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Obras de A Com�dia Humana de Balzac

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Volumes d'A Com�dia Humana, na edi��o inglesa de 1901

Grandes obras

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Ningu�m, nem mesmo Shakespeare e Leonardo da Vinci, consegue criar exclusivamente obras-primas. N�o � diferente com Balzac e as oitenta e oito narrativas de sua monumental A Com�dia Humana. Otto Maria Carpeaux, a par de um julgamento bastante positivo do autor, n�o se furta de salientar que "grande parte de sua obra j� envelheceu irremediavelmente, porque constitu�da de romances de mero divertimento, escritos �s pressas para ganhar dinheiro" [1]. Provavelmente, estaria pensando em obras menores como Honorina e A Mulher de Trinta Anos (esta, imensamente popular at� os dias de hoje). Ainda assim, poucos escritores possuem um resultado t�o expressivo na rela��o entre quantidade e qualidade.

Uma lista contendo algumas das obras consideradas pela cr�tica como as mais bem realizadas, relevantes e/ou influentes inclui:

  • A Estalagem Vermelha (1831) - conto que � umas das primeiras obras que Balzac assinou com seu nome, da� seu clima ainda levemente g�tico. Uma das teses do autor � que "na raiz de toda grande fortuna existe um crime" e aqui conta-se como o banqueiro Taillefer construiu a sua; assim, temos dois m�dicos que passam a noite numa taverna; um terceiro h�spede traz consigo muito dinheiro e aparece morto; todas as provas s�o contra um dos amigos, que realmente teve a ideia de mat�-lo, por�m desistiu no �ltimo segundo; mesmo assim, aceita sua condena��o � morte, pois se sente culpado; sua ideia do assassinato fora transmitida telepaticamente a Taillefer, o outro m�dico, que � o verdadeiro criminoso e se cala para ficar com a fortuna. Mas o conto n�o acaba a�: Balzac empregou uma t�cnica complexa e inovadora, onde a hist�ria � contada pela �nica pessoa que conhecia a trama, estando presentes, entre outros, Taillefer e seu futuro genro, que o desmascara intimamente gra�as a um pequeno detalhe. Da�, o dilema: � imoral aceitar riquezas sabidamente advindas de um ato criminoso?
  • A Menina dos Olhos de Ouro (1835) - esta noveleta � a terceira e �ltima obra do subgrupo "Hist�ria dos Treze", que tamb�m compreende Ferragus ou o Chefe dos Devoradores e A Duquesa de Langeais. Balzac, amante da literatura g�tica e do romance hist�rico, acreditava em transmiss�o de pensamentos (que ainda n�o havia ganhado o nome definitivo de telepatia), ocultismo, fisiognomia e, praticamente, qualquer outra teoria pseudocient�fica com a qual se deparasse. Al�m disso, tinha uma queda por sociedades secretas, que aparecem mais de uma vez na Com�dia e que s�o resqu�cios do que produzia no in�cio de sua carreira. A Sociedade dos Treze � formada por treze amigos que juraram ajudar uns aos outros sempre que houvesse necessidade. Aqui, o c�nico e amoral d�ndi Henrique de Marsay, personagem donjuanesco caro a Balzac, persegue a misteriosa Paquita Vald�s por uma Paris surreal, numa trama complexa, onde nada � muito claro e tudo � surpreendente. Balzac, como autoproclamado "historiador de costumes", n�o fugia dos tabus de sua �poca e, com a ousadia que chegou a lhe trazer muitos aborrecimentos, trata aqui do lesbianismo, um tema do qual foi virtualmente o pioneiro.
  • A Missa do Ateu (1836) - um dos contos mais apreciados de Balzac, escrito em uma �nica noite. O doutor Bianchon, personagem recorrente e a quem o pr�prio Balzac teria invocado em seu leito de morte, v� seu mestre, o cirurgi�o Desplein, entrar numa igreja e assistir contrito � missa e distribuir esmolas. Ora, Desplein � conhecido pelo seu ate�smo. Um ano depois, a mesma cena se repete. Curioso, Bianchon interpela-o e recebe uma resposta surpreendente, que coloca em d�vida diversos preceitos religiosos.
