Saltar para o conteúdo

Estilo manuelino

Origem: Wikip�dia, a enciclop�dia livre.
(Redirecionado de Manuelino)
Mosteiro dos Jer�nimos em Bel�m, exemplo mais emblem�tico da arquitectura manuelina, encomendado pelo rei D. Manuel I pouco depois de Vasco da Gama[1] ter regressado da �ndia, em 1502, Santa Maria de Bel�m, Lisboa. O Mosteiro dos Jer�nimos integra elementos arquitet�nicos do g�tico final e do renascimento, associando-lhes uma simbologia r�gia, cristol�gica e naturalista, que a torna �nica.

O Estilo manuelino, por vezes tamb�m chamado de g�tico portugu�s tardio ou flamejante, � um estilo decorativo, escult�rico e de arte m�vel que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I e prosseguiu at� e ap�s a sua morte, ainda que j� existisse desde o reinado de D. Jo�o II. � uma varia��o portuguesa do G�tico final, bem como da arte luso-mourisca ou arte mud�jar, marcada por uma sistematiza��o de motivos iconogr�ficos pr�prios, de grande porte, simbolizando o poder r�gio. Incorporou, mais tarde, ornamenta��es do Renascimento italiano. O termo "Manuelino" foi criado por Francisco Adolfo Varnhagen na sua Not�cia Hist�rica e Descriptiva do Mosteiro de Bel�m, de 1842. O Estilo desenvolveu-se numa �poca prop�cia da economia portuguesa e deixou marcas em todo o territ�rio nacional.

O estilo traz poucas inova��es estruturais, sendo basicamente ornamental. Sobre uma base g�tica flamejante, sobrep�em-se elementos renascentistas e influ�ncias orientais, com uma ornamenta��o densa que torna muito abundantes os motivos decorativos, principalmente n�uticos e her�ldicos. Por isso, os edif�cios do estilo g�tico elisabetano apresentam decora��o manuelina, como � o caso da bas�lica de Santa Maria Maior de Pontevedra, onde se destacam os bras�es tipicamente manuelinos.[2]

Caracter�sticas

[editar | editar c�digo-fonte]
Coluna no Claustro do Mosteiro dos Jer�nimos

A caracter�stica dominante do Manuelino � a exuber�ncia de formas e uma forte interpreta��o naturalista-simb�lica de temas originais, eruditos ou tradicionais. A janela, tanto em edif�cios religiosos como seculares, � um dos elementos arquitect�nicos onde melhor se pode observar este estilo. Estes motivos aparecem em constru��es, pelourinhos, t�mulos ou mesmo pe�as art�sticas, como em ourivesaria, de que a Cust�dia de Bel�m � um exemplo.

O conjunto decorativo de um elemento escult�rico manuelino apresenta-se quase sempre como um discurso de pedra, onde diversos elementos e refer�ncias se cruzam (pansemiose - ou "todos os significados"), como o simbolismo crist�o, a alquimia, a tradi��o popular, etc. O contexto tanto pode ser moralizante, como aleg�rico, jocoso (quando se aponta o dedo aos defeitos humanos ou a pormenores obscenos, como a refer�ncia sexual numa g�rgula exterior � capela de S�o Nicolau, em Guimar�es), esot�rico ou, simplesmente, propagand�stico em rela��o ao poder imperial de D. Manuel I. Note-se que esta simbologia est� tamb�m muito ligada � her�ldica.

Os motivos mais frequentes da arquitectura manuelina s�o a esfera armilar, conferida como divisa por D. Jo�o II ao seu primo e cunhado, futuro rei D. Manuel I, mais tarde, interpretada como sinal de um des�gnio divino para o reinado de D. Manuel, a Cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas: Corais, Algas, Alcachofras, Pinhas, animais v�rios e elementos fant�sticos: Ouroboros, Sereias, g�rgulas.

Iluminura do per�odo manuelino do Livro 3 M�sticos, Torre do Tombo

O "discurso" art�stico presente no estilo manuelino, ainda que tenha come�ado a ser constru�do ainda antes do reinado de D. Manuel, teve uma influ�ncia consider�vel da pr�pria personalidade do monarca, das suas aspira��es no contexto mundial, em especial o projecto de uma cruzada que unificaria o mundo crist�o do ocidente com o m�tico reino Crist�o oriental do Preste Jo�o, tornando-o o "Rei dos Mares" (e foi, de facto, assim designado por diversos autores estrangeiros).

