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Quero-quero

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaQuero-quero


Estado de conserva��o
Esp�cie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1)
Classifica��o cient�fica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Charadriiformes
Fam�lia: Charadriidae
G�nero: Vanellus
Esp�cie: V. chilensis
Nome binomial
Vanellus chilensis
(Molina, 1782)
Distribui��o geogr�fica
Distribui��o do quero-quero
Distribui��o do quero-quero
Sin�nimos
Belonopterus chilensis (Molina, 1782)

Dorypaltus prosphatus Brodkorb, 1959 Parra chilensis Molina, 1782

Ninho com ovos do quero-quero

O quero-quero (Brasil) ou abibe-do-sul (Portugal) (nome cient�fico: Vanellus chilensis (Molina, 1782)), tamb�m conhecido por tet�u, t�u-t�u, ter�u-ter�u e ter�m-ter�m, � uma ave da ordem dos Charadriiformes, pertencendo � fam�lia dos Charadriidae. Em castelhano � conhecido por tero ou tero-tero, e em ingl�s como southern lapwing. Ocorre em toda a Am�rica do Sul e em alguns pontos da Am�rica Central, e sendo uma ave muito popular acabou por fazer parte do folclore de v�rias regi�es.

Taxonomia e ocorr�ncia

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A denomina��o cient�fica atual do quero-quero � Vanellus chilensis, tendo sido descrito pela primeira vez por Juan Ignacio Molina em 1782, que lhe deu ent�o o nome de Parra chilensis. Tamb�m pode ser conhecido como Belonopterus cayennensis e pertence � fam�lia Charadriidae, cujos f�sseis mais antigos datam do Oligoceno m�dio, h� cerca de 30 milh�es de anos. O seu nome popular em portugu�s � uma deriva��o onomatopaica de seu grito, que repete v�rias vezes de dia ou de noite, na maior parte das vezes para a defesa de seu territ�rio.[1][2][3]

Foram descritas quatro subesp�cies,[3] que �s vezes s�o fundidas duas a duas formando duas esp�cies distintas: Vanellus cayennesis (absorvendo a subesp�cie lampronotus) e Vanellus chilensis (absorvendo a subesp�cie fretensis). A IUCN reconhece apenas a esp�cie Vanellus chilensis.[1][2] As quatro subesp�cies reconhecidas s�o:[1]

  • V. chilensis cayennensis (Gmelin, 1789), ocorrendo ao norte da Am�rica do Sul.
  • V. chilensis lampronotus (Wagler, 1827), ocorrendo abaixo do rio Amazonas at� o norte do Chile e da Argentina.
  • V. chilensis chilensis (Molina, 1782), ocorrendo na Argentina e no sul do Chile at� a Ilha de Chilo� e Comodoro Rivadavia.
  • V. chilensis fretensis (Brodkorb, 1934), ocorrendo no sul do Chile e sul da Argentina.

A IUCN refere que o quero-quero ocorre como ave nativa na Argentina, Aruba, Bol�via, Brasil, Chile, Col�mbia, Costa Rica, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Aruba, Cura�au, S�o Martinho, Pa�ses Baixos Caribenhos, Panam�, Paraguai, Peru, Suriname, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela. Aparece ocasionalmente em Barbados, no M�xico e nas Ilhas Malvinas.[2] Foram feitos v�rios avistamentos tamb�m na Am�rica do Norte. At� recentemente era pouco comum na Bacia Amaz�nica, mas sua presen�a ali tem crescido, o que pode ser explicado pelo r�pido desmatamento da regi�o.[3]

Quero-quero em voo

O quero-quero � uma ave de porte m�dio a pequeno, com 32 a 38 cm de comprimento[4] e 300 a 320 g de peso.[5] N�o h� dimorfismo sexual. Quando adulto, ostenta espor�es no �ngulo das asas, usados como arma de ataque e defesa. Tem plumagem negra orlada de branco na testa e na garganta, e uma larga �rea negra no peito. Do topo da cabe�a e lados do pesco�o, at� o dorso, � cinza, podendo ter um tom de marrom ou azul. As esc�pulas t�m cor de bronze, as penas externas das asas passam dos tons acinzentados junto ao corpo at� o branco, terminando em um azul-escuro quase negro. Por dentro as asas s�o brancas com extremidades do mesmo tom escuro. A cauda repete o mesmo padr�o, mas possui uma fina faixa branca na extremidade. O abd�men � branco, a �ris do olho � vermelha, o bico passa do vermelho ao negro na ponta, e as patas s�o avermelhadas. Tem um penacho fino de cor cinza ou negra na regi�o posterior da cabe�a. As subesp�cies apresentam como distin��o ligeiras varia��es nessas caracter�sticas.[6] Os rec�m-nascidos possuem uma penugem esparsa cinza-escuro ou castanha pintalgada de negro, j� apresentando a t�pica mancha negra no peito, com o dorso do pesco�o e o baixo ventre esbranqui�ados.[4]

