e a popularidade da justi�a clim�tica aumentaram dramaticamente nos �ltimos anos. Em particular com o surgimento de movimentos populares com o objetivo de justi�a clim�tica - como Fridays for Future, Ende Gel�nde ou Extinction Rebellion - a conex�o desses grupos no contexto da justi�a clim�tica tornou-se mais importante.[14]

As a��es de justi�a clim�tica tamb�m podem incluir o crescente n�mero global de a��es legais sobre quest�es de mudan�a clim�tica.[15] Em 2017, um relat�rio do Programa das Na��es Unidas para o Meio Ambiente identificou 894 a��es judiciais em andamento em todo o mundo.

Em 2023 a Assembleia Geral das Na��es Unidas aprovou por unanimidade uma resolu��o que pede a opini�o jur�dica da Corte Internacional sobre as obriga��es dos pa�ses em rela��o �s mudan�as clim�ticas.[16] A CIJ deve responder às seguintes perguntas: "(a) Quais são as obrigações dos Estados, nos termos do direito internacional, de assegurar a proteção do sistema climático e de outras partes do ambiente contra as emissões de gases do efeito estufa, para os Estados e para as gerações presentes e futuras? b) Quais são as consequências jurídicas, nos termos dessas obrigações, para os Estados que, pelos seus atos e omissões, tenham causado danos significativos ao sistema climático e a outras partes do ambiente, no que diz respeito a (i) Estados, incluindo, em particular, os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, que, devido às suas circunstâncias geográficas e nível de desenvolvimento, são particularmente afetados ou são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas? (ii) Povos e indivíduos das gerações atuais e futuras afetados pelos efeitos adversos das mudanças climáticas?”.[17] O parecer consultivo representa uma oportunidade para clarificar as obrigações legais dos Estados no que diz respeito às mudanças climáticas. Para o Vanuatu, Estado que propôs a resolução, e para os demais apoiantes, esta é também uma oportunidade para estimular uma ação climática transformadora, promover a justiça climática e proteger o ambiente para as gerações presentes e futuras.[18]

Referências

  1. a b c d «Climate change is a matter of justice – here's why». UNDP Climate Promise (em inglês). Consultado em 12 de outubro de 2024 
  2. Global Humanitarian Forum (1 October 2009) Kofi Annan launches climate justice campaign track Arquivado em 2011-07-15 no Wayback Machine, Global Humanitarian Formum, 1 October 2009.
  3. Wendy Koch, Study: Climate change affects those least responsible Arquivado em 2015-12-07 no Wayback Machine, USA Today, 7 March 2011
  4. a b Peter Newell, Shilpi Srivastava, Lars Otto Naess, Gerardo A. Torres Contreras and Roz Price, "Towards Transformative Climate Justice: Key Challenges and Future Directions for Research," Working Paper Volume 2020, Number 540 (Sussex, UK: Institute for Development Studies, July 2020)
  5. United Nations Research Institute for Social Development (UNRISD) (2016) Policy Innovations for Transformative Change: Implementing the 2030 Agenda for Sustainable Development, Geneva: UNRISD
  6. Routledge handbook of climate justice. Abingdon, Oxon: [s.n.] ISBN 978-1-315-53768-9. OCLC 1056201868 
  7. «As young people, we urge financial institutions to stop financing fossil fuels». Climate Home News. 9 de novembro de 2020. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  8. «Definition of BIPOC». www.merriam-webster.com (em inglês). Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  9. Climate Change and LandAn IPCC Special Report on climate change, desertification, land degradation, sustainable land management, food security, and greenhouse gas fluxes in terrestrial ecosystems. [S.l.]: Intergovernmental Panel of Climate Change. 2019. 17 páginas 
  10. «What does gender equality have to do with climate change?». UNDP Climate Promise (em inglês). Consultado em 12 de outubro de 2024 
  11. «AR6 Synthesis Report: Climate Change 2023». www.ipcc.ch (em inglês). Consultado em 12 de outubro de 2024 
  12. «The impact of climate change on the rights of the child» 
  13. «Climate change and the full and effective enjoyment of the rights of the child» (PDF) 
  14. «Selbstreflexion». Ende Gelände (em alemão). Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  15. See, for example the Climate Justice Programme's Climate Law Database Arquivado em 2011-04-09 no Wayback Machine.
  16. «ONU adota resolução sobre responsabilidade dos países para "justiça climática" | ONU News». news.un.org. 29 de março de 2023. Consultado em 12 de outubro de 2024 
  17. «The General Assembly of the United Nations requests an advisory opinion from the Court on the obligations of States in respect of climate change | INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE». www.icj-cij.org. Consultado em 12 de outubro de 2024 
  18. Tigre, Maria Antonia; Bañuelos, Jorge Alejandro Carrillo; Bañuelos, Maria Antonia Tigre and Jorge Alejandro Carrillo (29 de março de 2023). «The ICJ's Advisory Opinion on Climate Change: What Happens Now? - Climate Law Blog». blogs.law.columbia.edu (em inglês). Consultado em 12 de outubro de 2024