O estilo manuelino transmite em grande parte estas aspira��es messi�nicas de um rei cuja ascens�o ao poder foi, no m�nimo ins�lita, depois da morte seguida de outros herdeiros directos ao trono (como o pr�ncipe D. Afonso e o seu irm�o, D. Diogo, assassinado). No entanto, desde a interpreta��o dada � express�o "Spera Mundi", na esfera armilar, que lhe fora concedida como divisa, at� � interpreta��o do seu pr�prio nome, Emanuel ("Deus connosco", em hebraico), dado por sua m�e quando este nasceu, ap�s um trabalho de parto longo e doloroso que s� terminou quando a prociss�o do Corpo de Deus passava na rua, v�rios foram os "sinais" que indicavam que este rei fora o "Escolhido" por Deus para grandes feitos. A pr�pria concep��o pol�tica deste rei, influenciada pelo seu perceptor Diogo Rebelo e pelo joaquinismo, f�-lo crer que estava destinado a fundar o Quinto Imp�rio da Profecia de Daniel.

Estas refer�ncias messi�nicas e apocal�pticas est�o tamb�m presentes na pintura (como nos frescos das "Casas Pintadas", em �vora e na "Apari��o de Cristo � Virgem" de Jorge Afonso). Um exemplo claro aparece tamb�m na representa��o do rei e da rainha D. Maria, em primeiro plano, no quadro "Fons Vitae", pertencente � Miseric�rdia do Porto, de pintor an�nimo mas segundo alguns de Colijn de Coter, numa cena da crucifica��o e onde o sangue de Cristo escorre para dentro de um gigantesco Graal.

Principais autores

[editar | editar c�digo-fonte]

No Norte de Portugal, os principais autores deste estilo, provenientes do reino da Galiza ou de Biscaia, foram Tom� de Tolosa, Francisco Fial e P�ro Galego [3], que participaram na cria��o da Igreja Matriz de Caminha, bem como Jo�o de Vargas e Jo�o de Parmenes, que trabalharam juntamente com o portugu�s Jo�o Lopes na S� de Lamego. O cant�brico Jo�o de Castilho, respons�vel pela Galil� e pela capela-mor da S� de Braga, tamb�m deixou a sua marca no Mosteiro dos Jer�nimos, onde avulta a figura de Diogo Boitaca, criador do Mosteiro de Jesus de Set�bal. Al�m de Boitaca, o centro de Portugal conta tamb�m com a obra not�vel de Mateus Fernandes, bem representada no portal das Capelas Imperfeitas, no Mosteiro da Batalha.

Fala-se ainda de um "Manuelino de segunda gera��o", ap�s o recrudescimento econ�mico em Portugal, em consequ�ncia das Descobertas. Castilho, Boitaca e os irm�os Francisco e Diogo de Arruda, que desenharam a Torre de Bel�m, s�o os seus principais representantes.

H� ainda a referir os nomes de Manuel Pires, Jo�o Favacho, P�ro e Filipe Rodrigues, �lvaro Rodrigues, Andr� Pires e Diogo Pires, o Mo�o, entre outros.

Desenvolvimento

[editar | editar c�digo-fonte]

O estilo manuelino foi particularmente implantado nas grandes abadias medievais rec�m-constru�das , e em particular na Batalha, albergando o pante�o funer�rio da dinastia de Avis. A Batalha era ent�o considerada o centro indiscut�vel da arte nacional, e foi desta cidade que surgiu toda uma gera��o de arquitectos e escultores que espalharam o estilo manuelino por todo o pa�s. Diogo Boitaca, mestre das obras r�gias de 1490 a 1522, foi o respons�vel pela continua��o da constru��o do Claustro Real da Batalha, nomeadamente produziu o complexo rendilhado que adorna os v�os do claustro. O Mosteiro dos Jer�nimos, em grande parte devido a Boitaca, constitui uma das mais eloquentes obras manuelinas, tendo a Torre de Bel�m sido contru�da muito mais distante da�. O pai Mateus Fernandes fez o grande portal da rotunda funer�ria da Batalha, enquanto a rotunda dos Templ�rios de Tomar foi constru�da segundo planos de Diogo de Arruda. O seu irm�o mais novo, Francisco, concluiu a Torre de Bel�m em 1514. Jo�o de Castilho foi finalmente o �ltimo mestre manuelino e concluiu o claustro de Bel�m com o arquitecto Louren�o Fernandes. De Castilho tamb�m concluiu grandes edif�cios mon�sticos em Tomar, bem depois da morte de Manuel I. O estilo manuelino floresceu tamb�m em Coimbra, �vora , Sintra e Beja, sem esquecer Viseu, Set�bal, Viana do Castelo e no Alentejo[4] · [5].