Ecologia e biologia

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Quero-quero protegendo seu ninho
Quero-Quero em voo de ataque, para prote��o do ninho.
Filhote

Mesmo sendo extremamente comum, � uma esp�cie ainda pouco estudada. Prefere viver em zonas de baixa altitude, em campos, praias arenosas, brejos, mangues e v�rzeas �midas, onde predomine a vegeta��o rasteira, tolerando habitats degradados e a presen�a humana.[3][4] Pode penetrar em �reas urbanas, quando escolhe partes abertas como aeroportos, jardins, gramados e at� mesmo campos de futebol, pelo que frequentemente vira not�cia atrapalhando os jogadores em partidas.[7][8][9] Gra�as � sua vasta �rea de ocorr�ncia e a uma popula��o grande que parece estar crescendo, foi classificado como esp�cie em condi��o pouco preocupante pela Lista Vermelha da IUCN.[2] Costuma andar em pares ou em pequenos grupos, mas j� foram observados bandos de mais de cem indiv�duos. N�o h� dados sobre o tamanho de sua popula��o total, j� que os estudos at� agora realizados se concentraram principalmente sobre grupos de �reas urbanas. N�o h� tampouco evid�ncia de que as atividades humanas estejam prejudicando a esp�cie como um todo.[3]

O quero-quero � uma ave territorial muito vigilante, e d� o alarme ao primeiro sinal de algum intruso em seus dom�nios, seja dia ou seja noite. Apesar de ser um bom voador, sendo visto a fazer acrobacias no c�u, passa a maior parte do tempo em terra. � em geral monog�mico e pouco exigente na elabora��o dos ninhos, que constr�i em uma pequena depress�o no solo, e que consiste de um frouxo e raso amontoado de palha e gravetos em formato mais ou menos circular. P�e de tr�s a quatro ovos esverdeados de casca pintada de negro que pesam em torno de 26 g, que, se a camuflagem de suas penas e outras t�ticas que empregam n�o despistam os predadores, os pais defendem vigorosamente, emitindo gritos e fazendo voos rasantes em sua dire��o como se fossem atac�-los, embora se retirem pouco antes de o contato se efetivar. Atacam tamb�m o homem, se este se aproxima. Durante uma esta��o reprodutiva, que varia de regi�o para regi�o e pode se estender at� por metade de um ano, coincidindo com a �poca das chuvas, os pais podem produzir at� tr�s ninhadas. A taxa de natalidade � de cerca de 70%, mas somente cerca de 20% atinge a idade adulta. Pouco depois de nascerem, os pintos j� acompanham os pais em suas andan�as e se alimentam por conta pr�pria, como eles, de insetos e outros pequenos invertebrados, sendo muitas vezes vigiados por um terceiro adulto ou pelo grupo. Com sessenta dias de vida j� podem voar e j� mostram uma plumagem semelhante aos adultos, embora com estrias. Aves de rapina, mam�feros e r�pteis s�o os maiores inimigos dos filhotes, mas o homem muitas vezes destr�i inadvertidamente os ninhos que se encontram em �reas de lavoura.[3][4][5][10][11][12] Quanto aos adultos, j� foi observado que o carcar� Caracara plancus � um predador.[3]

O quero-quero na cultura

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O quero-quero � comum em muitos pa�ses; � a ave-s�mbolo do Uruguai[10] e do estado brasileiro do Rio Grande do Sul,[13] e por isso em seu redor se formaram v�rias lendas, aparece em cantigas tradicionais e se tornou personagem liter�rio e dramat�rgico.[14][15][16][17][18] Tamb�m deu seu nome a produtos e estabelecimentos comerciais,[19][20][21] projetos educativos[22] e um grupo musical ga�cho.[23]

No hunsriqueano rio-grandense, uma l�ngua regional brasileira de origem germ�nica falada por consider�vel porcentagem da popula��o ga�cha, o quero-quero � chamado de (der) Kiewitz (compare-se com seu nome no alem�o-padr�o: (der) Kiebitz).[24]

Nos esportes, o quero-quero é o símbolo da Seleção Uruguaia de rugby, apelidada los teros (os quero-queros em castelhano) e é o mascote do Novo Esporte de Ipatinga.