  • A Obra-Prima Ignorada (1832) - conto cuja a��o se passa no s�culo XVII e que, portanto, n�o tem liga��o com o restante d'A Com�dia Humana. Estamos aqui no terreno das artes pl�sticas, que Balzac tanto prezava. Mestre Frenhofer pinta sua tela, mas nunca se satisfaz com o resultado e p�e-se a refaz�-la obsessivamente, pois seu desejo � chegar � ess�ncia da arte. Contudo, essa sede de perfei��o por� tudo a perder, inclusive sua sanidade. � o conceito de que "o pensamento mata o pensador", presente em diversas obras dos Estudos Filos�ficos, al�m desta, como A Procura do Absoluto e A Pele de Onagro. H� suspeitas de que as ideias sobre pintura expostas na hist�ria s�o, na verdade, de Delacroix, grande amigo do autor. Para Paulo R�nai, "esta obra estranha (...) representa, com A MIssa do Ateu e A Paz Conjugal, o apogeu alcan�ado por Balzac no dom�nio do conto" [2].
S�t�os de Paris, por Gustave Caillebotte: A Pele de Onagro
  • A Pele de Onagro (1831) - este romance � sua obra mais importante entre aquelas do in�cio da carreira, quando ainda escrevia sob a influ�ncia da literatura g�tica. Em um clima de pesadelo, esta narrativa simb�lica � a hist�ria de Rafael de Valentin, que vem a possuir uma pele de onagro. Essa pele misteriosa, cuja origem pode ser oriental, permite a satisfa��o de todos os desejos, por�m vai diminuindo de tamanho, enquanto tamb�m diminui o tempo de vida de seu possuidor. H� v�rios pontos de contato entre Rafael e Balzac: ambos escreveram um tratado filos�fico, o "Tratado da Vontade" (Balzac era adolescente), ambos moraram em s�t�os enquanto passavam por priva��es e ambos tiveram de enfrentar encarni�ados credores. Obra de transi��o ou aprendizado, h� nela dois elementos d�spares: a tentativa realista, que ficou em segundo plano, de pintar o retrato fiel de uma mulher manipuladora e a presen�a do fant�stico, representada pelo objeto m�gico, que acaba por se impor. Grande sucesso de p�blico � �poca da publica��o, o livro n�o foi bem visto pela cr�tica. Contudo, sua import�ncia cresceu com o passar do tempo e hoje, relevando-se alguns defeitos de constru��o, � visto como sua primeira obra-prima.
  • A Prima Bette (1846) - romance que � uma das obras-primas definitivas do autor, pertence ao subgrupo "Os Parentes Pobres", do qual faz parte ainda O Primo Pons. Neste livro, a ressentida, pobre e solteirona Lisbeth Fischer, a personagem-t�tulo, vinga-se de maneira terr�vel de todas as humilha��es verdadeiras e imagin�veis que sofreu de seus parentes ricos. O tr�gico � que suas v�timas, v�rias sem nenhuma estatura moral, veem nela um exemplo de desprendimento e lealdade. Outras grandes personagens s�o a calculista Val�ria Marneffe, comparsa da Prima Bette e umas das maiores cortes�s criadas por Balzac; o decadente bar�o Hulot d'Ervy, presa do v�cio da libertinagem, que s� faz aumentar � medida que envelhece; e o rico Bar�o Henrique Montes de Montejanos, �nico brasileiro a constar na galeria balzaquiana, com um nome que, ali�s, de brasileiro tem muito pouco. Montejanos, apaixonado pela Senhora Marneffe, � por ela ludibriado com falsas promessas e reiteradas trai��es, at� o momento em que reclama sua vingan�a. O horr�vel instrumento utilizado para isso est� perfeitamente de acordo com pessoas origin�rias de pa�s t�o ex�tico e selvagem...
  • A Procura do Absoluto (1834) - o tema do "pensamento matando o pensador", isto �, uma ideia fixa que se apodera do personagem, perpassa v�rias obras da Com�dia, mormente aquelas colocadas entre os Estudos Filos�ficos, como A Obra-Prima Ignorada e Gambara. J� neste romance, o qu�mico Baltasar Claes deseja descobrir a mat�ria m�e de todas as mat�rias e de tudo que h� nos reinos animal, vegetal e mineral. Para isso, ele sacrifica sua fam�lia, fortuna, honra e sa�de. Balzac estudou Qu�mica para escrever o livro, mas chegou a ser acusado de igualar essa ci�ncia � alquimia. Esta cr�tica n�o se sustenta, contudo outra sim: apesar de Claes levar a fam�lia � bancarrota v�rias vezes, sua filha sempre consegue repor a fortuna, deixando-a at� maior.
