Saltar para o conteúdo

Platyrrhini

Origem: Wikip�dia, a enciclop�dia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaPlatyrrhini[1][2]

Classifica��o cient�fica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Primates
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes
Parvordem: Platyrrhini
E. Geoffroy, 1812
Fam�lias
Cebidae

Pitheciidae
Atelidae

Platyrrhini ou platirrinos s�o o clado de primatas que inclui os macacos do Novo Mundo, ou seja, do continente americano. Distribuem-se por todas as Am�ricas do Sul e Central e em algumas regi�es do M�xico. N�o possuem rin�rio e suas narinas s�o distantes entre si e voltadas para os lados que os diferem dos seus parentes pr�ximos, os Catarrhini, que apresentam as narinas orientadas para baixo. Possuem denti��o com tr�s pr�-molares (em cada hemi-mandibula), diferente dos macacos do Velho Mundo, que apresentam apenas dois pr�-molares. Nas esp�cies de maior porte, a cauda tende a ser pre�nsil. Possuem uma diversidade de 21 g�neros e cerca 204 esp�cies e subesp�cies.

Caracter�sticas

[editar | editar c�digo-fonte]

Morfologia e caracter�sticas gerais

[editar | editar c�digo-fonte]

Os primatas do Novo Mundo s�o de pequeno-m�dio porte, variando do sagui pigmeu (o menor primata do mundo) com 14-16 cm e com peso de 120-190 g, at� o muriqui do sul, com 55-70 cm e com peso de 12-15 kg. A diferen�a fenot�pica mais utilizada para separar os primatas do Novo Mundo dos primatas do Velho Mundo � a posi��o das narinas, que nos primeiros � posicionada para os lados, enquanto que nos �ltimos s�o posicionadas para baixo. Essa caracter�stica, no entanto � um car�ter primitivo dentre os primatas simiiformes, tamb�m compartilhado pelos Tarsiiformes. A �nica caracter�stica exclusiva de Platyrrhini entre os primatas � o osso jugal (ou zigom�tico) e parietal estarem em contato no cr�nio.

Al�m disso, os primatas do Novo Mundo s�o os �nicos que possuem representantes com cauda pre�nsil, diferentemente da cauda n�o pre�nsil e geralmente curta dos primatas do Velho Mundo. A cauda tamb�m evoluiu com o aumento da massa corporal. De uma cauda para balan�ar e sustentar nos menores Platyrrhini, at� uma cauda pre�nsil para agarrar, nos representantes maiores. Dentro desses primatas de cauda pre�nsil, a especializa��o � menor nos caiararas (g�nero Cebus, de menor tamanho dentro do grupo) e maior em bugios e membros da subfam�lia Atelinae, os maiores do grupo. Uma nova fun��o da cauda confere agilidade, balan�o e seguran�a no suporte e na locomo��o arbor�cola. Outras fun��es especiais da cauda evolu�ram ao mesmo tempo de forma independente do aumento da massa corp�rea.[3]

Os primatas desenvolveram capacidades sensoriais que os permitem sobreviver muito bem em diversos h�bitats. O sentido de tato dos macacos do Novo Mundo t�m sido relacionado tanto com intera��es sociais quanto por escolha de alimentos. A maioria deles n�o possui polegar opon�vel (exceto os macacos-pregos, g�nero Sapajus). Este grupo (exceto os bugios) n�o possui a vis�o tricrom�tica (tr�s cones de cor) dos macacos do Velho Mundo. Na maioria dos primatas do Novo Mundo, a vis�o colorida baseia-se em um �nico gene no cromossomo X e outro gene autoss�mico, para produzir pigmentos que absorvem a luz de comprimentos de onda m�dio e longo, o que contrasta com a luz de comprimentos de onda curtos. Como resultado, os machos dependem de um �nico gene no cromossomo X de pigmentos m�dios/longos e s�o dicrom�ticos, assim como as f�meas homozigotas. F�meas heterozigotas podem possuir dois alelos com sensibilidades diferentes dentro dessa faixa, podendo apresentar vis�o tri-crom�tica.[4] Para os primatas, as vantagens de alta acuidade da vis�o tri-crom�tica ainda s�o incertas. Dentre as poss�veis vantagens est�o a melhor detec��o de alimentos contra um fundo de folhagem madura, frutas maduras, folhas jovens ou ambos.[5][6] Recentemente, constatou-se que os uacaris possuem um alto polimorfismo no gene relacionado � vis�o colorida no cromossomo X, com at� seis alelos diferentes descritos.[7]

