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Torre de Belém

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Torre de Bel�m
Torre de Bel�m
Nomes alternativos Torre de S�o Vicente
Tipo forte, torre fortificada, patrim�nio cultural, atra��o tur�stica
Estilo dominante manuelino
Arquiteto(a) Francisco de Arruda
In�cio da constru��o 1514
Fim da constru��o 1520
Fun��o inicial militar e fiscal
Propriet�rio(a) atual Estado Portugu�s
Fun��o atual museu
Visitantes 450 546 (2018)
P�gina oficial torrebelem.pt
Altura 35 metro
�rea 0,09 hectare, 51,5 hectare
Patrim�nio Mundial
Crit�rios C (iii) (vi)
Ano 1983
Refer�ncia 263 en fr es
Patrim�nio de Portugal
Classifica��o  Monumento Nacional
Ano 1907
DGPC 323060
SIPA 4065
Geografia
País Portugal
Cidade Lisboa
Coordenadas 38° 41′ 30″ N, 9° 12′ 57″ O
Mapa
Localização em mapa dinâmico

A Torre de Belém, antigamente Torre de São Vicente a Par de Belém, oficialmente Torre de São Vicente,[1] é uma fortificação localizada na freguesia de Belém, Município e Distrito de Lisboa, em Portugal. Na margem direita do rio Tejo, onde existiu outrora a praia de Belém, era primitivamente cercada pelas águas em todo o seu perímetro. Ao longo dos séculos foi envolvida pela praia, até se incorporar hoje a terra firme. Um dos ex libris da cidade, o monumento é um ícone da arquitetura do reinado de D. Manuel I, numa síntese entre a torre de menagem de tradição medieval e o baluarte moderno, onde se dispunham peças de artilharia.

Ao longo do tempo, a torre foi perdendo a sua função de defesa da barra do Tejo e, a partir da ocupação filipina, os antigos paióis deram lugar a calabouços. Nos quatro pisos da torre, mantêm-se a Sala do Governador, a Sala dos Reis, a Sala de Audiências e, finalmente, a Capela com as suas características abóbadas quinhentistas. A Torre de São Vicente (1514) pertence a uma formação de defesa da bacia do Tejo mandada erigir por João II de Portugal, composta a sul pela torre de São Sebastião da Caparica (1481) e a oeste pela Torre de Santo António de Cascais (1488).

O monumento destaca-se pelo nacionalismo implícito, visto que é todo rodeado por decorações do Brasão de armas de Portugal, incluindo inscrições de cruzes da Ordem de Cristo nas janelas de baluarte; tais características remetem principalmente à arquitetura típica de uma época em que o país era uma potência global (a do início da Idade Moderna).

Juntamente com o Mosteiro dos Jerónimos, foi classificada em 1983 como Património Mundial da UNESCO e eleita como uma das Sete Maravilhas de Portugal em 2007. Em 2015 foi visitada por mais de 608 mil turistas.[2][3]Em 2022, registou 377.780 entradas, sendo um dos monumentos mais visitados do país.[4]

Em 1495, o rei D. Manuel I torna-se uma figura importante do comércio internacional, visto que Vasco da Gama e posteriormente Álvares Cabral estabelecem rotas marítimas com a Índia, Goa e Malaca, África e Brasil, trazendo e oferecendo produtos exóticos. Essas experiências e conhecimentos levam à definição das características do estilo Manuelino, representado nos seus monumentos.[5] Portugal está associado muito especialmente ao estilo manuelino, designação adquirida pelas obras decorrentes no reinado de D. Manuel I, entre 1495 e 1521. De alguma maneira, esse estilo, segundo o autor, advém de influências do estilo Isabelino de Espanha, elaborado e ostentativo.[6] A Torre de São Vicente é um exemplo de transição entre a arquitetura da Idade Média e o Renascimento, de uma forma consonante aliada à boa maneira Manuelina, a massa de uma recuada torre quadrangular de índole medieval, com aproximadamente trinta metros de altura, num corpo avançado de "embasamento" e base, reforçando a horizontalidade e abraçando a forma hexagonal irregular, com quarenta metros de comprimento, orientados para sul e para o Tejo, visando desarmar com as suas baterias de fogo, colocadas no baluarte "acasamatado", qualquer tentativa de assalto por via marítima.[7]

Originalmente sob a invocação de São Vicente de Saragoça, padroeiro da cidade de Lisboa, designada no século XVI pelo nome de Baluarte de São Vicente a par de Belém e por Baluarte do Restelo, esta fortificação integrava o plano defensivo da barra do rio Tejo projetado à época de D. João II (1481-95), integrado na margem direita do rio pelo Baluarte de Cascais e, na esquerda, pelo Baluarte da Caparica.