Saumur, onde se desenrola a a��o de Eug�nia Grandet, em obra de Henry Salom�
  • Eug�nia Grandet (1833) - universalmente reconhecido como um dos melhores romances de Balzac e, ao mesmo tempo, um dos mais lidos pelo p�blico, conta a hist�ria de Eug�nia, t�pica provinciana filha de pai rico e, por isso, disputada por potenciais maridos. Um dia, chega seu primo; ambos se apaixonam, mas o rapaz � fraco e, aconselhado pelo tio, parte em busca de fortuna. Eug�nia fica � espera, com a fria resigna��o de quem ama sem pedir nada em troca. O que, em outras m�os, seria apenas um romance sentimental, alarga-se enormemente pela a��o de outros personagens, com destaque para o pai, enriquecido pelo com�rcio de vinhos, considerado um dos maiores avarentos da hist�ria da literatura.
  • Esplendores e Mis�rias das Cortes�s (1869) - a publica��o deste romance se deu de forma bastante acidentada: o in�cio da primeira parte ainda em 1838; o restante sucessivamente em 1843, 1844, 1846 e 1847. Todas as partes somente se juntaram em um �nico volume em 1869, quase vinte anos ap�s a morte do autor. A composi��o � mais fragmentada que Ilus�es Perdidas, da qual � continua��o, desenvolvendo-se em quatro linhas, que correspondem �s suas quatro partes: os amores de uma cortes�; os amores de um idoso; Luciano de Rubempr� e sua segunda tentativa de conquistar Paris; e pol�cia versus bandidos. Temos aqui quase um "livro de a��o", passado em gal�s e masmorras, com tipos vindos do submundo e seu linguajar caracter�stico, crimes horr�veis, personagens cru�is e, sem d�vida, uma for�a extraordin�ria. A essa altura, Luciano j� n�o � mais aquele poeta ing�nuo da obra anterior: agora ele perdeu todo o pejo e usa sua beleza como moeda de troca; mas continua a mesma pessoa fraca, de f�cil manipula��o. Desta vez, ele se deixa enredar pelo misterioso Padre Carlos Herrera, cuja verdadeira identidade logo descobrimos ser o diab�lico Vautrin. Essa que � uma das maiores e mais pol�micas cria��es de Balzac faz aqui sua derradeira apari��o e recebe do autor uma surpreendente, por�m l�gica e ir�nica, vida futura. Por outro lado, a descri��o dos momentos finais de Luciano � um dos mais belos e poderosos textos sa�dos da pena do autor.
  • Hist�ria da Grandeza e da Decad�ncia de C�sar Birotteau (1837) - escrito em cerca de vinte dias, em troca de vinte mil francos, esta � uma das obras mais perfeitas e das que melhor ilustram o modo de Balzac fazer literatura. C�sar Birotteau � um modesto perfumista, que se deixa levar pela ambi��o e acaba arruinado. A vingan�a engendrada por um antigo empregado, tendo por objeto a especula��o imobili�ria; a descri��o do processo de fal�ncias; a fabrica��o de pomadas e elixires; embalagens, bulas, letras de c�mbio, tudo isso faz do romance um verdadeiro tratado comercial, onde pouca coisa acontece, mas que prende a aten��o at� o fim. O retrato desse artista das ess�ncias, meio ing�nuo, meio tolo, � t�o convincente e humano, que o final deixa o leitor com uma ponta de tristeza e amargura.