Primatas platirrinos podem formar casais monog�micos (saguis, sau�s, macacos-da-noite), apresentar um sistema poli�ndrico (saguis), har�ns (bugios) ou grupos com v�rios machos e f�meas que acasalam entre si (macacos-aranha). Em geral apresentam um forte cuidado parental aos jovens. Podem apresentar grande dimorfismo sexual, com diferen�as no tamanho corp�reo entre machos e f�meas, diferen�as no comprimento dos caninos e, mais raramente, dicromatismo sexual.[8]

Nutri��o e Denti��o

[editar | editar c�digo-fonte]

Os primatas do novo mundo s�o on�voros, com uma dieta variada podendo conter frutas, nozes, insetos, flores, ovos de aves, aranhas e pequenos mam�feros.[carece de fontes?]

Diferem dos primatas do Velho Mundo tamb�m em rela��o a denti��o. Primatas do novo mundo possuem doze pr�-molares ao inv�s de oito; tendo uma f�rmula dental de 2 incisivos, 1 canino, 3 pr�-molares e 3 molares ou 2 incisivos, 1 canino, 3 pr�-molares e 2 ou 3 molares em cada hemi-mand�bula. � poss�vel contrastar esta f�rmula dent�ria com os primatas Antrop�ides do Velho Mundo (que inclui os gorilas, chimpanz�s, bonobos, gib�es, orangotangos, e a maioria dos humanos) que compartilham uma f�rmula dental de 2 incisivos, 1 canino, 2 pr�-molares e 3 molares.[carece de fontes?] A evolu��o dos h�bitos alimentares e dos molares � correlacionada com o aumento da massa corporal e corresponde a necessidade de alimentos mais volumosos e de diferentes tipos.[carece de fontes?]

Taxonomia e classifica��o

[editar | editar c�digo-fonte]

A parvordem Platyrrhini �. Geoffroy, 1812 inclui somente os t�xons de primatas do Novo Mundo. Juntamente com Catarrhini, comp�e Simiiformes (tamb�m chamada de Anthropoidea), uma das duas infraordens da subordem Haplorrhini, que abrange a maior parte das esp�cies da Primates.[9]

Platyrrhini � composta por 21 g�neros viventes, dentro dos quais s�o reconhecidas em torno de 152 esp�cies, ou 204 esp�cies e subesp�cies, al�m de cerca de 25 g�neros f�sseis.[10][11][12] Esses g�neros distribuem-se em tr�s fam�lias, Cebidae, Atelidae e Pitheciidae,[10] entretanto, h� propostas que consideram a divis�o de Platyrrhini quatro[11] ou cinco fam�lias,[13] incluindo as fam�lias Aotidae (separada de Pitheciidae) e Callithrichidae (separada de Cebidae), respectivamente.

O n�mero de g�neros viventes que comp�em Platyrrhini sofreu algumas importantes altera��es nas �ltimas d�cadas (Garbino 2015).[14] Classicamente eram reconhecidos 16 g�neros de primatas platirrinos: Alouatta, Aotus, Ateles, Brachyteles, Cacajao. Callicebus, Callimico, Callithrix, Cebuella, Cebus, Chiropotes, Lagothrix, Leonthopitecus, Pithecia, Saguinus e Saimiri (Hershkovitz 1977). Atualmente s�o tamb�m reconhecidos os g�neros Callibella e Mico, anteriormente parte do g�nero Callithrix; o g�nero Leontocebus, inclu�do anteriormente em Saguinus;o g�nero Oreonax, previamente incluso em Lagothrix; e o g�nero Sapajus, que fazia parte do g�nero Cebus.[10][11][12][14]

A seguinte lista resume os clados viventes atualmente inclu�dos em Platyrrhini at� o n�vel de g�nero, segundo a classifica��o proposta por Rosenberger,[10] e seu posicionamento dentro da ordem Primates:

Propostas filogen�ticas

[editar | editar c�digo-fonte]

