Ciidae
Besouros ciídeos | |||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Classifica��o cient�fica | |||||||||||||||||
| |||||||||||||||||
Sub-fam�lias | |||||||||||||||||
Ciinae | |||||||||||||||||
Sin�nimos | |||||||||||||||||
Cisidae, Cioidae, Cissidae |
Os ci�deos s�o pequenos besouros (comprimento de 1mm a 5mm) que vivem em corpos-de-frutifica��o de macrofungos, principalmente aqueles conhecidos vulgarmente como fungos orelha-de-pau. A maior parte dos ci�deos (mais de 95% das esp�cies descritas) � comprovadamente micetobionte (tanto larvas quanto adultos dependem exclusivamente do fungo como abrigo e alimento). H� registros de coleta de esp�cies �pteras ou micr�pteras em serapilheira e embaixo de troncos de �rvores (Lopes-Andrade 2007a[1]). Por�m, pouco se sabe se essas esp�cies n�o-volantes vivem associadas a microfungos desses habitats ou se somente foram encontradas neles enquanto dispersavam entre corpos-de-frutifica��o de macrofungos.
Sistem�tica
[editar | editar c�digo-fonte]Atualmente, h� cerca de 640 esp�cies descritas de besouros ci�deos, em 42 g�neros (Lawrence & Lopes-Andrade 2008[2]). Ainda n�o h� um consenso sobre a classifica��o supragen�rica da fam�lia. Duas sub-fam�lias s�o reconhecidas: Sphindociinae e Ciinae. Sphindociinae � monospec�fica e ocorre somente na Calif�rnia (EUA). Ciinae � cosmopolita, e dividida nas tribos Ciini, Orophiini e Xylographellini. As duas primeiras tribos t�m distribui��o mundial, enquanto Xylographellini � basicamente tropical.
Na regi�o Neotropical ocorrem mais de 150 esp�cies de ci�deos, e pelo menos 50 delas j� foram encontradas no Brasil. Contudo, o n�mero de esp�cies de ci�deos neotropicais � certamente muito superior. H� dezenas de esp�cies novas em fase de descri��o, e outras centenas em cole��es cient�ficas de institui��es brasileiras e estrangeiras. Por�m, h� poucos tax�nomos trabalhando com esse grupo de besouros, restringindo os avan�os na �rea. Essa situa��o n�o � �nica: � s� um reflexo da banaliza��o e desvaloriza��o da Taxonomia frente a outras �reas da Biologia.
Morfologia de adultos
[editar | editar c�digo-fonte]Os adultos de Ciidae podem ser reconhecidos pela combina��o das seguintes caracter�sticas: corpo convexo; �litros recobrindo todo o dorso do abd�men; cada palpo maxilar com quatro palp�meros; cada palpo labial com tr�s palp�meros; cada antena com 8 a 10 anten�meros; clava antenal com tr�s art�culos; cada art�culo da clava antenal com no m�nimo quatro agrupamentos de sensilas (sensil�feros); f�rmula tarsal 4-4-4; cinco ventritos abdominais expostos. Os machos geralmente possuem uma marca sexual no primeiro ventrito abdominal, que � provavelmente de natureza glandular. Sphindocis denticollis Fall n�o possui algumas dessas caracter�sticas, mas essa esp�cie n�o ocorre no Brasil.
Intera��es entre ci�deos e fungos
[editar | editar c�digo-fonte]A fam�lia Ciidae � reconhecidamente o grupo de micetobiontes mais diverso e abundante, representando grande parte da biodiversidade e biomassa de insetos presentes em fungos orelha-de-pau. Praticamente, todos os basidiocarpos de quase todas as esp�cies de orelha-de-pau (Polyporaceae sensu lato) s�o explorados por ci�deos. Os ci�deos colonizam os basidiocarpos quando estes est�o se desenvolvendo ou no in�cio da fase de degrada��o dos fungos (ap�s a esporula��o). A grande maioria dos ci�deos vive em fungos Aphyllophorales (Schizophyllaceae, Stereaceae, Polyporaceae, Ganodermataceae, Hymenochaetaceae), e alguns poucos em Agaricales (Pleurotaeae, Tricholomataceae, Bolbitiaceae). Por�m, o g�nero Orthocis Casey vive, principalmente, em fungos da fam�lia Auriculariaceae (Auriculariales).