  • Ilus�es Perdidas (1843) - esta � a obra mais extensa de Balzac, principalmente quando levamos em conta sua continua��o, tamb�m longa, Esplendores e Mis�rias das Cortes�s (na edi��o da nova Editora Globo, o conjunto soma mil e cem p�ginas). Para melhor entender como foi composta A Com�dia Humana, basta lembrar que as partes deste livro foram publicadas em �pocas diversas, a primeira em 1837 e a �ltima somente em 1843. No entanto a primeira parte de Esplendores... come�ou a ser publicada j� no final de 1838! Temos aqui a hist�ria de um dos maiores e mais emblem�ticos personagens do autor, o belo poeta Luciano de Rubempr�, que deseja sair da prov�ncia sufocante para se tornar escritor famoso em Paris. Mas Luciano � fraco de car�ter e se deixa influenciar por todos com quem trava conhecimento, desde o �ntegro escritor Daniel d'Arthez at�, principalmente, a rica fauna dos c�nicos, amorais, gananciosos e canalhas que parecem predominar em uma Paris onde nada, nem uma min�scula nota no jornal, � inocente ou de gra�a. Outro personagem importante neste livro que cont�m tantos � David S�chard, cunhado de Luciano. David � impressor, da� Balzac nos conduzir a uma tipografia e nos mostrar as m�quinas, os oper�rios, as g�rias empregadas, enfim, o processo completo. Depois David inventa um tipo de papel barato e cai nas garras de espertos concorrentes, que se associam para arruin�-lo. Para al�m das perip�cias de Luciano e David, este romance, de tantas leituras poss�veis, aponta a mesquinhez e a pobreza espiritual da prov�ncia e pinta um retrato arrasador da nascente imprensa moderna, ambiente que Balzac dominava muito bem.
  • Melmoth Apaziguado (1835) - fantasia e realidade se misturam nesta novela baseada em Melmoth the Wanderer, romance g�tico do escritor ingl�s Charles Robert Maturin, um dos preferidos de Balzac. Em tom humor�stico, de in�cio temos o retrato perfeitamente realista de um representante dessa profiss�o t�o cara ao capitalismo: o caixa de banco, no caso o honesto por�m pobre Castanier. S�bito, surge-lhe o errante diabo Melmoth e Castanier celebra com ele um contrato em que aceita vender sua alma em troca de onipot�ncia. Mais tarde, transfere o contrato para outra pessoa, em troca de dinheiro; o novo possuidor tamb�m o vende e assim sucessivamente at� que a transa��o passa a ser feita na pr�pria Bolsa com valores cada vez menores. Nessa narrativa de fundo moral, o autor prenuncia, por conseguinte, uma das m�ximas de nossos dias: tudo � produto, tudo � mercadoria, tudo pode ser vendido, inclusive um pacto sobrenatural!
  • O Coronel Chabert (1832) - pequena novela onde o Coronel Chabert, dado por morto nas guerras napole�nicas, descobre que sua esposa herdou sua fortuna, casou-se pela segunda vez e agora o repele. Procura, ent�o, um escrit�rio de advocacia, palco de v�rias obras do autor. Temos aqui um drama judicial sombrio e pessimista, onde Balzac aproveita o que aprendeu em seus anos como escritur�rio de cart�rios.
Castelo em Ferrara: O Elixir da Longa Vida
  • O Elixir da Longa Vida (1830) - presente em muitas antologias, este conto � t�pico do in�cio da carreira do autor: ambiente ex�tico, atmosfera misteriosa, tema escabroso, viol�ncia f�sica etc. A hist�ria trata de uma variante do "crime do mandarim", que Balzac citou em v�rias obras, como O Pai Goriot: se voc� pudesse matar um solit�rio mandarim perdido nos confins da China para ficar com sua fortuna, e n�o houvesse a menor possibilidade do crime ser descoberto jamais, voc� o faria? Aqui, conta-se que o rico pai de Don Juan (o famoso conquistador), estudioso de alquimia, descobriu um �leo que permite a ressurrei��o, desde que algu�m banhe o cad�ver logo em seguida � morte. Quando chega sua hora, pede ao filho que o fa�a, por�m este, amante de festas e da boa vida, queda-se inerte e consegue espalhar o l�quido apenas em um dos olhos que, apavorado, esmaga ao ver se mexer. Anos depois, eis Don Juan com mulher e filho, a quem sempre tratou muito bem. Um dia, chega sua hora e ele pede ao filho que lhe passe o �leo quando morrer. Ser� atendido? O final � totalmente bizarro, em clima de gr�-guignol.
  • O Ilustre Gaudissart (1833) - um conto humor�stico, introduz na literatura a figura do caixeiro-viajante, este subproduto dos novos tempos, t�o importante nas d�cadas seguintes para a consolida��o do capitalismo. O engra�ado Gaudissart, muito querido por Balzac, possui uma eloqu�ncia capaz de vender sorvete para esquim�s. Um dia, por�m, ao oferecer ap�lices de seguro em um recanto da prov�ncia, depara-se com um morador esperto. Atrav�s de in�meros mal-entendidos e palavras de duplo sentido, Gaudissart se v� do outro lado do balc�o.