Dentro da filogenia geral de primatas, os macacos do Novo Mundo aparecem mais relacionados ao grupo dos Catarrhini, ou macacos do Velho Mundo, no qual est�o inclusos os macacos africanos e asi�ticos, por exemplo, os babu�nos, mandris e colobos, e os primatas de grande porte: orangotangos, gorilas, chimpanz�s e humanos. Esses dois grupos, acrescidos dos t�rsios, comp�em os chamados primatas Haplorrhini (nariz simples), e esse posicionamento � sugerido tanto por caracter�sticas morfol�gicas de tecidos moles, como a perda de um rhinarium (focinho �mido, similar aos dos c�es) especializado, informa��es morfol�gicas de cr�nio, denti��o e esqueleto, incluindo a an�lise de material f�ssil, e diversos marcadores moleculares.[15][16]

As propostas mais recentes acerca do relacionamento entre os g�neros de Platyrrhini, baseada tantos em dados morfol�gicos quanto moleculares, dividem o g�neros em tr�s grandes grupos: o primeiro, que corresponde � fam�lia Cebidae, est� divido em dois pequenos grupos que incluem em um os g�neros Cebus + Saimiri como grupo irm�o de Aotus e no outro Callithrix + Cebuella como grupo irm�o de Callimico e estes g�neros acrescidos de Leontopithecus como grupo irm�o de Saguinus.[carece de fontes?]

O segundo grande clado, grupo irm�o de Cebidae, corresponde � fam�lia Atelidae e inclui Brachyteles + Lagothrix como grupo irm�o de Ateles e estes como grupo irm�o de Alouatta; e o terceiro, grupo irm�o dos dois anteriores, corresponde � fam�lia Pitheciidae e re�ne os g�neros Cacajao e Chiropotes como grupos-irm�os, e ambos junto a Pithecia formam o grupo irm�o de Callicebus.[17]

Hist�ria evolutiva e biogeografia

[editar | editar c�digo-fonte]

Segundo estimativas com base em rel�gios moleculares e estudos baseados em registros f�sseis, a diverg�ncia entre Platyrrhini e Catarrhini provavelmente aconteceu acerca de 35-40 milh�es de anos atr�s, per�odo correspondente ao Eoceno Tardio.[18][19][20][21][22] O entendimento da diverg�ncia entre esses dois grupos bem como a �poca de tal acontecimento � fundamental para levantamento de dados paleogeogr�ficos, paleoclim�ticos e outros mais necess�rios para a proposi��o de uma hip�tese biogeogr�fica robusta acerca da coloniza��o da Am�rica do Sul pelos Platyrrhini. Vale ressaltar que a continente sul americano, ap�s sua separa��o do Gondwana (Cret�ceo Superior), foi uma enorme ilha continente sem nenhuma liga��o terrestre com os demais continentes por pelo menos 60 milh�es de anos, finalmente se unindo a Am�rica do Norte via Am�rica central no Plioceno.[23]

O registro f�ssil de primatas para a Am�rica do Sul é relativamente escasso - especialmente quando em comparação com outros mamíferos.  Os gêneros Branisella e Szalatavus do Oligoceno foram descritos e classificados dentro de Ceboidea, porém trazem poucas informações sobre a origem de Platyrrhini por consistirem em grande parte de material dentário e terem seu local de origem incerto. Fósseis do Paleoceno são encontrados principalmente na Europa e na Ásia, com um bom fóssil registro de primatas do Eoceno na África. Estudos biogeográficos sugerem que além da distância considerável que isolavam a África da América do Sul, o mar de Tétis exercia um papel eficaz como uma barreira de migração entre a África e a Europa. Um estudo apresentado em 2015, e baseado em análise de fósseis da espécie extinta Perupithecus ucayalensis encontrada na Bacia do rio Amazonas, e datada de 36 milhões de anos, mostrou semelhanças excepcionais com os fósseis da espécie africana Talahpithecus parvus, encontrada no território onde hoje é a Líbia. De acordo com a pesquisa, as comparações de crânio, dentes e outras partes encontrados na espécie Perupithecus ucayalensis não apresentavam muitas semelhanças com os dos primatas sul-americanos (extintos ou não), mas com os africanos da época do período Eoceno (segunda época da era Cenozoica, entre cerca de 55 milhões de anos e 36 milhões de anos atrás); o que pode indicar alguma relação entre ambos, e sugerir de algum modo uma hipotética "jornada intercontinental" através de migração oceânica. Ainda assim, mais estudos estão sendo conduzidos, de modo que a origem dos Macacos do Novo Mundo ainda continua sendo um mistério.[carece de fontes?]