O cronista Garcia de Resende foi o autor do seu risco inicial, tendo registado:

"E assim mandou fazer então a (…) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei D. Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiro-mor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer" (RESENDE, Garcia de. Crónica de D. João II, 1545.),
Rinoceronte Indiano esculpido na Torre de belém

A estrutura só viria a ser iniciada em 1514, sob o reinado de Manuel I de Portugal (1495-1521), tendo como arquitecto Francisco de Arruda. Localizava-se sobre um afloramento rochoso nas águas do rio, fronteiro à antiga praia de Belém, e destinava-se a substituir a antiga nau artilhada, ancorada naquele trecho, de onde partiam as frotas para as Índias. As suas obras ficaram a cargo de Diogo Boitaca, que, à época, também dirigia as já adiantadas obras do vizinho Mosteiro dos Jerónimos.

Presença e influência portuguesa na Índia e Himalaias durante o século 16 e 17.

Concluída em 1520, foi seu primeiro alcaide Gaspar de Paiva, nomeado para a função no ano seguinte.

Com a evolução dos meios de ataque e defesa, a estrutura foi, gradualmente, perdendo a sua função defensiva original. Ao longo dos séculos foi utilizada como registo aduaneiro, posto de sinalização telegráfico e farol. Os seus paióis foram utilizados como calabouços para presos políticos durante o reinado de Filipe II de Espanha (1580-1598), e, mais tarde, por João IV de Portugal (1640-1656). O Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, D. Sebastião de Matos de Noronha (1586-1641), por coligação à Espanha e fazendo frente a D. João IV, foi preso e mandado recluso para a Torre de Belém.

Sofreu várias remodelações ao longo dos séculos, principalmente a do século XVIII que privilegiou as ameias, o varandim do baluarte, o nicho da Virgem, voltado para o rio, e o claustrim. A conotação da forma volumétrica da torre de pedra com uma nau traduz beleza, originalidade e inovação.

Classificada como Monumento Nacional por decreto de 10 de janeiro de 1907, é considerada como Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Naquele mesmo ano integrou a XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura.

Arquitecto Francisco de Arruda

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As caracter�sticas arquitet�nicas de Francisco de Arruda, de Diogo de Arruda e conjuntamente com as do mestre Diogo de Boytac, resultaram na inclus�o das influ�ncias mediterr�nicas e n�rdicas do tardo-g�tico no panorama arquitet�nico portugu�s, sagrando-se assim como expoentes do Manuelino na arquitetura de ent�o. O uso sistem�tico de volumes cil�ndricos, recorrentes da ret�rica militar como uma configura��o de iconologia arquitet�nica. Encontra-se a recorr�ncia nas suas obras atrav�s de uma decora��o hiper-realista, repleta de alus�es � natureza como folhas ou animais e a objetos concebidos pelo homem, assim como representa��es de simbologia her�ldica.[8] Francisco de Arruda faz na exalta��o dos elementos fundamentais do Manuelino, o gosto pelos volumes puros, bem definidos e globais em termos de desenho, e d� �nfase na arquitetura, �s aplica��es ornamentais, profusas de car�cter popular, ao inv�s das eruditas, com registos imediatistas acerca da fun��o do edif�cio, ou pela liberdade obtida para transpor um novo discurso ic�nico nas orlas das constru��es, tudo isto faz com que a elocu��o da impon�ncia do edificado desponte e concorra para uma exposi��o emblem�tica.

De Francisco de Arruda desconhece-se a data do seu nascimento, sabe-se que � oriundo de uma fam�lia de arquitectos de reconhecido gabarito na �poca, sediada em �vora. Irm�o mais novo de Diogo de Arruda e pai de Miguel de Arruda, foi arquitecto e escultor, esteve ao servi�o dos Reis de Portugal, tendo sido respons�vel pelo tra�ado e constru��o da Torre de S�o Vicente.[9] � incumbido como respons�vel pelas obras de reabilita��o e conserto das fortifica��es de Moura, Mour�o e Portel, mas para al�m de reparar as muralhas, insere no castelo torres semicirculares que s�o j� uma postura de transi��o do estilo neuro-bal�stico para a piro-bal�stica.[10] Constr�i para D. Jaime, Duque de Bragan�a, os Pa�os do Castelo de Portel, e a Capela de S�o Jo�o Baptista,[desambigua��o necess�ria] esta possui na parede "testeira" recta, dois volumosos "botar�us" cil�ndricos na base e octogonais da� para cima, coroados por "pin�culos" c�nicos de "torsos" antecedidos de uma moldura encordoada. Posteriormente continua em 1512 no Convento de Cristo em Tomar. Francisco parte com Diogo ao Norte de �frica, a Safim e Mazag�o, em 1513, incumbidos de trabalhar na pra�a-forte de Azamor.[11]