Entrada do Cemit�rio P�re-Lachaise, cen�rio do final de O Pai Goriot
  • O Pai Goriot (1834) - foi neste romance, por muitos considerado sua maior obra-prima, que o autor empregou pela primeira vez a t�cnica do retorno de personagens. Grande parte da a��o se passa na Pens�o Vauquer, com sua curiosa tabuleta, onde l� a frase CASA VAUQUER - Pens�o burguesa para os dois sexos e outros (Paulo R�nai chama-a "d�stico imbecil" [3]). Nela, somos apresentados a algumas das maiores cria��es de Balzac: o pr�prio Pai Goriot, antigo comerciante que se deixa arruinar para que as filhas, que o exploram e desprezam, possam freq�entar as altas rodas; Eug�nio de Rastignac, para muitos um �lter ego do autor, jovem pobre e ambicioso da prov�ncia que deseja enriquecer em Paris a qualquer custo; e Vautrin, ou Jacques Collin ou, ainda, o "Engana-a-Morte", personifica��o moderna do diabo, amoral, manipulador e sedutor, que ter� uma longa e desnorteante trajet�ria por outras obras da Com�dia. Mais que a hist�ria do personagem-t�tulo, contam-se aqui as transforma��es porque passa Rastignac, de interiorano ing�nuo a c�nico e inescrupuloso. O livro termina com uma cena que se tornou cl�ssica: no cemit�rio P�re-Lachaise, tendo Paris a seus p�s, Rastignac "lan�ou �quela colm�ia sussurrante um olhar que parecia sugar-lhe antecipadamente o mel e proferiu esta frase suprema: --E agora, n�s!" [4]. A cada reapari��o, mais alto estar� na escala social.
  • O Primo Pons (1847) - este romance comp�e, com A Prima Bette, o subgrupo "Os Parentes Pobres". O Primo Pons � um velho e ing�nuo m�sico que, em virtude de impenitente gula, � constantemente humilhado pelos parentes ricos, que ele visita todos os dias em busca de comida. Mas Pons possui outro v�cio: � inveterado colecionador de objetos de arte (como o pr�prio Balzac, ali�s), que v�o sendo amontoados em seu quarto. Quando ele cai doente e se descobre que essas obras valem uma fortuna, uma verdadeira legi�o de aves de rapina se mobiliza para depen�-lo: a porteira Cibot, o comerciante R�monencq, o joalheiro/agiota Elias Magus, o doutor Poulain, advogados, parentes etc. A �nica pessoa com quem ele pode contar � seu �nico amigo, o tamb�m velho e pobre m�sico Schmucke, impotente ante tal desequilíbrio de forças. O Primo Pons é uma das melhores e mais sombrias obras de Balzac, onde ele demonstra todo seu pessimismo em relação à humanidade. Essas pessoas em volta de Pons não sentem o menor remorso nem se conscientizam do crime que estão a praticar, independente de origem, classe social ou profissão. Todos se irmanam, se associam e se hostilizam, dependendo das circunstâncias, com o fito único de ficar com seu quinhão do testamento, da herança, enfim, da coleção do velho músico. No entanto, no meio de tanta baixeza, Balzac ainda encontra tempo para falar de duas novidades de seu tempo: a daguerreotipia e as ferrovias.
Issoudun: Um Conchego de Solteirão
  • Um Conchego de Solteirão (1841) - um dos principais romances do autor, conta-se aqui a história dos irmãos José e Felipe Bridau. O primeiro é pintor, tendo muito de Delacroix, segundo muitos pesquisadores. Já Felipe, militar posto em disponibilidade e inadaptado à paz, evolui para uma das criaturas mais monstruosas criadas por Balzac, apesar das inúmeras chances que tem de se regenerar. Tipicamente, o que está em jogo é uma herança, que Felipe deseja só para si, mas há também deliciosas descrições da vida provinciana, com suas fofocas, seus tipos mesquinhos, seus jogos cruéis e suas sociedades secretas, como os Cavalheiros da Malandragem. Na história, Felipe é o preferido da mãe, que releva seus atos abomináveis e não enxerga a genialidade e o bom coração do outro filho. Estudiosos veem aí uma referência à biografia de Balzac, que mais de uma vez lembrou com amargura que sua própria mãe não não lhe dava o devido valor, colocando-o em segundo plano em relação a seus irmãos Laura e Henri.