Com relação à colonização da América do Sul pelos Platyrrhini existem três cenários prováveis:[24]

  • Dispersão da América do Norte para a América do sul: tal hipótese foi inicialmente proposta por Simpson[25] corroborando a ideia do grande intercambio faunístico entre os dois continentes. Existem hipóteses que sugerem que os proto-Platyrrhini poderiam ter uma origem tanto norte americana quanto asiática.[26][27] Este tipo de dispersão tem suporte embasado em dados geofísicos sendo que a barreira formada pelo mar entre a América do Norte e do Sul é menor que quando comparado com o da África, e, além disso, apresenta o arco de Ilhas Caribenhas que podem ter sido um facilitador desse intercambio.[28]
  • Dispersão da Antártica para a América do Sul: esse cenário propõem eventos dispersivos dos proto- Platyrrhini da África, da África via Ásia e Austrália ou da Ásia via Austrália e Antártica até a América do Sul.[29] No entanto, essa hipótese é bastante complicada devido a ausência até então de registro fóssil na Antártica e Austrália e a presença de barreiras marinhas, visto que o canal de Drake se abriu durante o Oligoceno[30][31] e a Antártica já não tinha nenhuma ligação terrestre direta com a África e Índia desde o Cretáceo.[32]
  • Dispersão da Ásia ou África para América do Sul: a hipótese mais aceita é a dispersão direta via oceano Atlântico, entre os primatas da África alcançaram a América do Sul, indicaria uma divergência africana entre as linhagens que originaram os Platyrrhini e os Catarrhini.[23][29] Neste cenário os primeiros antropóides teria se diferenciado dos ancestrais Omomyidae durante o Eoceno médio a tardio e habitaram a África até originarem os platyrrhines- ancestrais que se dispersariam para a América do Sul via “balsas flutuantes” ou por “salto de ilhas"[29]

Kiesling e colaboradores comentam sobre a possibilidade de uma dispersão por meio de “balsas flutuantes através do Oceano Pacífico, entre Ásia e América do Sul".[24] A favor desta hipótese estaria a origem asiática dos macacos antropóides juntamente com existência de fósseis sul americanos relativamente antigos na porção oeste do continente. Contudo , entre as evidências contra estaria a ausência de fósseis de platyrrhines basais na Ásia, encontrados nos afloramentos egípcios de Fayum, bem como a grande distância a ser percorrida via oceano Pacífico.[carece de fontes?]

Outro interessante fato relacionado à colonização da América do Sul pelos platirrinos é que tal evento parece estar diretamente relacionado com a colonização da mesma pelos roedores caviomorfos.[33] E estes, ao chegarem a América do Sul, teriam excluído competitivamente a fauna endêmica da região. Existem duas hipóteses sobre a diversificação das espécies de primatas do novo mundo pós a conquista do continente Sul Americano. Tal diversificação pode ter sido resultado de um único e continuo evento adaptativo das espécies ou de um conjunto de eventos, já que as diferentes espécies ocupam nichos diferentes.[34] Dentre os fatores importantes para a diversificação das espécies de primatas do novo mundo estão as grandes mudanças ocorridas nas bacias hidrográficas da Amazônia.[24]

Interações com o Ambiente e com seres humanos

[editar | editar código-fonte]

Relevância Ecológica

[editar | editar código-fonte]

Por serem majoritariamente onívoros, os primatas do Novo Mundo tem importante papel ecológico, interagindo com diversos grupos de animais e plantas. Atuando muitas vezes na predação, desde invertebrados terrestres, como insetos, até ovos de aves, os primatas neotropicais podem atuar como um fator de controle relevante na população de algumas dessas presas. Além disso, os primatas neotropicais são presas para diversas espécies de aves de rapina e felinos de médio a grande porte.[carece de fontes?]

Um dos principais papéis ecológicos dos Platyrrhini é o de dispersores de sementes. Eles são apontados como os principais dispersores de sementes em florestas tropicais devido ao grande volume corporal e o grande deslocamento por eles realizado. Dentre as espécies com maior variedade de frugivoria estão o Mico-leão-da-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) atuando na dispersão de 152 espécies de plantas e o Muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) dispersor de 86 diferentes espécies.[35]

Os papéis ecológicos realizados pelos primatas do Novo Mundo e principalmente sua importante atuação como dispersores de sementes fazem com que a extinção local desses primatas seja apontada como uma das principais ameaças para a manutenção da biodiversidade em florestas neotropicais.[35]

