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S�ndrome de dele��o do 1p36

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Síndrome de deleção do 1p36
Síndrome de deleção do 1p36
Criança com características faciais da Síndrome de deleção do 1p36
Classificação e recursos externos
CID-10 Q93.5
CID-9 758.39
OMIM 607872
DiseasesDB 34535
MeSH C535362, C535362
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Síndrome de Delecção do 1p36 (também conhecido por monossomia 1p36) é uma doença genética congénita caracterizada por deficiência mental moderada a grave, atraso no crescimento, hipotonia, convulsões, capacidade de fala limitada, malformações, perda auditiva e de visão, e distintas características faciais. Os sintomas variam, consoante a localização da delecção.[1]

Esta doença é causada por deleção genética (perda de uma parte do ADN) no braço curto (p) do cromossoma 1 (humano). É uma das síndromes de deleção mais comuns. Estimativas internacionais dizem que acontece em 1 em cada 5,000 a 10,000 nascimentos (em Portugal apenas são conhecidos dois casos[2]). O conhecimento da doença aumentou muito nos últimos anos, principalmente porque mais pacientes foram diagnosticadas com precisão, e foi descrito na literatura médica internacional.

Características

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Certas características faciais dos pacientes com síndrome de delecção do 1p36 foram consideradas como características da doença, tendo alguns pacientes sido diagnosticados apenas com base na aparência facial. Essas características podem incluir microcefalia, olhos pequenos e profundos, nariz chato e ponte nasal achatada, orelhas pequenas e mais abaixo ou em posição assimétrica, boca pequena com os cantos para baixo e um queixo pontudo. Características apontadas noutro estudo médico fontanela ("moleirinha") grande, com fecho tardio em 85% dos pacientes e assimetria facial.

Os primeiros casos da doença foram descritos na década de 80. No entanto, uma vez que muitos desses pacientes também tinham outros problemas a nível genético, os sintomas variavam amplamente. A razão pela qual demorou tanto a ser considerada uma doença independente, foi porque os testes genéticos de rotina não detetavam estas deleções de tamanhos tão pequenos. Tecnologias de análise de ADN como FISH e MLPA ajudaram no diagnóstico e reconhecimento desta síndrome nos anos 90.

A síndrome de delecção do 1p36 é uma desordem congénita genética causada pela delecção (falta ou apagamento) do material genético na zona distal do braço curto do cromossoma 1 (humano). O cromossoma 1 é o maior cromossoma humano e representa cerca de 8% do total do DNA nas células humanas. O "p" significa braço curto do cromossoma e vem da palavra "petite". '36' é a localização da delecção no cromossoma.

Cromossoma 1 humano

Os intervalos para a Síndrome de Delecção do 1p36 são variáveis, os mais comuns são encontrados entre 1p36.13 e 1p36.33. 40 por cento de todos os pontos de interrupção ocorrem de 3-5.000.000 pares de base do telómero . O tamanho da delecção (falha\falta do material genético) varia de aproximadamente 1,5 milhões de pares de base para mais de 10 milhões. Estudos têm sugerido que quanto maior a exclusão, maior a gravidade dos sintomas exibidos no paciente, mas ainda não foi comprovado definitivamente.

A maioria das deleções no cromossoma 1p36 são novas mutações, que ocorrem antes da fertilização, durante a formação dos gâmetas (óvulos ou espermatozoides). Há também relatos de pacientes com síndrome de delecção do 1p36, cujos pais têm uma translocação equilibrada ou simétrica. Isto significa que uma porção do cromossoma é transferidos para outro cromossoma, ou seja têm a parte "36" do cromossoma 1, anexado num local alternativo. Quando isso ocorre, a divisão celular cria gâmetas com falhas no braço curto do cromossoma 1, na localização 36.

Em novas mutações (de novo), o mecanismo que causa estas falhas nos cromossomas é desconhecida. Deleções de origem paterna (pai) são maiores do que as deleções decorrentes do cromossoma materno (mãe). A maioria das deleções são de origem materna, embora nem sempre se consiga descobrir a origem. Não parece haver diferenças nas manifestações clínicas (sintomas ou condições observáveis ​​como resultado de 1p36), dependendo se a delecção está no cromossoma paterno ou materno.