Castelo de L'Isle-Adam, cenário de Uma Estreia na Vida. Obra de Michel Barthélemy Ollivier
  • Uma Estreia na Vida (1842) - romance pouco conhecido, narra as desventuras do desagradável adolescente Oscar Husson em sua viagem de Paris a Presles e as consequências daí advindas, já que comete várias gafes. Acompanham-no vários personagens da galeria balzaquiana. Mais que uma estreia, essa obra de título simbólico narra a vida do jovem até o momento em que Balzac percebe que já não vale mais a pena: depois que ele assegura um casamento proveitoso para si, consegue uma sinecura no Estado e aprende a cultivar as amizades certas. Hoje "Oscar é um homem comum, manso, sem pretensões, modesto e sempre se mantendo, como o seu governo, num justo meio. Não causa nem inveja, nem desdém. É, enfim, o burguês moderno." [5]
  • Uma Paixão no Deserto (1830) - um dos mais perfeitos contos do autor, considerado por muitos o melhor dos que escreveu, esta obra-prima de apenas quatorze páginas (na edição da nova Editora Globo) se vale de subentendidos e reticências para contar uma história obscura que nos angustia e ao mesmo tempo nos atiça a curiosidade à medida que, num crescendo, atinge seu final. Como acontece com muitos de seus contos iniciais, esta história não tem ligação orgânica aparente com as outras obras da Comédia. Paulo Rónai especula que a identidade do protagonista, não revelada por Balzac, "poderia ter sido perfeitamente atribuída a um dos Treze, o General Montriveau, aprisionado, como sabemos, pelos selvagens da África. Seu caráter ardente e destemido até o predestinava a desempenhar o papel extraordinário do soldado provençal junto à pantera." [6]

Esta é a relação das oitenta e oito obras[7] que compõem A Comédia Humana, na ordem em que estão dispostas nos dezessete volumes da nova edição da Editora Globo, São Paulo, lançados entre 1989 e 1993:

Título no Brasil Título Original Divisão Subdivisão Grupo 1a. Edição Volume
1- Ao “Chat-qui-pelote” La Maison du “Chat-qui-pelote” Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1829 I
2- O Baile de Sceaux Le Bal de Sceaux Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1829 I
3- Memórias de Duas Jovens Esposas Mémoires de deux jeunes mariées Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1841 I
4- A Bolsa La Bourse Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 I
5- Modesta Mignon Modeste Mignon Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1844 I
6- Uma Estreia na Vida Un Début Dans la Vie Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 II
7- Alberto Savarus Albert Savarus Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 II
8- A Vendeta La Vendetta Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1830 II
9- Uma Dupla Família Une Double Famille Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 II
10- A Paz Conjugal La Paix du Ménage Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1829 II
11- A Falsa Amante La Fausse Maîtresse Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 II
12- A Senhora Firmiani Madame Firmiani Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 II
13- Estudo de Mulher Étude de femme Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1830 II
14- Uma Filha de Eva Une fille d'Eve Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1838 II
15- A Mensagem Le Message Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 III
16- O Romeiral La Grenadière Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 III
17- A Mulher Abandonada La Femme abandonnée Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 III
18- Honorina Honorine Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1843 III
19- Beatriz Béatrix Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1839 III
20- Gobseck Gobseck Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1830 III
21- A Mulher de Trinta Anos La Femme de Trente Ans Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 III
22- O Pai Goriot Le Père Goriot Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1834 IV
23- O Coronel Chabert Le Colonel Chabert Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1832 IV
24- A Missa do Ateu La Messe d'Athée Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1836 IV
25- A Interdição L'Interdiction Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1836 IV