Estado de conservação

[editar | editar código-fonte]

Segundo a Red List da IUCN de 2008, 21 espécies de primatas neotropicais estão em perigo crítico de extinção. Sete dessas espécies são encontradas no Brasil, país que contém o maior número de espécies de Platyrrhini ameaçados de extinção.[36] Cinco espécies de primatas do Novo Mundo estão dentre os 25 primatas em maior risco de extinção no mundo, em uma nova lista divulgada pela IUCN analisando os anos de 2012 a 2014.[37] São elas: Ateles hibridus, que ocorre na Colômbia e Venezuela; Ateles fuscicepes fuscicepes, com ocorrência no Equador; Cebus kaapori e Alouatta guariba guariba, que ocorrem no Brasil; e Callicebus oenanthe, com ocorrência no Peru. As espécies ameaçadas possuem áreas de distribuição extremamente restritas, e a crescente perda de seu habitat natural é a sua principal ameaça. O desmatamento nas áreas de ocorrência dessas espécies é impulsionado principalmente por expansão urbana, expansão agropecuária.[carece de fontes?]

Além da grande ameaça do desmatamento, os primatas do novo mundo sofrem com a caça ilegal e o tráfico de animais. A venda ilegal de primatas é motivada principalmente para uso em pesquisas biomédicas ou para o uso como animal de estimação. As exportações de primatas neotropicais começaram na década de 40, e com o desenvolvimento da biotecnologia, em meados da década de 1960, eram exportados, principalmente para os Estados Unidos, cerca de 30 mil macacos só da região amazônica por ano, para atender às pesquisas biomédicas. Considerando esses números, estima-se que em apenas uma década foram retirados mais de meio milhão de primatas só dessa região.[38][39][40]

Dentre as principais espécies de primatas comercializadas, 20% delas são primatas do Novo Mundo. Metade destas são representantes da Família Cebidae e a outra metade representantes da Família Callitrichidae.[41] Entre os animais comercializados do Novo Mundo, 95% são espécies que ocorrem no Brasil. As principais espécies usadas para pesquisas biomédicas no final dos anos 70 e início dos 80 incluíam os micos-de-cheiro (Saimiri sp), macacos-da-noite (Aotus sp.), macacos-prego (Cebus sp.), micos (Callithrix sp. e Saguinus sp.) e o sagüi-de-tufo-branco (Callithrix jacchus). Com exceção do sagüi-de-tufo-branco, todas as espécies acima são obtidas quase que exclusivamente na natureza.[42]

O comércio de primatas decresceu significativamente devido ao maior controle e restrição ao comércio por parte dos países exportadores, e pelo controle sanitário dos países importadores. Enquanto isso, o desmatamento continua sendo a principal causa da perda de biodiversidade de primatas neotropicais.[42][41]

Espécies invasoras

[editar | editar código-fonte]

Existem casos de espécies invasoras de primatas neotropicais, como é o caso do mico-estrela (Callithrix penicillata), reconhecida como invasora em diversos ecossistemas da Mata Atlântica. Por seu hábito onívoro e fácil adaptação a novos habitats, essa espécie ocupa nichos ecológicos das duas espécies de saguis ameaçadas desse bioma, o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) e o sagui-da-serra (Callithrix flaviceps), gerando competição com as mesmas e eventualmente contribuindo para a redução de suas populações. Não apenas outros saguis são afetados pela sobreposição de nichos, esse fenômeno é especialmente prejudicial para espécies mais raras, como o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia).[carece de fontes?]

Além de frutas e insetos, o mico-estrela também se alimenta de ovos de pássaros. Sua predação de ninhos é bem documentada e pode ser um fator de influência na redução de populações de aves nativas, considerando que a Mata Atlântica apresenta o maior índice de aves endêmicas da América do Sul.[carece de fontes?]

Além disso, já foram registrados casos de hibridização do mico-estrela com os saguis da Mata Atlântica, gerando até mesmo indivíduos férteis. Esse fenômeno, associado à grande taxa de reprodução dessa espécie invasora, pode representar um grande risco à biodiversidade.[carece de fontes?]