Com o falecimento de Diogo de Arruda em 1531, Francisco aproxima-se sentimentalmente e progressivamente � cultura humanista. As suas obras seguintes v�o dando mostras de uma erudi��o renascentista, ou "proto" renascentista.[12] Em 1547 termina os seus dias de vida. Sem confirma��o �-lhe ainda atribu�da a constru��o da Casa dos Bicos, em Lisboa, e o Pal�cio da Bacalhoa, na sua fase inicial (1530) onde s�o evidentes duas grandes torres cil�ndricas com cobertura de gomos, semelhantes �s da Torre de S�o Vicente.[10]

Caracter�sticas

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Torre de Bel�m vista do rio Tejo

O monumento reflete influ�ncias isl�micas e orientais, que caracterizam o estilo manuelino e marca o fim da tradi��o medieval das torres de menagem, ensaiando um dos primeiros baluartes para artilharia no pa�s (ver fortalezas).

Parte da sua beleza reside na decora��o exterior, adornada com cordas e n�s esculpidos em pedra, galerias abertas, torres de vigia no estilo mourisco e ameias em forma de escudos decoradas com esferas armilares, a cruz da Ordem de Cristo e elementos naturalistas, como um rinoceronte, alusivos �s navega��es. O interior g�tico, por baixo do terra�o, que serviu como armaria e pris�o, � muito austero.

A sua estrutura comp�e-se de dois elementos principais: a torre e o baluarte. Nos �ngulos do terra�o da torre e do baluarte, sobressaem guaritas cil�ndricas coroadas por c�pulas de gomos,[desambigua��o necess�ria] ricamente decorada em cantaria de pedra.

A torre quadrangular, de tradi��o medieval, eleva-se em cinco pavimentos acima do baluarte, a saber:

  • Primeiro andar - Sala do Governador;
  • Segundo andar - Sala dos Reis, com teto el�ptico e fog�o ornamentado com meias-esferas;
  • Terceiro andar - Sala de Audi�ncias;
  • Quarto andar - Capela;
  • Quinto andar - Terra�o da torre.

A nave do baluarte poligonal, ventilada por um claustrim, abre 16 canhoneiras para tiro rasante de artilharia. O terrapleno, guarnecido por ameias, constitui uma segunda linha de fogo, nele se localizando o santu�rio de Nossa Senhora do Bom Sucesso com o Menino, tamb�m conhecida como a Virgem do Restelo por "Virgem das Uvas".

Referências

  1. Paiva, Ana Sofia (7 de maio de 2019). «Torre de Belém, símbolo arquitetónico da defesa da cidade». FCSH+Lisboa. Consultado em 9 de janeiro de 2021 
  2. «"É possível que tenhamos de limitar o número de entradas na Torre de Belém"» 
  3. Canelas, Lucinda. «Visitantes dos museus e palácios crescem 10%, mas Museu de Arte Antiga lidera perdas». PÚBLICO. Consultado em 4 de outubro de 2021 
  4. Sofia (2023). «Os 10 monumentos mais visitados do país». Casa Yes. Consultado em 8 de setembro de 2023 
  5. David, W. (2005). A history of western architecture (4 ed.). London. p. 206
  6. David, W. (2005). A history of western architecture (4.ª ed.). Londres. p. 205
  7. Garcia, J. M. (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História, p. 40.
  8. Garcia, J. M. (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História.p.43
  9. Pereira, P. (2005). Torre de Belém. London: Publicações Scala.
  10. a b Dias, P. (2009). Arte Portuguesa: Arquitectura Manuelina (Vol. Vol. 5). Arte e Edições, Lda. p.27
  11. Garcia, J. M. (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História. p.25
  12. Garcia, J. M. (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História.p. 25
  • Garcia, J. M. (2014). A magnífica Torre de Belém. Lisboa: Verso da História.

Ligações externas

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