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Bixiga

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 Nota: Para órgão humano, veja Bexiga.

Bixiga
Bairro de São Paulo
Villa Tavola
Dia Oficial 1 de outubro
Fundação 1 de outubro de 1878 (146 anos)
Imigração predominante  Itália
Distrito Bela Vista
Subprefeitura
Região Administrativa Centro
Mapa

O Bixiga � entendido como um dos mais tradicionais bairros da cidade de S�o Paulo, embora na divis�o administrativa da cidade ele n�o exista oficialmente como tal. Corresponde aproximadamente � regi�o localizada entre as ruas Major Diogo, Avenida Nove de Julho, Rua S�lvia e Avenida Brigadeiro Lu�s Ant�nio, no distrito da Bela Vista, embora sua delimita��o possa ser motivo de pol�mica dependendo da fonte.

Historicamente formado em sua maioria por imigrantes italianos, ganhou import�ncia hist�rica e tur�stica na capital paulista. A tradi��o e a religiosidade italianas, que s�o fortemente mantidas, e as in�meras cantinas italianas existentes no bairro, s�o grandes atrativos tur�sticos. Atualmente, a maior parte dos italianos e descendentes j� n�o mora no bairro, por�m a fama de ser um reduto da comunidade italiana ainda persiste.

No bairro situa-se a sede da escola de samba Vai-Vai, que at� hoje realiza ensaios pelas ruas do bairro.

O primeiro registro de ocupa��o da �rea � de 1559, como S�tio do Cap�o, de propriedade do portugu�s Ant�nio Pinto, e mais tarde passou a chamar-se Ch�cara das Jabuticabeiras, por causa do alto n�mero de �rvores dessa esp�cie.[1] Nos anos 1820 um homem conhecido como Ant�nio Bexiga, por causa de suas cicatrizes de var�ola (popularmente conhecida como "bexiga"), comprou as terras, o que � a explica��o para o nome do bairro.[1] Com o intuito de afastar o sentido pejorativo do apelido dado ao bairro, seus moradores passaram a mudar a grafia de Bexiga para Bixiga.[2] Outra explica��o para a grafia seria uma adapta��o ao jeito coloquial de se falar.[1]

Por volta de 1870, Ant�nio Jos� Leite Braga decidiu lotear parte de sua "Ch�cara do Bexiga". O loteamento j� estava anunciado em 23 de junho de 1878[1] e foi inaugurado em 1 de outubro do mesmo ano, com a presen�a do imperador Pedro II, lan�ando a pedra fundamental de um hospital que, no entanto, jamais foi constru�do.

Lotes pequenos e baratos interessaram aos imigrantes italianos, pobres e rec�m-chegados ao Brasil, que n�o queriam trabalhar nas fazendas de caf� do interior do estado. A maior parte dos imigrantes no Bixiga era origin�ria do Sul da It�lia, particularmente da Camp�nia, da Basilicata e da Cal�bria. Com o tempo, os imigrantes no Bixiga ser�o cada vez mais reconhecidos e auto-identificados como "calabreses".[3][4] Alguns imigrantes tamb�m eram da Puglia e da Sic�lia. Os italianos, como propriet�rios, passaram a ser maioria no bairro a partir de 1905.[4]

Embora tenha abrigado diversas fabriquetas e oficinas, o Bixiga nunca se configurou como um bairro industrial. A maior parte dos imigrantes que ali moravam dedicava-se a atividades relacionadas ao setor de servi�os.[4] No come�o do s�culo XX, o bairro iniciou com seu status de reduto da boemia paulista ao receber diversos teatros (como o Oficina, Maria della Costa e S�rgio Cardoso) e os amantes do samba, que tiveram como �cone local, Adoniran Barbosa.[5]

Apesar da presen�a hist�rica majorit�ria de italianos e descendentes, o Bixiga n�o era exclusivamente italiano, nem gueto, nem "little italy". No bairro conviviam pessoas de diversas outras nacionalidades, principalmente portugueses, assim como ex-escravos e seus descendentes que ali moravam quando a regi�o ainda se denominava Saracura.[4]