Apesar de representar um grande desequilíbrio ecológico, podendo gerar perdas irreversíveis à biodiversidade, poucas iniciativas de controle populacional dos indivíduos de mico-estrela foram propostas. O processo de remoção ou erradicação, para diminuir o número de indivíduos, apresenta dificuldades no aspecto prático e também levanta questões éticas. Também são conhecidos poucos estudos que busquem melhores soluções para o caso.[43]

Interação com seres humanos

[editar | editar código-fonte]

A expansão urbana próxima à áreas florestais faz com que o homem entre em contato com diversas espécies de animais silvestres. Em geral, primatas generalistas, como os saguis (gênero Callithrix), rapidamente conseguem colonizar áreas de mata degradada, próximas a residências. Algumas espécies, como a espécie invasora Callithrix penicillata, são facilmente encontradas em áreas urbanas inseridas no bioma da Mata Atlântica, e muitas vezes alimentadas por moradores ou visitantes do local.[carece de fontes?]

Os Platyrrhini, por serem evolutivamente próximos aos seres humanos, são importantes reservatórios de doenças transmissíveis para o homem. Saguis, por exemplo, estão entre os principais reservatórios do vírus da raiva na região neotropical. Além disso, podem ser transmissores de Herpes B, Varíola dos macacos, resfriado, poliomielite, sarampo, febre amarela, dengue, dentre outros.[44][45]