Preocupações com a saúde

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Atraso no desenvolvimento

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A maioria das crianças com síndrome de deleção do 1p36 tem atraso no desenvolvimento. São crianças que se sentam, andam e falam mais tarde do que as outras crianças. A fala é gravemente afetada, com muitos pacientes de aprendizagem limitada a apenas algumas palavras. Foi inicialmente pensado que o grau do atraso e da capacidade de aquisição de linguagem complexa estava dependente do tamanho da delecção. Relatos de suave dificuldade de aprendizagem em crianças com deleções menores têm sugerido que pode haver uma correlação entre o tamanho da delecção e da capacidade mental, no entanto, isso requer mais investigação e pesquisa. A pesquisa recente da Dra. Lisa Shaffer mostrou, contudo, que não há correlação entre o tamanho da delecção e do grau de atraso de desenvolvimento.

Comportamento

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Muitas crian�as com este s�ndrome t�m problemas comportamentais. Algumas das crian�as manifestam problemas comportamentais que incluem: explos�es temperamentais, bater ou atirar com objetos, bater em pessoas, epis�dios de gritos e comportamentos auto-agressivos (morder os pulsos, bater com a cabe�a ou atiram-na para a frente e para tr�s fortemente). Em algumas crian�as tamb�m tem sido notado comportamentos autistas. Os pais descrevem como caracter�stica o amor pela �gua embora n�o haja ainda um estudo sobre isto.

Dificuldades Alimentares

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Muitas crian�as t�m disfagia orofar�ngea que � caracterizada pela dificuldade em engolir. Outros problemas na alimenta��o incluem dificuldade na suc��o (o que torna a amamenta��o muito dif�cil ou imposs�vel), refluxo e v�mitos na inf�ncia. Muitos dos casos requerem uma sonda nasog�strica ou g�strica para serem alimentados.

Resson�ncias magn�ticas ao c�rebro t�m documentado atrofia cerebral, que � caracterizada pela perda de neur�nios e das liga��es entre os mesmos. Tamb�m esta documentado problemas no sistema ventricular do c�rebro, tal como assimetria ventricular e aumento ventricular. Hidrocefalia tamb�m foi diagnosticada em crian�as com a s�ndrome de delec��o do 1p36, isto � um aumento do liquido existente no c�rebro. Hiperreflexia que � definido como reflexos hiperactivos ou demasiados reflexos no corpo, foi encontrada tamb�m em muitos pacientes. Muitas crian�as tamb�m t�m epilepsia que � um dist�rbio do c�rebro que resulta em recorrentes convuls�es n�o provocadas.

Microcefalia � uma doen�a em que a circunfer�ncia da cabe�a � menor do que a m�dia por pessoa de idade e sexo. A maioria das crian�as com microcefalia tamb�m t�m um c�rebro pequeno e atraso mental. Alguns dos sinais e sintomas mais comuns associados com microcefalia, s�o convuls�es, m� alimenta��o, choro agudo alto, atraso mental, atraso do desenvolvimento e aumento da movimenta��o de bra�os e pernas.

Problemas de vis�o

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Os problemas que afetam a vis�o nas crian�as com este sindrome s�o amplos e incluem:

  • Estrabismo: Doen�a na qual quando observando um objeto long�nquo os olhos n�o apontam na mesma dire��o.
  • Paralisia do 6� nervo (?): Vis�o dupla
  • Erros de refrac��o: Erros de refra��o incluem miopia, hipermetropia, astigmatismo (uma deforma��o da curvatura da c�rnea) e presbiopia (incapacidade de manter uma imagem clara ou focar quando os objetos s�o movidos para maior proximidade). Estes dist�rbios oculares podem ser corrigido com �culos ou lentes de contacto.
  • Hipermetropia: Quando os olhos s�o muito pequenos e t�m que focar em demasia para ver claramente.
  • Cataratas: Uma catarata � uma opacidade no olho.
  • Nistagmo: Caracterizada por oscila��es repetidas dos olhos.
  • Defeitos na gl�ndula lacrimal: A gl�ndula lacrimal � onde s�o criadas as l�grimas.
  • Desaten��o visual: Definida como uma falta de aten��o visual, como o fixar e acompanhar os movimentos de objectos.