26- O Contrato de Casamento Le Contrat de Mariage Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1835 IV
27- Outro Estudo de Mulher Autre étude de femme Estudos de Costumes Cenas da Vida Privada 1842 IV
28- Úrsula Mirouët Ursule Mirouët Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana 1841 V
29- Eugênia Grandet Eugènie Grandet Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana 1833 V
30- Pierrette Pierrette Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana Os Celibatários 1839 V
31- O Cura de Tours Le Curé de Tours Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana Os Celibatários 1832 V
32- Um Conchego de Solteirão La Rabouilleuse Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana Os Celibatários 1841 VI
33- O Ilustre Gaudissart L'Illustre Gaudissart Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana Os Parisienses na Província 1833 VI
34- A Musa do Departamento La Muse du département Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana Os Parisienses na Província 1844 VI
35- A Solteirona La Vieille Fille Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana As Rivalidades 1836 VI
36- O Gabinete das Antigüidades Le Cabinet des Antiques Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana As Rivalidades 1837 VI
37- Ilusões Perdidas Illusions Perdues Estudos de Costumes Cenas da Vida Provinciana 1843 VII
38- Ferragus Ferragus Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense História dos Treze 1833 VIII
39- A Duquesa de Langeais La Duchesse de Langeais Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense História dos Treze 1834 VIII
40- A Menina dos Olhos de Ouro La fille aux yeux d'or Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense História dos Treze 1835 VIII
41- História da Grandeza e da Decadência de César Birotteau Histoire de la Grandeur et de la Décadence de César Birotteau Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1837 VIII
42- A Casa Nucingen La Maison Nucingen Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1837 VIII
43- Esplendores e Misérias das Cortesãs Splendeurs et misères des courtisanes Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1869 IX
44- Os Segredos da Princesa de Cadignan Les Secrets de la princesse de Cadignan Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1839 IX
45- Facino Cane Facino Cane Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1836 IX
46- Sarrasine Sarrasine Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1830 IX
47- Pedro Grassou Pierre Grassou Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1839 IX
48- A Prima Bete La Cousine Bette Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense Os Parentes Pobres 1846 X
49- O Primo Pons Le Cousin Pons Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense Os Parentes Pobres 1847 X
50- Um Homem de Negócios Un homme d’affaires Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1845 XI
51- Um Príncipe da Boêmia Un prince de la bohème Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1846 XI
52- Gaudissart II Gaudissart II Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1844 XI
53- Os Funcionários Les Employés Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1838 XI
54- Os Comediantes sem o Saberem Les comédiens sans le savoir Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1846 XI
55- Os Pequenos Burgueses Les Petits Bourgeois Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1854 XI
56- O Avesso da História Contemporânea L'Envers de l'histoire contemporaine Estudos de Costumes Cenas da Vida Parisiense 1848 XI
57- Um Episódio do Terror Un épisode sous la Terreur Estudos de Costumes Cenas da Vida Política 1831 XII
58- Um Caso Tenebroso Une ténébreuse affaire Estudos de Costumes Cenas da Vida Política 1841 XII
59- O Deputado de Arcis Le Député d'Arcis Estudos de Costumes Cenas da Vida Política 1854 XII
60- Z. Marcas Z. Marcas Estudos de Costumes Cenas da Vida Política 1840 XII
61- A Bretanha em 1799 Les Chouans Estudos de Costumes Cenas da Vida Militar 1829 XII
62- Uma Paixão no Deserto Une Passion dans le Désert Estudos de Costumes Cenas da Vida Militar 1830 XII
63- Os Camponeses Les Paysans Estudos de Costumes Cenas da Vida Rural 1855 XIII
64- O Médico Rural Le Médecin de Campagne Estudos de Costumes Cenas da Vida Rural 1833 XIII