A título de exemplo de sua popularidade, aludindo ao seu papel de sentinela dos campos - pelo que é muito estimado pelos estancieiros e fazendeiros[25] - cite-se Rui Barbosa, que em um discurso proferido em 1914 chamou a ave de "o chanceler dos potreiros. Este pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça real, o voo do corvo e a laringe do gato, tem o dom de encher os descampados e sangas das macegas e canhadas com o grito estrídulo, rechinante, profundo, onde o gaúcho descobriu a fidelíssima onomatopeia que o batiza".[14] No terreno folclórico, pode-se trazer à memória uma quadrinha brasileira, que reza:

Quero-quero vai voando
e os esporões vai batendo.
Quero-quero quando grita
alguma coisa está vendo.[15]

Em meados de 1988, 1989, após um baile no 35° CTG em Porto Alegre, é fundado o Grupo Quero-Quero, um dos grupos mais tradicionais do estado do Rio Grande do Sul. O título é uma homenagem a ave, tanto que faz destaque na capa do primeiro trabalho fonográfico chamado Um Grito Gaúcho, vindo a ser destaque em trabalhos seguintes, recebendo a alcunha de A Ave Fandangueira.

O extinto Grupo Temporal, do Rio Grande do Sul grava em 1997 o CD Bota Lenha na Fogueira, tendo em suas faixas uma música chamada Quero-Quero, misturando a etimologia do animal com versos românticos do Gaúcho.

Referências

  1. a b c Southern Lapwing (Vanellus chilensis). The Internet Bird Collection
  2. a b c d BirdLife International 2009. Vanellus chilensis. In: IUCN 2011. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2011.2
  3. a b c d e f g Santos, Eduardo S. A. 2010. "Southern Lapwing (Vanellus chilensis)" In: Neotropical Birds Online (T. S. Schulenberg, Editor). Ithaca: Cornell Lab of Ornithology; retrieved from Neotropical Birds Online
  4. a b c d Moretti, Franciane e Evangelista, Cristiano Lombardo. "Nidificação de Vanellus chilensis (AVES: CHARADRIIDAE) em um cultivo de arroz irrigado, em Itajaí, Santa Catarina". In: Atualidades Ornitológicas On-line Nº 145 - Setembro/Outubro 2008, pp. 41-42
  5. a b Vanellus chilensis chilensis (Molina). Aves de Chile
  6. Blake, Emmet Reid. Manual of Neotropical Birds: Spheniscidae (penguins) to Laridae (gulls and allies). University of Chicago Press, 1977, pp. 542-544
  7. "Neymar dribla até o quero-quero contra o Bota". Areté Editorial S.A., Lancepress, 19/10/2011.
  8. "Quero-quero atingido no jogo Ponte x Prudente morre de hemorragia interna". UOL Esporte, 15/03/2011
  9. Mota, Cahê. "Cuidado, lá vem o quero-quero". Globoesporte.com, 13/05/08
  10. a b Burford, Tim. Uruguay. Bradt Travel Guides, 2010, p. 10
  11. Canevari, Pablo e Narosky, Tito. Cien aves argentinas. Editorial Albatros, 2009, p. 53
  12. Naranjo, Luis G. "Notes on Reproduction of the Southern Lapwing in Colombia". In: Ornitologia Neotropical 2: 95-96, 1991
  13. Lei 7.418 do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1º de dezembro de 1980.
  14. a b Quero-quero – A Câmara é o Bicho. Câmara dos Deputados, 08/02/2011
  15. a b Lisboa, Henriqueta. Literatura oral para a infância e a juventude: lendas, contos & fábulas populares no Brasil. Editora Peirópolis, 2002, p. 24
  16. Machado, Maria Clara. Teatro VI. Agir, 1986, p. 218
  17. Oliveira, Roberto Gonçalves de. As aves-símbolos dos estados Brasileiros. AGE Ltda, 2003, p. 171
  18. Narosky, Tito. El jilguero dorado y otros cuentos para volar. Editorial Albatros, 2005, pp. 14-20
  19. «Quero-Quero Goiânia». Consultado em 28 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 11 de outubro de 2013 
  20. Arroz Quero-Quero
  21. «Hotel Sítio Quero-Quero». Consultado em 28 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 21 de abril de 2012 
  22. Quero-Quero - Apresentação Arquivado em 31 de dezembro de 2011, no Wayback Machine.. Escola de Educação Física da UFRGS
  23. Grupo Quero-Quero
  24. Altenhofen, Cléo Vilson. Hunsrückisch in Rio Grande do Sul - Ein Beitrag zur Beschreibung einer Deutschbrasilianischen Dialektvarietät im Kontakt mit dem Portugiesischen. Franz Steiner Verlag, Stuttgart, 1996, p129
  25. Quero-quero. Embrapa

Ligações externas

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