Caracter�sticas faciais distintas

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As crian�as com s�ndrome de delec��o do 1p36 s�o indiv�duos �nicos, mas t�m algumas caracter�sticas distintas faciais em comum, tais como:

  • Fontanela grande: A fontanela � a comummente chamada "moleirinha", que � o ponto mole entre os ossos do cr�nio quando nascem. Nestas crian�as o fecho da fontanela d�-se mais tarde.
  • Queixo pequeno e pontudo
  • Nariz achatado e ou ponte nasal larga
  • Orelhas pequenas, mais abaixo e ou assim�tricas: Orelhas mais abaixo que o normal e por vezes pequenas. Podem tamb�m n�o ter o mesmo tamanho e forma e estarem em posi��es diferentes (uma mais acima que a outra).
  • Olhos profundos
  • H�lices das orelhas espessas: As h�lices das orelhas s�o os an�is exteriores das orelhas em cartilagem.
  • Fissuras das p�lpebras curtas e pequenas ou obliquas: As fissuras das p�lpebras s�o o espa�o entre a p�lpebras superior e inferior, ou abertura dos olhos.
  • Hipoplasia: O meio da face encontra-se subdesenvolvido o que leva a que o rosto pare�a c�ncavo. O nariz parece estar "afundado" e os olhos est�o afastados e por vezes s�o sa�dos.
  • Boca pequena com cantos virados para baixo
  • Deforma��es faciais como fenda palatina: � muito comum que o feto desenvolva deformidades faciais ao n�vel do l�bio superior, gengivas, e c�u da boca. Crian�as com 1p36 t�m por vezes fissuras orofaciais envolvendo os l�bios e\ou palato e �vula.

Existem alguns problemas de crescimento associados � s�ndrome de delec��o do 1p36. Um dos mais comuns � o atraso no crescimento e a dificuldade de ganhar peso. Apesar de algumas crian�as comerem bem, mesmo assim t�m dificuldades em aumentar o peso e no crescimento. Ao mesmo tempo algumas crian�as desenvolvem hiperfagia, que � comer em excesso, e por consequ�ncia desenvolvem obesidade. Clinicamente falando estas crian�as assemelham-se �s crian�as com S�ndrome de Prader-Willi.

  • Hipotonia: Hipotonia � uma baixa de t�nus muscular ou t�nus muscular muito diminu�do. Isto explica o atraso motor nas crian�as com 1p36.
  • Hipotiroidismo: O hipotiroidismo � a produ��o insuficiente da hormona da tiroide. Os sintomas incluem o ganho de peso, obstipa��o, pele seca e sensibilidade ao frio. Cerca de um ter�o das crian�as com a s�ndrome t�m essa fun��o baixa da tiroide, chamada de hipotiroidismo, e leva ao desacelerar do metabolismo e fadiga.
  • Defeitos card�acos:
    • Cardiomiopatia infantil: Cardiomiopatia dilatada (CMD) � uma doen�a do m�sculo do cora��o, que faz o cora��o expandir-se e bombear com menos intensidade o sangue. Isso faz com que l�quido se acumule nos pulm�es, que, portanto, ficam congestionados, o que resulta numa sensa��o de falta de ar. As crian�as com DCM, devido � s�ndrome de dele��o do 1p36 geralmente n�o pioram com o tempo, embora alguns deles possam precisar de continuar a tomar medica��o.
    • Cardiopatia cong�nita: PCA ou Persist�ncia do canal arterial: � um dos defeitos estruturais card�acos mais comuns nas crian�as com esta s�ndrome. � uma doen�a na qual o vaso sangu�neo de liga��o entre a art�ria pulmonar e a aorta na circula��o fetal permanece aberto ap�s o nascimento. O defeito, muitas vezes corrige-se a si mesmo v�rios meses ap�s nascimento, mas podem requerer o uso de subst�ncias qu�micas, a coloca��o de "plugs" atrav�s de cateteres, ou o fecho cir�rgico.
    • Tetralogia de Fallot: � um defeito do septo ventricular, um buraco entre ambas as c�maras inferiores (ventr�culos) do cora��o. Este defeito pode pode causar menor fluxo de sangue para os pulm�es, a mistura de sangue rico em oxig�nio e pobre em oxig�nio dentro do cora��o, e baixos n�veis de oxig�nio no sangue. Quando os n�veis de oxig�nio s�o baixos, a pele do beb�, dedos ou l�bios t�m um tom azulado. A isto chama-se cianose.
  • Risco aumentado de Neoplasia: As altera��es a n�vel de cromossomas nesta s�ndrome, principalmente dele��es, foram relatados para poder ocorrer v�rios tipos de tumores, tumores esses que podem ser benignas ou malignas. A regi�o 1p36 cont�m um n�mero de genes supressores de tumores, que s�o genes que atuam para impedir o crescimento celular. A supress�o de um ou mais destes genes podem causar cancro. Algumas das doen�as s�o neuroblastoma, cancro da pr�stata, cancro do pulm�o, melanoma, cancro do colo do �tero, cancro da mama, cancro do c�lon, cancro do ov�rio, e Linfoma n�o-Hodgkin. N�o quer dizer que as crian�as com a s�ndrome de delec��o do 1p36 v�o desenvolver qualquer esp�cie de cancro, mas � uma teoria que tem sido estudada.
  • Hipoplasia genital: hipoplasia genital � o subdesenvolvimento da regi�o genital. Alguns dos problemas genitais em crian�as com 1p36 s�o:
    • Criptorquidia: Quando um ou ambos os test�culos n�o descem para o escroto.
    • Escroto muito grande: Uma doen�a na qual o escroto envolve o p�nis.
    • Genitais pequenos

