Tremembés
Tremembés | ||||||||||||||||||
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Pormenor do mapa da costa do Ceará de 1629 (Albernaz I); em destaque, as terras dos tremembés. | ||||||||||||||||||
População total | ||||||||||||||||||
aprox. 20 000 (período colonial)[1] | ||||||||||||||||||
Regiões com população significativa | ||||||||||||||||||
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L�nguas | ||||||||||||||||||
L�ngua portuguesa L�ngua trememb� L�ngua goitac�[3] L�ngua geral poromong�et�[4][5][6] | ||||||||||||||||||
Religi�es | ||||||||||||||||||
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Etnia | ||||||||||||||||||
Nord�stidos[8] | ||||||||||||||||||
Grupos �tnicos relacionados | ||||||||||||||||||
Goitac�s Catagu�s Araios Mau�s Muras Puris |
Os trememb�s s�o um povo �tnico ind�gena que habita atualmente a �rea ind�gena Trememb� de Almofala (Itarema) e as terras ind�genas S�o Jos� e Buriti (Itapipoca), C�rrego do Jo�o Pereira (Itarema e Acara�) e Trememb� de Queimadas (Acara�), no litoral do estado do Cear�, no Brasil. Tamb�m est�o presentes em cidades do Maranh�o como, Araioses e Tut�ia, ap�s migra��es de terras cearenses.[9] O principal objetivo dos Trememb� � a demarca��o de terras. S�o um povo que d� muita import�ncia aos costumes, cultura e hist�ria para as pr�ximas gera��es.[10] A organiza��o da tribo � separada entre os agentes de aldeamento. Ei-los: os diretores e cuidadores de �ndios, ju�zes de orf�os, religiosos, ligados � igreja, e por fim, membros da irmandade da Nossa Senhora da Concei��o.[11]
Etimologia
[editar | editar c�digo-fonte]O voc�bulo � oriundo da express�o Tupi "tere-memb�" que pode significar "tumultuario, amotinado"[12] ou "encharcado, alagadi�o"[13] em alus�o aos lugares onde o povo trememb� costumava habitar que geralmente eram compostos por brejos e pantanais na beira-mar. Muitos especialistas defendem tratar-se duma exodenomina��o dada pelos Tupis, a maneira como os Tupis os viam "peixes racionais" ou "moradores d'�gua". [14]
Descri��o
[editar | editar c�digo-fonte]Descri��es dadas por Vicente Pinz�n e sua tripula��o ao se depararem com os trememb�s na costa cearense.
Na sua visita as costas cearenses Pinz�n n�o conseguiu contacto directo com os nativos do cabo de Santa Maria de la Consolaci�n; notou por�m que eles usavam bons arcos e lan�as. Na sua segunda esta��o, em Rostro Hermoso, (Mucuripe) observou-os mais detidamente. Verificou que pernoitavam ao ar livre e acendiam fogos, dando a impress�o que havia ali um acampamento. Percebeu tamb�m que "eram mais altos do que germanos ou h�ngaros". Informaram ainda os expedicion�rios, sob juramento, a M�rtir que as pegadas dessa gente igualavam quase o dobro da do homem m�dio da Espanha.[15]
Descri��es do Pe. Ivo d'Evreuz acerca da destreza dos trememb�s no uso do arco e flecha e de sua for�a f�sica colossal.
0 pe. lvo d'Evreuz diz que os Trememb�s se alimentavam ordinariamente de peixes, por�m, iam a ca�a; n�o gostavam de fazer hortas (agricultura) nem casas; moravam sob choupanas e preferiam as planicies �s florestas. Com mais destreza que os Tupinamb�s pescavam � flecha. S�o t�o robustos, acrescenta o padre, a ponto de segurarem pelo bra�o um dos seus inimigos (Tupinamb�) e atirarem-no ao ch�o como se fosse um cap�o (galinha). Dormem ordinariamente na areia.[16]
Origem dos trememb�s
[editar | editar c�digo-fonte]Os trememb�s eram originalmente n�mades n�o tupis que viviam num territ�rio que se estendia do sul do Maranh�o at� ao Rio Acara�, no atual estado do Cear�[17].