  1. Groves, C.P. (2005). Wilson, D. E.; Reeder, D. M, eds. Mammal Species of the World 3.ª ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. pp. 128–152. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  2. Rylands AB; Mittermeier RA (2009). «The Diversity of the New World Primates (Platyrrhini): An Annotated Taxonomy». In: Garber PA; Estrada A; Bicca-Marques JC; Heymann EW; Strier KB. South American Primates: Comparative Perspectives in the Study of Behavior, Ecology, and Conservation 3ª ed. Nova Iorque: Springer. pp. 23–54. ISBN 978-0-387-78704-6 
  3. Hershkovitz, Philip (1978). Living New World Monkeys (Platyrrhini). [S.l.: s.n.] 
  4. Salazar, Laura T. Hernández; Dominy, Nathaniel J.; Laska, Matthias (2015). Martín M., ed. The Sensory Systems of Alouatta: Evolution with an Eye to Ecology. [S.l.]: Springer New York. p. 317–336. ISBN 9781493919567. doi:10.1007/978-1-4939-1957-4_12 
  5. O'Regan, J. Kevin; Alva (1 de outubro de 2001). «A sensorimotor account of vision and visual consciousness». Behavioral and Brain Sciences. 24 (05): 939–973. ISSN 1469-1825. doi:10.1017/S0140525X01000115 
  6. Kainz, Pamela M; Jay (1 de novembro de 1998). «Recent evolution of uniform trichromacy in a New World monkey». Vision Research. 38 (21): 3315–3320. doi:10.1016/S0042-6989(98)00078-9 
  7. Corso, Josmael; Bowler, Mark; Heymann, Eckhard W.; Roos, Christian; Mundy, Nicholas I. (13 de abril de 2016). «Highly polymorphic colour vision in a New World monkey with red facial skin, the bald uakari (Cacajao calvus)». Proc. R. Soc. B (em inglês). 283 (1828). 20160067 páginas. ISSN 0962-8452. PMID 27053753. doi:10.1098/rspb.2016.0067 
  8. Plavcan, J. Michael (1 de janeiro de 2001). «Sexual dimorphism in primate evolution». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 116 (S33): 25–53. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/ajpa.10011 
  9. «Mammal Species of the World - Browse: PRIMATES». www.departments.bucknell.edu. Consultado em 1 de fevereiro de 2016 
  10. a b c d Rosenberger, Alfred L. (1 de dezembro de 2011). «Evolutionary Morphology, Platyrrhine Evolution, and Systematics». The Anatomical Record: Advances in Integrative Anatomy and Evolutionary Biology (em inglês). 294 (12): 1955–1974. ISSN 1932-8494. doi:10.1002/ar.21511 
  11. a b c Rylands, A. B.; R. A. (1 de janeiro de 2012). «Neotropical primates: taxonomy and recently described species and subspecies». International Zoo Yearbook (em inglês). 46 (1): 11–24. ISSN 1748-1090. doi:10.1111/j.1748-1090.2011.00152.x 
  12. a b Sampaio, Ricardo; Fábio (17 de fevereiro de 2015). «Re-description and assessment of the taxonomic status of Saguinus fuscicollis cruzlimai Hershkovitz, 1966 (Primates, Callitrichinae)». Primates (em inglês). 56 (2): 131–144. ISSN 0032-8332. doi:10.1007/s10329-015-0458-2 
  13. Rylands, Anthony B.; Mittermeier, Russell A. (2009). Paul A., ed. The Diversity of the New World Primates (Platyrrhini): An Annotated Taxonomy. [S.l.]: Springer New York. p. 23–54. ISBN 9780387787046. doi:10.1007/978-0-387-78705-3_2 
  14. a b Garbino, Guilherme S. T. (1 de dezembro de 2015). «How many marmoset (Primates: Cebidae: Callitrichinae) genera are there? A phylogenetic analysis based on multiple morphological systems». Cladistics (em inglês). 31 (6): 652–678. ISSN 1096-0031. doi:10.1111/cla.12106 
  15. Goodman, Morris; Calvin A. (1 de junho de 1998). «Toward a Phylogenetic Classification of Primates Based on DNA Evidence Complemented by Fossil Evidence». Molecular Phylogenetics and Evolution. 9 (3): 585–598. doi:10.1006/mpev.1998.0495 
  16. Perelman, Polina; Warren E. (17 de março de 2011). «A Molecular Phylogeny of Living Primates». PLoS Genet. 7 (3): e1001342. PMID 21436896. doi:10.1371/journal.pgen.1001342 
  17. Kay, Richard F. (1 de janeiro de 2015). «Biogeography in deep time – What do phylogenetics, geology, and paleoclimate tell us about early platyrrhine evolution?». Molecular Phylogenetics and Evolution. 82, Part B: 358–374. doi:10.1016/j.ympev.2013.12.002 
  18. Schneider, H.; M. P. C. (1 de setembro de 1993). «Molecular Phylogeny of the New World Monkeys (Platyrrhini, Primates)». Molecular Phylogenetics and Evolution. 2 (3): 225–242. doi:10.1006/mpev.1993.1022 
  19. Porter, Calvin A.; John (31 de dezembro de 1997). «Sequences of the primate ϵ-globin gene: implications for systematics of the marmosets and other New World primates». Gene. 205 (1–2): 59–71. doi:10.1016/S0378-1119(97)00473-3 
  20. Barroso, C. M. L.; H. (1 de agosto de 1997). «Update on the Phylogenetic Systematics of New World Monkeys: Further DNA Evidence for Placing the Pygmy Marmoset (Cebuella) within the Genus Callithrix». International Journal of Primatology (em inglês). 18 (4): 651–674. ISSN 0164-0291. doi:10.1023/A:1026371408379 
  21. SHUMAKER, R. W.; BECK, B. B. (2003). Primates in Question. [S.l.]: Smithsonian Institution Press. ISBN 1-58834-176-3 
  22. Schrago, Carlos G. (1 de março de 2007). «On the time scale of new world primate diversification». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 132 (3): 344–354. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/ajpa.20459 
