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Tremembés

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Tremembés
Pormenor do mapa da costa do Ceará de 1629 (Albernaz I); em destaque, as terras dos tremembés.
População total

aprox. 20 000 (período colonial)[1]
3 662 (Siasi/Sesai, 2014)[2]

Regiões com população significativa
 Ceará 3662 (Siasi/Sesai, 2014) [2]
 Maranh�o
Par� Par�
 Piau�
 Tocantins
 Minas Gerais
L�nguas
L�ngua portuguesa
L�ngua trememb�
L�ngua goitac�[3]
L�ngua geral poromong�et�[4][5][6]
Religi�es
[7][2]
Etnia
Nord�stidos[8]
Grupos �tnicos relacionados
Goitac�s
Catagu�s
Araios
Mau�s
Muras
Puris

Os trememb�s s�o um povo �tnico ind�gena que habita atualmente a �rea ind�gena Trememb� de Almofala (Itarema) e as terras ind�genas S�o Jos� e Buriti (Itapipoca), C�rrego do Jo�o Pereira (Itarema e Acara�) e Trememb� de Queimadas (Acara�), no litoral do estado do Cear�, no Brasil. Tamb�m est�o presentes em cidades do Maranh�o como, Araioses e Tut�ia, ap�s migra��es de terras cearenses.[9] O principal objetivo dos Trememb� � a demarca��o de terras. S�o um povo que d� muita import�ncia aos costumes, cultura e hist�ria para as pr�ximas gera��es.[10] A organiza��o da tribo � separada entre os agentes de aldeamento. Ei-los: os diretores e cuidadores de �ndios, ju�zes de orf�os, religiosos, ligados � igreja, e por fim, membros da irmandade da Nossa Senhora da Concei��o.[11]

O voc�bulo � oriundo da express�o Tupi "tere-memb�" que pode significar "tumultuario, amotinado"[12] ou "encharcado, alagadi�o"[13] em alus�o aos lugares onde o povo trememb� costumava habitar que geralmente eram compostos por brejos e pantanais na beira-mar. Muitos especialistas defendem tratar-se duma exodenomina��o dada pelos Tupis, a maneira como os Tupis os viam "peixes racionais" ou "moradores d'�gua". [14]

Descri��o

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Descri��es dadas por Vicente Pinz�n e sua tripula��o ao se depararem com os trememb�s na costa cearense.

Na sua visita as costas cearenses Pinz�n n�o conseguiu contacto directo com os nativos do cabo de Santa Maria de la Consolaci�n; notou por�m que eles usavam bons arcos e lan�as. Na sua segunda esta��o, em Rostro Hermoso, (Mucuripe) observou-os mais detidamente. Verificou que pernoitavam ao ar livre e acendiam fogos, dando a impress�o que havia ali um acampamento. Percebeu tamb�m que "eram mais altos do que germanos ou h�ngaros". Informaram ainda os expedicion�rios, sob juramento, a M�rtir que as pegadas dessa gente igualavam quase o dobro da do homem m�dio da Espanha.[15]

Descri��es do Pe. Ivo d'Evreuz acerca da destreza dos trememb�s no uso do arco e flecha e de sua for�a f�sica colossal.

0 pe. lvo d'Evreuz diz que os Trememb�s se alimentavam ordinariamente de peixes, por�m, iam a ca�a; n�o gostavam de fazer hortas (agricultura) nem casas; moravam sob choupanas e preferiam as planicies �s florestas. Com mais destreza que os Tupinamb�s pescavam � flecha. S�o t�o robustos, acrescenta o padre, a ponto de segurarem pelo bra�o um dos seus inimigos (Tupinamb�) e atirarem-no ao ch�o como se fosse um cap�o (galinha). Dormem ordinariamente na areia.[16]

Origem dos trememb�s

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Distribui��o dos grupos ind�genas no litoral do Brasil no s�culo XVI
Etnias ind�genas com mais representantes no Leste-Nordeste do Brasil
Mapa indicando a presen�a ind�gena contempor�nea no Cear�. Fontes: Funda��o Nacional do �ndio e Funda��o Nacional de Sa�de.

Os trememb�s eram originalmente n�mades n�o tupis que viviam num territ�rio que se estendia do sul do Maranh�o at� ao Rio Acara�, no atual estado do Cear�[17].