A expedi��o de Vicente Pinz�n em setembro de 1500 menciona pela primeira vez os habitantes nativos da costa do Cear�. Um ano mais tarde, a expedi��o de Am�rico Vesp�cio pela costa do Nordeste brasileiro em 1501 traria em suas cr�nicas epis�dios envolvendo os trememb�s, embora ainda sem denomina��o tribal.[18]
Exercem por dois s�culos trocas comerciais com muitos europeus que atracavam na costa brasileira a fim de manter controle sob o seu territ�rio. No s�culo XVIII foram aldeados pelos Jesu�tas nas miss�es de Tutoya (Tut�ia-Maranh�o), Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia).[19][20] Nos tempos coloniais, os Trememb� viviam na regi�o desde a foz do rio Gurupi, no Maranh�o, at� a Serra de Ibiapaba, no Cear�. Viviam principalmente da pesca e do com�rcio de estrangeiros. Eram corajosos e resistentes aos ataques dos colonizadores.[10]
Foram declarados como n�o existentes pelo ent�o governador da Prov�ncia do Cear� (Jos� Bento da Cunha Figueiredo J�nior), ap�s decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os �ndios perderam o direito da terra pela regulamenta��o da Lei da Terra. Esses ressurgem no cen�rio cearense nas d�cadas de 1980 e 1990, quando s�o reconhecidos pela Funda��o Nacional do �ndio.[21]
Nas d�cadas de 1950 e 1960, fam�lias trememb�s emigraram aos munic�pios de Raposa, junto com migra��es de pescadores cearenses para a regi�o, e de S�o Jos� de Ribamar, para trabalhar num dos engenhos da regi�o.[22][9]
Em 2013, os trememb�s de Raposa tiveram sua etnicidade reconhecida pela Funai, em processo que contou com a participa��o de alguns membros do povo trememb�, que continua a viver em Almofala, e lutam pelo acesso aos direitos espec�ficos e pol�ticas sociais.[23]
Os trememb�s de S�o Jos� de Ribamar lutam por reconhecimento �tnico e pela posse das terras da comunidade de Engenho.[24][9]
Lideran�as trememb�s que ficaram na hist�ria
[editar | editar c�digo-fonte]Cacique Tatugua�u (Tatu Grande)
[editar | editar c�digo-fonte]Principal trememb�, inimigo dos portugueses, certa feita tentou dizimar uma expedi��o portuguesa que depois de muito perigo logrou fugir durante a noite. (S�culo XVI).[25]
Tatupeba (Tatu chato)
[editar | editar c�digo-fonte]Cacique de Camocim, Cear�.[25]
Arinh� Mag�
[editar | editar c�digo-fonte]Cacique do povo Araio no Maranh�o (1679 - 12 de abril de 1763). [26]
Arte e cultura
[editar | editar c�digo-fonte]O tor�m
[editar | editar c�digo-fonte]Os trememb�s conseguiram reaprender um pouco da sua arte e cultura. Dan�am o tor�m (uma dan�a tradicional trememb�) e ainda produzem o mocoror� (vinho de caju azedo fermentado).[27] Costumam pintar as paredes das suas habita��es, das escolas diferenciadas e cer�micas com motivos simb�licos do seu habitat, como: o caju, a rolinha, peixes, caranguejos e outros. As mulheres trememb�s confeccionam biojoias, como colares e pulseiras com conchas, b�zios e sementes e costumam vend�-las a 7 de Setembro, dia em que os trememb�s empreendem a marcha trememb� desde 2003.[28] Realizam-se muitos eventos culturais ao longo do ano pela tribo Trememb�. Eis alguns exemplos: o Tor�m, uma manifesta��o cultural relacionada � natureza, e tamb�m outros eventos, como a Festa do Murici e Batiput�, Festa e Iemanj�, etc.[10] A tecelagem tamb�m � confeccionada por eles. Os Trememb� falam apenas o portugu�s brasileiro, mas guardam resqu�cios da l�ngua nativa, conhecida como Poromonguet�, uma l�ngua derivada da fam�lia de l�nguas Tupi. Os c�nticos do Tor�m cont�m muitas palavras do Poromonguet�, misturadas � palavras de origem Tupi.[4]
Dan�a do caro�o
[editar | editar c�digo-fonte]Não há consenso quanto à origem da dança do caroço, há quem correlacione suas origens a antigos ritos de origem africana.[29] No entanto, muitos também afirmam que está diretamente ligada ao povo tremembé que habitava o município de Tutóia antes da chegada dos colonizadores na região.[30]
Exímios nadadores e pescadores
[editar | editar código-fonte]Os tremembés são descritos como hábeis nadadores e pescadores por cronistas do período colonial, conforme é relatado, arremetiam a nado contra os tubarões com uma madeira pontuda, enfiavam-na guela adentro da boca do animal e traziam-no a superfície não tanto com o propósito de comê-lo, mas para extrair-lhe os dentes e fazer as pontas de suas flechas que eram venenosas e mortíferas.[31]
Pré-Tremembés
[editar | editar código-fonte]O engenheiro, escritor e presidente do Instituto do Ceará Pompeu Sobrinho defendeu enquanto vivo que os tremembés habitaram alguns trechos das praias do Sul do Brasil, o que englobava um território que corresponde desde o atual estado do Rio Grande do Sul até o atual estado do Rio de Janeiro. No estado de São Paulo há uma praia cujo tupônimo é "Tremembé" em alusão a esse povo que outrora lá habitara. [32]
Notas
- ↑ Catolicismo sincrético, convivência de santos católicos com os espíritos de caboclos.