A Arquitectura manuelina

[editar | editar c�digo-fonte]
Torre de Bel�m em Lisboa, iniciada em 1514 no reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), tendo como arquitecto Francisco de Arruda

Esta tend�ncia art�stica era conhecida, na �poca, como a variante portuguesa da arquitectura ad modum Yspaniae (ao modo hisp�nico) que, por sua vez, estava inclu�da na corrente arquitect�nica "ao moderno" - express�o utilizada para o g�tico tardio onde tamb�m havia a variante, por exemplo, do modo tudesco ou alem�o na ent�o nova arquitectura n�rdica. Esta corrente opunha-se � arquitectura ao modo antigo ou ao romano.

No seu conjunto, pouco muda relativamente � estrutura formal do g�tico alem�o e plateresco. O al�ado interior das igrejas mant�m-se atrav�s da orienta��o este-oeste, da planta, dos sistemas de suporte e cobertura, do c�lculo de propor��es. As naves da mesma altura, influ�ncia das igrejas-sal�o alem�s, de cinco tramos, aus�ncia de transepto e cabeceiras rectangulares s�o as principais caracter�sticas diferenciais. Apesar de ser essencialmente ornamental, o Manuelino caracteriza-se tamb�m pela aplica��o de determinadas f�rmulas t�cnicas da altura, como as ab�badas com nervuras polinervadas a partir de m�sulas.

Na componente civil destacam-se os pal�cios, como o Pa�o de D. Manuel, em �vora, e solares rurais, como o Solar de Sempre Noiva, em Arraiolos, todos de planta retangular. E na tipologia militar � refer�ncia maior o baluarte do Restelo, a Torre de Bel�m. Um dos primeiros baluartes de artilharia do pa�s, a quebrar a tradi��o das torres de menagem, a sua planta rectangular sobrep�e-se a uma base poli�drica, que penetram Tejo adentro. A rectangularidade da planta op�e-se � curvil�nea da decora��o esculpida.

Escultura e Motivos ornamentais

[editar | editar c�digo-fonte]
A janela do Cap�tulo do Convento de Cristo, em Tomar � uma das mais referidas obras neste estilo

Os motivos mais importantes da arquitectura manuelina s�o:

  • S�mbolos nacionais:
    • A esfera armilar ("a esfera dos matem�ticos" conferida como divisa por D. Jo�o II ao seu primo e cunhado, D. Manuel (futuro rei D. Manuel I), que, tendo escrito no meridiano "Spera Mundi" - Esfera do Mundo - foi, mais tarde, interpretada como sinal de um des�gnio divino para o reinado de D. Manuel que se apresenta nos motivos art�sticos do estilo como "Esperan�a do Mundo", como tamb�m poderia ser interpretada a express�o a� inscrita). Por vezes ostentava tamb�m no Zod�aco a sigla em latim do motto pessoal deste rei: Manuel Orbis Rex Est (MORE) ou Manuel Rex Orbis Est (MROE);
    • A Cruz da Ordem de Cristo;
    • Escudo nacional.
  • Elementos naturalistas:
    • Corais;
    • Algas;
    • Guizeiras;
    • �rvores secas. Aparecem tamb�m no g�tico final da Europa Central, usando-se o termo "astwerk" para descrever a sua utiliza��o - s�o, portanto, um elemento caracter�stico do tardo-g�tico e remetem para a est�tica franciscana, de cariz marcadamente naturalista e austera. Por outro lado, � um elemento que foi utilizado pelos detractores do g�tico que consideravam o estilo b�rbaro e primitivo - est�ril como uma �rvore seca. As suas ra�zes e troncos nodosos t�m presen�a not�vel no Mosteiro de Alcoba�a, na janela do Cap�tulo de Tomar, sobre o busto fundeiro; na Igreja de Vilar de Frades ou no Pa�o de Sintra;
    • Alcachofras (s�mbolo da regenera��o e da ressurrei��o - sendo por isso queimada nos festejos de S�o Jo�o, esperando que volte a reverdecer);
    • Folhas de loureiro, como no Claustro de D. Jo�o I, no Mosteiro da Batalha;
    • Rom�s (como nas portas laterais da Igreja Matriz da Goleg� - s�mbolo de fertilidade, pela quantidade extraordin�ria de sementes que cont�m);
    • Folhas de hera;
    • Pinhas (fertilidade e/ou imortalidade - por vezes interpretadas como sendo espigas de milho ou ma�arocas) - s�o vis�veis, por exemplo, sobre o portal da Igreja Matriz da Goleg�;
    • Carac�is ou conchas de nautilus (como na Igreja da Vestiaria, em Alcoba�a; ou na entrada das Capelas Imperfeitas, no Mosteiro da Batalha, simbolizando, talvez, a lentid�o dos trabalhos);
    • Animais v�rios;
    • Putti (crian�as).
  • Elementos fant�sticos:
    • Ouroboros (a serpente que morde a sua pr�pria cauda: s�mbolo do Universo: a uni�o do princ�pio e do fim);
    • Sereias (motivo de arte profana, talvez fossem uma refer�ncia a v�rias palavras semelhantes e ao simbolismo associado: ser�o, ou a altura em que o ciclo produtivo do cardar da l� se realizava, serenata, ritual de namoro ligado ao pecado da carne, tal como em serralho, etc.);
    • Monstros (principalmente as g�rgulas, mas tamb�m outros, como drag�es e animais de boca aberta, devorando o seu pr�prio corpo);
    • Orelhudos (cabe�as com orelhas descomunalmente grandes, como no cadeiral de Santa Cruz de Coimbra);
    • Animais realizando ac��es humanas, numa perspectiva carnavalesca, como a tocar instrumentos musicais.
  • Simbolismo crist�o:
  • Outros motivos:
    • As cordas entrela�adas e cabos, fazendo muitas vezes n�s, como na S� de Viseu, na Torre de Bel�m ou na Casa dos Alpoins, em Coimbra;
    • Redes;
    • Cintur�es com grandes fivelas, como no Coro do Convento de Cristo, em Tomar;
    • Meias esferas, como na Igreja da Concei��o, em Beja;
    • Pin�culos c�nicos com cogulhos de formas diversas;
    • Colunas torsas (como no portal da Igreja Matriz da Goleg� ou na S� da Guarda);
    • Correntes, como na arquivolta do portal principal da Casa de Sub-Ripas, em Coimbra;
    • Bustos de personagens hist�ricas;
    • Cabe�as de infantes (crian�as);
    • Desenhos finos, semelhantes aos das pratas espanholas, suas contempor�neas;
    • Refer�ncias � cestaria.

Obras principais

[editar | editar c�digo-fonte]
Interior da Igreja dos Jer�nimos
Claustro, Mosteiro dos Jer�nimos
Igreja Matriz da Goleg�, cujo portal � um dos mais caracter�sticos do manuelino

Entre as obras mais not�veis do manuelino, temos a referir:

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Estilo manuelino

Referências

  1. «Vasco da Gama». Wikipédia, a enciclopédia livre. 7 de abril de 2020 
  2. Cardoso Mendes Atanázio, Manuel (1984). A arte do manuelino: mecenas, influências, espaço. [S.l.]: Editorial Presença 
  3. «Principais autores do Estilo Manuelino». Estilo Manuelino. Consultado em 31 de janeiro de 2022 
  4. Elie Lambert (1945). «L'art en Espagne et au Portugal». Paris: Larousse. pp. 62, 63, 64, 65 
  5. Hans Hofstatter (1964). «Architecture universelle». Paris: Office du livre. p. 138 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]