Os dados sobre a dispers�o de ci�deos s�o esparsos e inconclusivos. Alguns autores demonstraram que os ci�deos s�o atra�dos por subst�ncias vol�teis exaladas pelos basidiocarpos, e que as esp�cies de Ciidae apresentariam diferentes graus de resposta a esses vol�teis.
Ecologia e Biologia da Conserva��o
[editar | editar c�digo-fonte]Como conseq��ncia da sua depend�ncia por fungos, os ci�deos s�o afetados por quaisquer modifica��es ambientais que interfiram na disponibilidade de corpos-de-frutifica��o de macrofungos cori�ceos (Thunes et al. 1999). Isto ocorre quando h� altera��es nas condi��es necess�rias para o desenvolvimento desses fungos, ou quando diminui a qualidade ou quantidade de substrato onde esses fungos poderiam se desenvolver. Muitos ci�deos s�o restritos � vegeta��o prim�ria, n�o ocorrendo em vegeta��es secund�rias ou �reas abertas alteradas (Almeida & Lopes-Andrade 2004[3]). Isto ocorre mesmo quando estas �reas se encontram pr�ximas a �reas extremamente bem preservadas, e mesmo quando h� muita disponibilidade de fungos. Outros ci�deos s� ocorrem em mata fechada, como � o caso de Falsocis brasiliensis (Lopes-Andrade 2007b[4]). Se os ci�deos n�o consumirem os corpos-de-frutifica��o, ocorre o ac�mulo gradativo dessas estruturas e a indisponibilidade de diversos nutrientes importantes aos sistemas florestais (Rukke 2000; Thunes et al. 1999). Pouco se sabe sobre o comportamento de coloniza��o de fungos por ci�deos, mas provavelmente o primeiro indiv�duo a chegar em uma orelha-de-pau libera ferom�nio sexual ou de agrega��o (Lopes-Andrade et al. 2003[5])
Pelo menos uma esp�cie de ci�deo, Falsocis brasiliensis, est� comprovadamente em risco de extin��o. Esta esp�cie ocorre somente em pequenos fragmentos florestais de Mata Atl�ntica do sudeste e nordeste do Brasil (Lopes-Andrade 2007b). S� h� um registro de ocorr�ncia da esp�cie em �rea de preserva��o ambiental, no munic�pio de Jussari, Bahia. Os demais registros s�o para fragmentos florestais n�o-protegidos, todos circundados por �rea urbana ou rural em expans�o.
Servi�os ambientais
[editar | editar c�digo-fonte]Como consequ�ncia de seus h�bitos alimentares, os ci�deos constituem uma importante guilda de detrit�voros em ecossistemas florestais, principalmente nos tr�picos. Apesar da biomassa movimentada por esses organismos ser pequena quando comparada com a de outros grupos de artr�podes, ela possui uma concentra��o muito grande de elementos importantes (por exemplo, nitrog�nio). Quaisquer tipos de altera��es ambientais que interfiram na coloniza��o e no desenvolvimento de ci�deos nos basidiocarpos ir� interferir diretamente no processo de ciclagem de nutrientes. Os basidiocarpos que n�o s�o colonizados por ci�deos persistem na natureza por um tempo muito maior. Nesses casos, os elementos acumulados nessas estruturas reprodutivas ficam indispon�veis a outros organismos, at� que processos naturais mais lentos degradem essas estruturas.
Import�ncia econ�mica
[editar | editar c�digo-fonte]H� poucos registros de Ciidae como esp�cie-praga ou de import�ncia econ�mica. Lohse & Reibnitz (1991) encontraram Cis multidentatus (Pic), uma esp�cie chinesa de ci�deo, infestando queijo de soja (tofu) em um restaurante da Alemanha. Madenjian et al. (1993[6]) mencionaram tr�s esp�cies como pragas de cogumelos secos comest�veis: Cis asiaticus Lawrence; Cis chinensis Lawrence; e Orthocis auriculariae Lawrence. Todas foram encontradas em embalagens de fungos provenientes da Tail�ndia e China, mas adquiridas em lojas de alimentos importados nos EUA (Lawrence 1991;[7] Madenjian et al. 1993). Cis chinensis � uma praga em cultivos de fungos Ganoderma lucidum na Tail�ndia e na China. Esses fungos s�o vulgarmente conhecidos como Ling-Zhi na China e Reishi no Jap�o, e s�o usados na alimenta��o e na produ��o de medicamentos. Cis chinensis foi recentemente encontrada no Brasil, ocorrendo em �rea urbana do munic�pio de Ipatinga, no estado de Minas Gerais (Lopes-Andrade 2008[8]).