Referências
- ↑ «Tribos Indígenas Brasileiras». web.archive.org. 2 de janeiro de 2016. Consultado em 4 de fevereiro de 2023. Cópia arquivada em 2 de janeiro de 2016
- ↑ a b c Povos indígenas no Brasil. Disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/povo/tremembe. Acesso em 15 de março de 2017.
- ↑ Pinto, Estêvão. Os indígenas do nordeste. EDIÇÃO ILUSTRADA COM 45 DESENHOS E MAPAS. 1935. Campanha Editora Nacional. p. 144, 145.
- ↑ a b Tremembé, Mbo'esara (28 de dezembro de 2010). «Poromonguetá: a Língua dos Tremembé». xembae.blogspot. Consultado em 18 de novembro de 2022
- ↑ «Poromongûetá love poem». love.poem.free.fr (em pr). Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ «Povo Tremembé do litoral cearense é celebrado em coleção de moda». AGÊNCIA ECONORDESTE. 12 de janeiro de 2022. Consultado em 12 de fevereiro de 2023
- ↑ Project, Joshua. «Tremembe in Brazil». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 8 de agosto de 2022
- ↑ Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 78, 79, 124.
- ↑ a b c Elizabeth Maria Beserra Coelho; Mônica Ribeiro Moraes de Almeida. «31ª REUNIÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA GT 56. Povos indígenas, afrodescendentes e outros povos tradicionais, conflitos territoriais, e o não reconhecimento pelo Estado nacional.». DINAMICAS DAS LUTAS POR RECONHECIMENTO ÉTNICO NO MARANHÃO
- ↑ a b c Cabral, Ana (2014). História dos Tremembé: memórias dos próprios índios (PDF). [S.l.: s.n.]
- ↑ «Tremembé - Povos Indígenas no Brasil». Tremembé - Povos Indígenas no Brasil. 25 de janeiro de 2021. Consultado em 18 de novembro de 2022
- ↑ B. Caetano. Vocabulário. p. 459.
- ↑ Sampaio, Teodoro. O TUPI NA GEOGRAFIA NACIONAL. 5° edição. Comemorativa do cinquentenário de falecimento do autor. P, 137.
- ↑ Nogueira, Paulino. Vocabulário indígena. Em uso na província do Ceará. p. 423.
- ↑ Sobrinho, Pompeu. Revista do Instituto do Ceará. P, 259.
- ↑ Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 80,81.
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- ↑ Galvão, R. Arte Tremembé. Fortaleza: SEBRAE-CE. 2005
- ↑ D‘ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padre capuchinhos na Ilha do Maranhão [1614]. São Paulo: Siciliano, 2002.
- ↑ Revista Universidade Pública Ano III -N° 12. Fortaleza: UFC. Julho/Agosto 2002
- ↑ «Saga do povo Tremembé em Raposa é destaque no Repórter Mirante»
- ↑ Elizabeth Maria Beserra Coelho. «"NÓS SOMOS UMA RESISTÊNCIA, NÃO SÓ NO BRASIL, MAS NO MUNDO": a luta dos Tremembé do Engenho» (PDF)
- ↑ «Presidente do STF suspende reintegração de posse em Tremembé do Engenho em São José de Ribamar». Jornal Pequeno. 5 de novembro de 2020. Consultado em 21 de novembro de 2021
- ↑ a b Gustavo de Almeida, Geraldo. HERÓIS INDÍGENAS DO BRASIL. Livraria Editora Catedra. Rio de Janeiro, 1988. P. 113.
- ↑ Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE). https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=3563&view=detalhes. Consultado em 28 de novembro de 2022.
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 8 de fevereiro de 2009. Arquivado do original em 9 de julho de 2010
- ↑ BORGES, J. F.; Os Senhores das Dunas e os Adventícios d’além--mar: Primeiros contatos, tentativas de colonização e autonomia Tremembé na costa leste-oeste (SÉCULOS XVI e XVII). Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2010.
- ↑ https://poemia.wordpress.com/2009/06/07/danca-do-caroco/
- ↑ https://naturturismo.com.br/pb/tutoia/
- ↑ Sobrinho, Pompeu. Pré-História Cearense. 1° tomo. Editora "Instituto do Ceará". 1955. p. 80.
- ↑ Sobrinho, Pompeu. ÍNDIOS TREMEMBÉ. Revista do instituto do Ceará. 1951. p. 258
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Povos indígenas do Brasil» Arquivado em 10 de março de 2007, no Wayback Machine.
- «Dados gerais dos Tremembés»