Embora o Bixiga ainda seja conhecido como um reduto da comunidade italiana de S�o Paulo, atualmente a maior parte dos descendentes de italianos j� abandonou o bairro e mora em outras partes da cidade. [4] O processo de retirada dos italianos do Bixiga come�ou na d�cada de 1960, momento em que grandes obras p�blicas de engenharia foram implementadas na cidade de S�o Paulo. Grandes avenidas radiais e perimetrais e vias expressas passaram a cortar S�o Paulo de um extremo a outro. In�meras desapropria��es ocorreram no Bixiga, expulsando muitos dos seus antigos moradores. Na d�cada de 1970, o r�pido processo de industrializa��o que ocorria em S�o Paulo passou a atrair pessoas de regi�es mais pobres do Brasil, principalmente do Nordeste. O Bixiga, pela sua posi��o geogr�fica centralizada, passou ent�o a ser ocupado por migrantes nordestinos. Nesse processo, a popula��o de origem italiana do bairro, at� ent�o majorit�ria, passou a diminuir cada vez mais. Essa mudan�a demogr�fica n�o ocorreu sem conflitos. Para a popula��o tradicional do bairro, a chegada dos migrantes nordestinos, que ocuparam os antigos casar�es abandonados pelos antigos moradores, passou a ser vista como uma das causas da perda da identidade cultural do bairro. [6]

Pontos de interesse

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Vila Itoror�

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Vila Itoror�.

Uma das constru��es mais extravagantes da cidade, a Vila Itoror�, na Rua Martiniano de Carvalho, � um s�mbolo do Bixiga imigrante. Constru�da pelo tecel�o portugu�s Francisco de Castro em 1922, ficou conhecida, j� na �poca, como Casa Surrealista. Seu propriet�rio, al�m de trabalhar com tecidos, tinha conhecimentos nas �reas de engenharia e arquitetura, e os utilizou de forma in�dita na constru��o do ex�tico casar�o de quatro andares e 37 casas ao redor, ocupando uma �rea de 4,5 mil metros quadrados, que constitu�ram a primeira vila de S�o Paulo. Alguns de seus ornamentos construtivos vieram do teatro S�o Jos�, e a Vila Itoror� foi a primeira resid�ncia particular da cidade a ter uma piscina, aproveitando a nascente do riacho do Vale do Itoror�, que d� nome ao local. Mais tarde, a Vila Itoror� foi leiloada para cobrir d�vidas do tecel�o e acabou arrematada pela Santa Casa de Indaiatuba, que a alugou para outras pessoas. Apesar de tombado pelo conselho municipal de patrim�nio hist�rico, a Vila Itoror� j� foi um dos v�rios corti�os deteriorados do Bixiga. Ap�s desocupa��o abriga provisoriamente o conselho tutelar. A inten��o da Prefeitura � transform�-la em um polo cultural.

Escadaria do Bixiga.

Escadaria do Bixiga

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Ver artigo principal: Escadaria do Bixiga

Ao lado da Pra�a Dom Orione, fica a escadaria que une a parte baixa do bairro � alta, na Rua dos Ingleses, dando acesso por um lado ao Museu dos �culos, Museu Mem�ria do Bixiga e Teatro Ruth Escobar, e do outro �s famosas cantinas italianas e feira de antiguidades. A escadaria j� foi palco de muitos filmes e pe�as publicit�rias.

Casa da Dona Yay�

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Ver artigo principal: Casa da Dona Yay�
Arcos da Rua Jandaia.

O im�vel, que foi uma das primeiras ch�caras do Bixiga, tornou-se propriedade de dona Sebastiana de Melo Freire em 1925, �rf� rica que apresentou sinais de dem�ncia e viveu o resto dos seus dias no sanat�rio particular ali constru�do pelos seus tutores. Nessa �poca, o Bixiga eram campos nos "arredores" de S�o Paulo". Pertence ao patrim�nio da USP desde 1972, e hoje sedia a Comiss�o do Patrim�nio Cultura da USP, que o transformou em um centro cultural principalmente musical, ap�s cuidadosa restaura��o.

Arcos da Rua Jandaia

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Tombados pelo conselho municipal de patrim�nio hist�rico como de preserva��o integral, a monumental obra na Rua Jandaia, sobre a 23 de Maio, o Muro dos Arcos foi descoberto quando a prefeitura demoliu as edifica��es que ali havia. Sup�e-se que tenha sido constru�do no s�culo XIX para prote��o contra enchentes. Os arcos da Rua Jandaia receberam grafites em Fevereiro de 2015.[7][8]

O sotaque italianizado � uma das caracter�sticas hist�ricas e culturais do bairro, que foi explorado nas m�sicas de Adoniran Barbosa.[1]

Teatro Oficina

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Ver artigo principal: Teatro Oficina

Fundado em 1958, o Teatro Oficina instalou-se no edif�cio de n�mero 520 da Rua Jaceguai em 1960, antes ainda do retaliamento do bairro do Bexiga pelo Minhoc�o. Tombado pelo Patrim�nio Hist�rico Municipal, Estadual e Nacional, o Oficina luta desde 1980 para impedir a verticaliza��o do bairro. O atual pr�dio do Teatro Oficina foi concebido pela mesma arquiteta que desenhou o Masp, a italiana Lina Bo Bardi, e consiste em uma pista ladeada por galerias t�rreas e elevadas onde acomodam-se 350 pessoas, um v�o de janela de aproximadamente 150 m�, teto retr�til e fonte de �gua ao centro.