  23. a b Evolutionary Biology of the New World Monkeys and Continental Drift - Springer. [S.l.: s.n.] doi:10.1007/978-1-4684-3764-5 
  24. a b c Jameson Kiesling, Natalie M.; Soojin V. (1 de janeiro de 2015). «The tempo and mode of New World monkey evolution and biogeography in the context of phylogenomic analysis». Molecular Phylogenetics and Evolution. 82, Part B: 386–399. doi:10.1016/j.ympev.2014.03.027 
  25. Simpson, G.G., 1945. The principles of classification and a classification of the mammals. Bull. Am. Mus. Nat. Hist. 85, 1–350.
  26. Delson, E.; Rosenberger, A. L. (1980). Russell L., ed. Phyletic Perspectives on Platyrrhine Origins and Anthropoid Relationships. [S.l.]: Springer US. p. 445–458. ISBN 9781468437669. doi:10.1007/978-1-4684-3764-5_22 
  27. Gingerich, P. D. (1980). Russell L., ed. Eocene Adapidae, Paleobiogeography, and the Origin of South American Platyrrhini. [S.l.]: Springer US. p. 123–138. ISBN 9781468437669. doi:10.1007/978-1-4684-3764-5_6 
  28. Cachel, Susan (1 de janeiro de 1981). «Plate tectonics and the problem of anthropoid origins». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 24 (S2): 139–172. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/ajpa.1330240507 
  29. a b c Houle, Alain (1 de agosto de 1999). «The origin of platyrrhines: An evaluation of the Antarctic scenario and the floating island model». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 109 (4): 541–559. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/(SICI)1096-8644(199908)109:43.0.CO;2-N [ligação inativa]
  30. Eagles, Graeme; Roy A. (30 de junho de 2002). «Opening history of Powell Basin, Antarctic Peninsula». Marine Geology. 185 (3–4): 195–205. doi:10.1016/S0025-3227(02)00191-3 
  31. Livermore, Roy; Adrian (30 de julho de 2005). «Paleogene opening of Drake Passage». Earth and Planetary Science Letters. 236 (1–2): 459–470. doi:10.1016/j.epsl.2005.03.027 
  32. Briggs, John C. (1 de março de 2003). «The biogeographic and tectonic history of India». Journal of Biogeography (em inglês). 30 (3): 381–388. ISSN 1365-2699. doi:10.1046/j.1365-2699.2003.00809.x 
  33. Flynn, John J.; André R. (1 de novembro de 1998). «Recent advances in South American mammalian paleontology». Trends in Ecology & Evolution (em inglês). 13 (11): 449–454. ISSN 0169-5347. PMID 21238387. doi:10.1016/S0169-5347(98)01457-8 
  34. Kay, Richard F.; J. G. (1 de março de 2008). «The anatomy of Dolichocebus gaimanensis, a stem platyrrhine monkey from Argentina». Journal of Human Evolution. 54 (3): 323–382. doi:10.1016/j.jhevol.2007.09.002 
  35. a b Bufalo, F. S.; Culot, L.; Galetti, M. 2012. Interações entre primatas e frutos carnosos e sua importância para a conservação da Mata Atlântica. In. Congresso de Iniciação Científica da UNESP.
  36. «Primates-SG - Critically Endangered Primates». primates.squarespace.com. Consultado em 1 de fevereiro de 2016 
  37. Schwitzer, C.; R. A. (21 de fevereiro de 2014). «Averting Lemur Extinctions amid Madagascar's Political Crisis». Science (em inglês). 343 (6173): 842–843. ISSN 0036-8075. PMID 24558147. doi:10.1126/science.1245783 
  38. Ávila-Pires, F.D. 1972. Conservação e Extinção. In: Espécies de Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, Editado pela Academia Brasileira de ciências, Rio de Janeiro GB, p. 3-11.
  39. Coimbra-Filho, A.F. 1972. Mamíferos ameaçados de extinção no Brasil. In: Espécies da fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, Editado pela Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro GB, p. 13- 98.
  40. Soini, Pekka (1 de janeiro de 1972). «The capture and commerce of live monkeys in the Amazonian region of Peru». International Zoo Yearbook (em inglês). 12 (1): 26–36. ISSN 1748-1090. doi:10.1111/j.1748-1090.1972.tb02260.x 
  41. a b Fitzgerald, S. 1989. International Wildlife Trade: Whose business is it?. World Wildlife Fund, Baltimore, p. 459.
  42. a b Mack, D. e Mittermeier, R.A. 1984. The International Primate Trade: summary, update and conclusions. In: The International Primate Trade, v.1, TRAFFIC (USA), Washington, p. 181-185.
  43. Valle, C. A. & Prezoto, F. 2015.  Invasões biológicas: o caso do mico estrela (Callithrix penicillata). CES Revista. Juiz de Fora, v. 29, n. 1. p. 58-76.
  44. Araújo, Francisco Anilton Alves; Daniel Garkauskas. «Epizootics in nonhuman primates during reemergence of yellow fever virus in Brazil, 2007 to 2009». Epidemiologia e Serviços de Saúde. 20 (4): 527–536. ISSN 1679-4974. doi:10.5123/S1679-49742011000400012. Consultado em 1 de fevereiro de 2016. Arquivado do original em 12 de setembro de 2017 
  45. Chaves Costa, Benedito Neilson Rolim; Maria Fátima da Silva (9 de outubro de 2012). «RISCO DE TRANSMISSÃO DA RAIVA HUMANA PELO CONTATO COM SAGUIS (Callithrix jacchus) NO ESTADO DO CEARÁ, BRASIL. / RISK OF RABIES TRANSMISSION BY HUMAN CONTACT WITH MARMOSETS (Callithrix jacchus) IN CEARÁ STATE, BRAZIL. / RIESGO DE TRANSMISION DE RABIA HUMAN». Veterinária e Zootecnia. 19 (3): 326–331. ISSN 2178-3764 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
Wikispecies
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Platyrrhini
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Platyrrhini