A expedi��o de Vicente Pinz�n em setembro de 1500 menciona pela primeira vez os habitantes nativos da costa do Cear�. Um ano mais tarde, a expedi��o de Am�rico Vesp�cio pela costa do Nordeste brasileiro em 1501 traria em suas cr�nicas epis�dios envolvendo os trememb�s, embora ainda sem denomina��o tribal.[18]

Exercem por dois s�culos trocas comerciais com muitos europeus que atracavam na costa brasileira a fim de manter controle sob o seu territ�rio. No s�culo XVIII foram aldeados pelos Jesu�tas nas miss�es de Tutoya (Tut�ia-Maranh�o), Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia).[19][20] Nos tempos coloniais, os Trememb� viviam na regi�o desde a foz do rio Gurupi, no Maranh�o, at� a Serra de Ibiapaba, no Cear�. Viviam principalmente da pesca e do com�rcio de estrangeiros. Eram corajosos e resistentes aos ataques dos colonizadores.[10]

Foram declarados como n�o existentes pelo ent�o governador da Prov�ncia do Cear� (Jos� Bento da Cunha Figueiredo J�nior), ap�s decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os �ndios perderam o direito da terra pela regulamenta��o da Lei da Terra. Esses ressurgem no cen�rio cearense nas d�cadas de 1980 e 1990, quando s�o reconhecidos pela Funda��o Nacional do �ndio.[21]

Nas d�cadas de 1950 e 1960, fam�lias trememb�s emigraram aos munic�pios de Raposa, junto com migra��es de pescadores cearenses para a regi�o, e de S�o Jos� de Ribamar, para trabalhar num dos engenhos da regi�o.[22][9]

Em 2013, os trememb�s de Raposa tiveram sua etnicidade reconhecida pela Funai, em processo que contou com a participa��o de alguns membros do povo trememb�, que continua a viver em Almofala, e lutam pelo acesso aos direitos espec�ficos e pol�ticas sociais.[23]

Os trememb�s de S�o Jos� de Ribamar lutam por reconhecimento �tnico e pela posse das terras da comunidade de Engenho.[24][9]

Lideran�as trememb�s que ficaram na hist�ria

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Cacique Tatugua�u (Tatu Grande)

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Principal trememb�, inimigo dos portugueses, certa feita tentou dizimar uma expedi��o portuguesa que depois de muito perigo logrou fugir durante a noite. (S�culo XVI).[25]

Tatupeba (Tatu chato)

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Cacique de Camocim, Cear�.[25]

Arinh� Mag�

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Cacique do povo Araio no Maranh�o (1679 - 12 de abril de 1763). [26]

Arte e cultura

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Arte trememb�

Os trememb�s conseguiram reaprender um pouco da sua arte e cultura. Dan�am o tor�m (uma dan�a tradicional trememb�) e ainda produzem o mocoror� (vinho de caju azedo fermentado).[27] Costumam pintar as paredes das suas habita��es, das escolas diferenciadas e cer�micas com motivos simb�licos do seu habitat, como: o caju, a rolinha, peixes, caranguejos e outros. As mulheres trememb�s confeccionam biojoias, como colares e pulseiras com conchas, b�zios e sementes e costumam vend�-las a 7 de Setembro, dia em que os trememb�s empreendem a marcha trememb� desde 2003.[28] Realizam-se muitos eventos culturais ao longo do ano pela tribo Trememb�. Eis alguns exemplos: o Tor�m, uma manifesta��o cultural relacionada � natureza, e tamb�m outros eventos, como a Festa do Murici e Batiput�, Festa e Iemanj�, etc.[10] A tecelagem tamb�m � confeccionada por eles. Os Trememb� falam apenas o portugu�s brasileiro, mas guardam resqu�cios da l�ngua nativa, conhecida como Poromonguet�, uma l�ngua derivada da fam�lia de l�nguas Tupi. Os c�nticos do Tor�m cont�m muitas palavras do Poromonguet�, misturadas � palavras de origem Tupi.[4]

Dan�a do caro�o

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Não há consenso quanto à origem da dança do caroço, há quem correlacione suas origens a antigos ritos de origem africana.[29] No entanto, muitos também afirmam que está diretamente ligada ao povo tremembé que habitava o município de Tutóia antes da chegada dos colonizadores na região.[30]

Exímios nadadores e pescadores

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Os tremembés são descritos como hábeis nadadores e pescadores por cronistas do período colonial, conforme é relatado, arremetiam a nado contra os tubarões com uma madeira pontuda, enfiavam-na guela adentro da boca do animal e traziam-no a superfície não tanto com o propósito de comê-lo, mas para extrair-lhe os dentes e fazer as pontas de suas flechas que eram venenosas e mortíferas.[31]

Pré-Tremembés

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O engenheiro, escritor e presidente do Instituto do Ceará Pompeu Sobrinho defendeu enquanto vivo que os tremembés habitaram alguns trechos das praias do Sul do Brasil, o que englobava um território que corresponde desde o atual estado do Rio Grande do Sul até o atual estado do Rio de Janeiro. No estado de São Paulo há uma praia cujo tupônimo é "Tremembé" em alusão a esse povo que outrora lá habitara. [32]