Museu dos �culos Gioconda Giannini.

Enraizada em um pequeno jardim no interior do teatro uma �rvore atravessa a parede lateral e tem sua copa no terreno ao lado. Grupo que realizou algumas das mais importantes montagens teatrais brasileiras, tais como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, Pequenos Burgueses, de M�ximo G�rki, e, mais recentemente, a adapta��o em 27 horas de teatro da obra seminal da nacionalidade brasileira, Os Sert�es, de Euclides da Cunha, o Oficina segue em plena atividade at� os dias atuais.

Museu dos �culos

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Ver artigo principal: Museu dos �culos

Casar�o constru�do em 1918 na rua dos Ingleses, que abriga o Museu dos �culos Gioconda Giannini, com acervo de 700 pe�as, entre pe�as que contam a hist�ria dos �culos, com modelos raros e antigos como uma cole��o chinesa do s�culo XVIII com estojo de escamas de peixes, al�m de outros itens que pertenceram a celebridades como J� Soares, Regina Duarte, Elis Regina, dentre outros.

Festa de Nossa Senhora Achiropita

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Ver artigo principal: Festa de Nossa Senhora Achiropita

A Festa de Nossa Senhora Achiropita, � realizada todos os anos durante os fins de semana de agosto. Comemorada desde 1926, originalmente por imigrantes italianos da regi�o da Cal�bria, � hoje uma das festas mais tradicionais da capital paulistana. O evento conta com o trabalho de cerca de 900 funcion�rios, e toda a renda � revertida para obras sociais da par�quia. Segundo a organiza��o, s�o consumidas onze toneladas de macarr�o, cinco toneladas de mozarela e dez mil litros de vinho, entres outros produtos, para um p�blico estimado em duzentas mil pessoas nos cinco fins de semana da festa. Entre outras curiosidades do evento, destacam-se a equipe das focaccias, com 130 pessoas, respons�vel por uma incr�vel produ��o de dez mil unidades por noite, e a prociss�o em louvor a Nossa Senhora pelo bairro, em que � confeccionado o tapete art�stico de serragem na Rua S�o Vicente.

Madame Underground Club

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Ver artigo principal: Madame Sat� Night Club

Fundado em 1983 e mais conhecido pelo nome anterior de Madame Sat�, o Madame Underground Club � um dos pontos mais representativos da cena cultural independente brasileira, principalmente voltado �s cenas punk e g�tica. Atualmente sediando festas (baladas) tem�ticas e shows independentes, na d�cada de 1980 teve papel fundamental para o desenvolvimento do punk rock, p�s-punk, rock g�tico e new wave brasileiros, tendo abrigado shows independentes de bandas que se tornariam nacionalmente famosas como RPM, Tit�s e Ira!. No passado, a casa j� apresentou pe�as de teatro e outras manifesta��es culturais de Z� do Caix�o, Arrigo Barnab� e outros artistas independentes.

Ap�s fechar em 2009 sob o nome de Madame Sat� Night Club, reabriu em 2012 com a atual denomina��o e � uma das casas noturnas mais antigas em atividade no Brasil.

O pr�dio onde se localiza a casa noturna � um casar�o datado de 1936, tombado pela prefeitura da cidade.[9]


Referências

  1. a b c d e «Museu expõe memória e sotaque do Bexiga, em São Paulo». O Estado de S. Paulo (42 520). São Paulo: S.A. O Estado de S. Paulo. 18 de março de 2009. pp. pág. C10. ISSN 1516-2931. Consultado em 18 de março de 2010 
  2. 1053487. «Almanaque Brasil 122 - Junho de 2009». Issuu (em inglês). Consultado em 28 de setembro de 2021 
  3. «Migração - Cidadania Italiana - Dupla Cidadania - Bixiga: os contornos atuais do bairro que começou com imigrantes calabreses». www.italiaoggi.com.br. Consultado em 28 de setembro de 2021 
  4. a b c d e «Aquém e além-mar: imigrantes e cidades». SciELO - Scientific Electronic Library Online. Dez 2012. Consultado em 8 de janeiro de 2024 
  5. «Bixiga - Estadão» 
  6. BIXIGA: UMA IDEOLOGIA GEOGRÁFICA. Francisco Capuano Scarlato. Geografia - FFLCH - USP
  7. «Gourmetização do vandalismo» 
  8. «42-apos-pichacao-desenho-nos-arcos-do-janio-recebe-intervencao-de-grafiteiros» 
  9. «Madame Satã» 
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