65- O Cura da Aldeia Le Curé de Village Estudos de Costumes Cenas da Vida Rural 1841 XIV
66- O Lírio do Vale Le Lys dans la vallée Estudos de Costumes Cenas da Vida Rural 1836 XIV
67- A Pele de Onagro La Peau de chagrin Estudos Filosóficos 1831 XV
68- Jesus Cristo em Flandres Jésus-Christ en Flandre Estudos Filosóficos 1831 XV
69- Melmoth Apaziguado Melmoth Réconcilié Estudos Filosóficos 1835 XV
70- Massimilla Doni Massimilla Doni Estudos Filosóficos 1839 XV
71- A Obra-Prima Ignorada Le Chef-d'œuvre inconnu Estudos Filosóficos 1832 XV
72- Gambara Gambara Estudos Filosóficos 1837 XV
73- A Procura do Absoluto La Recherche de l'absolu Estudos Filosóficos 1834 XV
74- O Filho Maldito L'Enfant maudit Estudos Filosóficos 1837 XVI
75- As Maranas Les Marana Estudos Filosóficos 1832 XVI
76- O Conscrito Le Réquisitionnaire Estudos Filosóficos 1831 XVI
77- "El Verdugo" El Verdugo Estudos Filosóficos 1830 XVI
78- Um Drama à Beira-Mar Un drame au bord de la mer Estudos Filosóficos 1835 XVI
79- Mestre Cornélius Maître Cornélius Estudos Filosóficos 1831 XVI
80- A Estalagem Vermelha L'Auberge rouge Estudos Filosóficos 1831 XVI
81- Sobre Catarina de Médicis Sur Catherine de Médicis Estudos Filosóficos 1843 XVI
82- O Elixir da Longa Vida L'Élixir de longue vie Estudos Filosóficos 1830 XVI
83- Os Proscritos Les Proscrits Estudos Filosóficos 1831 XVI
84- Adeus Adieu Estudos Filosóficos 1830 XVI
85- Luís Lambert Louis Lambert Estudos Filosóficos 1832 XVII
86- Seráfita Séraphîta Estudos Filosóficos 1834 XVII
87- Fisiologia do Casamento Physiologie du mariage Estudos Analíticos 1829 XVII
88- Pequenas Misérias da Vida Conjugal Petites misères de la vie conjugale Estudos Analíticos 1846 XVII

A edição mais antiga de 1954[8] continha ainda ensaios críticos introdutórios em cada volume, escritos por grandes críticos, filósofos e escritores famosos e traduzidos para o português. Esses ensaios foram, infelizmente, removidos na reedição acima mencionada. Em contrapartida, adicionou-se o famoso prefácio do autor, que a edição de 1954 não continha.

Volume Título do ensaio Autor Página
I A vida de Balzac Paulo Rónai xiii
II Balzac Hippolyte Taine xiii
III Balzac Victor Hugo ix
III Honoré de Balzac Théodore de Banville xv
VI Balzac Anatole France xiii
VI Balzac, escritor universal Ferdinand Baldensperger vi
V Balzac Sainte-Beuve xiii
VI Balzac e o naturalismo no romance Teófilo Braga xiii
VII Balzac Émile Faguet xiii
VIII Chaudes-Aigues e Balzac Émile Zola xi
VIII Os livros subterrâneos de Balzac Stefan Zweig xxi
IX Balzac Georg Brandes xi
X Balzac, uma análise marxista V. Grib xxi
XI Balzac e os irmãos da consolação Marcel Bouteron 494
XI Sobre caracteres no romance e no drama Hugo von Hofmannsthal xiii
XII Balzac Pierre Mille xiii
XII Introdução a Balzac Raymond Mortimer xxi
XIII O método de Balzac Ramon Fernandez xi
XIII A humanidade vista por Balzac Ronald de Carvalho xxv
XIV O caso Lemoine num romance de Balzac Marcel Proust xi
XIV H. de Balzac Nestor Victor xix
XV A influência de Balzac Ernst Curtius xiii
XVI Balzac Benedetto Croce xi
XVI Elogia e sátira de Balzac Pio Baroja xxiii
XVII Balzac Henry James xi

Referências

  1. CARPEAUX, Otto Maria, História da Literatura Ocidental, Vol. VI, pág. 1399, 2a. edição, revista e atualizada, 1982, Rio de Janeiro: Editorial Alhambra
  2. RÓNAI, Paulo, Balzac e A Comédia Humana, pág. 73, 3a. edição, 1993, São Paulo: Editora Globo
  3. RÓNAI, Paulo, op. cit., pág. 35
  4. BALZAC, Honoré de, O Pai Goriot, tradução de Gomes da Silveira, in A Comédia Humana, Vol. IV, pág. 235, orientação, introduções e notas de Paulo Rónai, nova edição, revista, 1989, São Paulo: Editora Globo
  5. BALZAC, Honoré de, Uma Estreia na Vida, tradução de Vidal de Oliveira, in op. cit., Vol. II, pág. 157
  6. RÓNAI, Paulo, introdução a Uma Paixão no Deserto in A Comédia Humana, Vol. XII, pág. 623, orientação, introduções e notas de Paulo Rónai, nova edição, revista, 1991, São Paulo: Editora Globo
  7. Na verdade, são 91 obras. A edição brasileira omitiu no final três "estudos analíticos" agrupados nas edições francesas sob o título "Patologia da Vida Social". Ver verbete "Pathologie de la vie sociale" na Wikipédia francesa.
  8. Honoré de Balzac. "A comédia humana." Org. Paulo Rónai. Porto Alegre: Editora Globo, 1954. Volume XVII