Notas

  1. Catolicismo sincrético, convivência de santos católicos com os espíritos de caboclos.

Referências

  1. «Tribos Indígenas Brasileiras». web.archive.org. 2 de janeiro de 2016. Consultado em 4 de fevereiro de 2023. Cópia arquivada em 2 de janeiro de 2016 
  2. a b c Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/tremembe. Acesso em 15 de março de 2017.
  3. Pinto, Estêvão. Os indígenas do nordeste. EDIÇÃO ILUSTRADA COM 45 DESENHOS E MAPAS. 1935. Campanha Editora Nacional. p. 144, 145.
  4. a b Tremembé, Mbo'esara (28 de dezembro de 2010). «Poromonguetá: a Língua dos Tremembé». xembae.blogspot. Consultado em 18 de novembro de 2022 
  5. «Poromongûetá love poem». love.poem.free.fr (em pr). Consultado em 12 de fevereiro de 2023 
  6. «Povo Tremembé do litoral cearense é celebrado em coleção de moda». AGÊNCIA ECONORDESTE. 12 de janeiro de 2022. Consultado em 12 de fevereiro de 2023 
  7. Project, Joshua. «Tremembe in Brazil». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2022 
  8. Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 78, 79, 124.
  9. a b c Elizabeth Maria Beserra Coelho; Mônica Ribeiro Moraes de Almeida. «31ª REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA GT 56. Povos indígenas, afrodescendentes e outros povos tradicionais, conflitos territoriais, e o não reconhecimento pelo Estado nacional.». DINAMICAS DAS LUTAS POR RECONHECIMENTO ÉTNICO NO MARANHÃO 
  10. a b c Cabral, Ana (2014). História dos Tremembé: memórias dos próprios índios (PDF). [S.l.: s.n.] 
  11. «Tremembé - Povos Indígenas no Brasil». Tremembé - Povos Indígenas no Brasil. 25 de janeiro de 2021. Consultado em 18 de novembro de 2022 
  12. B. Caetano. Vocabulário. p. 459.
  13. Sampaio, Teodoro. O TUPI NA GEOGRAFIA NACIONAL. 5° edição. Comemorativa do cinquentenário de falecimento do autor. P, 137.
  14. Nogueira, Paulino. Vocabulário indígena. Em uso na província do Ceará. p. 423.
  15. Sobrinho, Pompeu. Revista do Instituto do Ceará. P, 259.
  16. Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 80,81.
  17. BUENO, E. Brasil: uma história. Segunda edição revista. São Paulo. Ática. 2003. p. 18,19.
  18. Thomaz Pompeu Sobrinho (1951). «Os índios tremembés» (PDF). Instituto do Ceará. Revista do Instituto do Ceará. 65: p. 257. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  19. Galvão, R. Arte Tremembé. Fortaleza: SEBRAE-CE. 2005
  20. D‘ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padre capuchinhos na Ilha do Maranhão [1614]. São Paulo: Siciliano, 2002.
  21. Revista Universidade Pública Ano III -N° 12. Fortaleza: UFC. Julho/Agosto 2002
  22. «Saga do povo Tremembé em Raposa é destaque no Repórter Mirante» 
  23. Elizabeth Maria Beserra Coelho. «"NÓS SOMOS UMA RESISTÊNCIA, NÃO SÓ NO BRASIL, MAS NO MUNDO": a luta dos Tremembé do Engenho» (PDF) 
  24. «Presidente do STF suspende reintegração de posse em Tremembé do Engenho em São José de Ribamar». Jornal Pequeno. 5 de novembro de 2020. Consultado em 21 de novembro de 2021 
  25. a b Gustavo de Almeida, Geraldo. HERÓIS INDÍGENAS DO BRASIL. Livraria Editora Catedra. Rio de Janeiro, 1988. P. 113.
  26. Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE). https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3563&view=detalhes. Consultado em 28 de novembro de 2022.
  27. «Cópia arquivada». Consultado em 8 de fevereiro de 2009. Arquivado do original em 9 de julho de 2010 
  28. BORGES, J. F.; Os Senhores das Dunas e os Adventícios d’além--mar: Primeiros contatos, tentativas de colonização e autonomia Tremembé na costa leste-oeste (SÉCULOS XVI e XVII). Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2010.
  29. https://poemia.wordpress.com/2009/06/07/danca-do-caroco/
  30. https://naturturismo.com.br/pb/tutoia/
  31. Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 80.
  32. Sobrinho, Pompeu. ÍNDIOS TREMEMBÉ. Revista do instituto do Ceará. 1951. p. 258

Ligações externas

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