Dilata��o do sistema coletor renal

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O sistema de recolha é a estrutura que recolhe a urina diretamente a partir do tecido renal por meio da uretra para a bexiga. Anormalidades estruturais renais são raras em ambos os sexos.

Perda auditiva

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A perda auditiva afeta cerca de dois terços dos pacientes com síndrome de delecção do 1p36. Pode ser de diferentes tipos. A perda auditiva neurossensorial é um tipo de deficiência auditiva causada por um dano que ocorre na orelha interna (cóclea) ou nervo usado para audição (nervo vestibulococlear). Perda auditiva condutiva é uma perda de audição associada ao funcionamento do ouvido externo ou médio. Vai desde uma perda leve em frequências diferentes, a perda severa em todas as frequências.

A Puberdade em crianças com a síndrome de delecção do 1p36 pode ser precoce, normal, ou tardia.

Deformidades da coluna vertebral

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Apenas algumas deformidades foram encontradas nas crianças com 1p36, sendo elas:

  • Cifoescoliose: Combinando uma curvatura lateral com curvar para a frente da arte superior da coluna.
  • cifose postural: Foi encontrada como efeito secundário da hipotonia das crianças com 1p36.

Tratamentos e terapia

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Embora a Síndrome de Delecção do 1p36 possa ser debilitante em muitos aspetos, os pacientes respondem a vários tratamentos e terapias. Estes incluem os seguintes:

Linguagem gestual: Porque poucos indivíduos com esta síndrome desenvolvem linguagem complexa, uma forma alternativa de comunicação é fundamental para o desenvolvimento. A maioria dos pacientes podem aprender sinais básicos para comunicar as suas necessidades e desejos. Esta aprendizagem parece reduzir a sua frustração e pode reduzir as tendências de se magoarem a eles mesmos.

Música: A música mostrou-se muito útil para ajudar as crianças com síndrome de delecção do 1p36 em várias áreas de desenvolvimento. Serve não só como um excelente estimulo auditivo, como as músicas com ações ajudam as crianças a desenvolver capacidades motoras e de coordenação.

Fisioterapia: Devido ao baixo tónus muscular, os pacientes com esta doença demoram a aprender a rebolar, sentar, gatinhar e andar. No entanto a fisioterapia regular mostrou resultados no que diz respeito ao encurtamento do tempo necessário para adquirirem estas capacidades.

  • texto segundo o último acordo ortográfico da língua portuguesa

Ligações externas

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