Ci�deos tamb�m podem causar preju�zos a cole��es cient�ficas. Hadreule blaisdelli (Casey) � comumente encontrada em cole��es de fungos da Europa e Am�rica do Norte. Essa esp�cie pode ter dezenas de gera��es em um mesmo corpo-de-frutifica��o, sem adi��o de �gua ou de nenhum outro nutriente (Klopfestein & Graves 1987). Um descuido pode, portanto, levar � contamina��o de toda uma cole��o.
Pesquisas no Brasil
[editar | editar c�digo-fonte]As primeiras coletas de besouros ci�deos no Brasil foram provavelmente conduzidas por Charles Darwin, em suas visitas ao pa�s em 1832. As primeiras esp�cies brasileiras foram descritas por M. Melli�, em 1849. Contudo, o primeiro tax�nomo no pa�s a estudar esses besouros foi C.W. Friedenreich, um imigrante alem�o que residia em Blumenau, Santa Catarina. Em 1881, ele descreveu o g�nero Trichapus e duas esp�cies: Tric. pubescens; e Tric. glaber. Entretanto, o material-tipo utilizado por Friedenreich tem paradeiro desconhecido, e a validade dessas duas esp�cies, e do pr�prio g�nero Trichapus, � question�vel.
J� no in�cio do s�culo XX, alguns entom�logos se interessaram em coletar ci�deos com maior freq��ncia, apesar de n�o terem conduzido trabalhos taxon�micos sobre esses besouros. Nesse per�odo, vale citar as coletas de Fritz Plaumann no sul do Brasil. Muitas esp�cies encontradas por ele nunca mais foram coletadas, e algumas j� est�o provavelmente extintas. Felizmente, uma boa amostra desses ci�deos foi preservada em museus do Brasil, Austr�lia, Inglaterra e de outros pa�ses. Costa Lima[9] publicou a primeira foto de um ci�deo brasileiro em 1953, sendo esta, provavelmente, a mais antiga foto de Ciidae publicada no mundo. As primeiras larvas de esp�cies brasileiras foram descritas por Costa et al. em 1988, no livro Larvas de Coleoptera do Brasil.
As pesquisas sobre ci�deos brasileiros avan�aram no in�cio do s�culo XXI. Uma cole��o de refer�ncia foi organizada, permitindo a execu��o de projetos em taxonomia, ecologia, etologia, morfologia e citogen�tica de Ciidae.
A resolu��o de problemas taxon�micos, principalmente os de sinon�mia, e a descri��o de novos t�xons ir�o facilitar a continuidade das pesquisas sobre ci�deos no Brasil.
Lista de g�neros
[editar | editar c�digo-fonte]- Acanthocis Miyatake, 1954
- Aliocis Sandoval-G�mez & Lopes-Andrade, 2015
- Apterocis Perkins, 1900
- Atlantocis Israelson, 1985
- Ceracis Melli�, 1849
- Cis Latreille, 1796
- Cisarthron Reitter, 1885
- Dichodontocis Kawanabe, 1994
- Dimerapterocis Scott, 1926
- Diphyllocis Reitter, 1885
- Dolichocis Dury, 1919
- Ennearthron Melli�, 1847
- Euxestocis Miyatake, 1954
- Falsocis Pic, 1916
- Grossicis Antunes-Carvalho, Sandoval-Gómez & Lopes-Andrade, 2012
- Hadreule Thomson, 1859
- Hyalocis Kawanabe, 1993
- Lipopterocis Miyatake, 1954
- Malacocis Gorham, 1886
- Neoapterocis Lopes-Andrade, 2007
- Neoennearthron Miyatake, 1954
- Nipponapterocis Miyatake, 1954
- Nipponocis Nobuchi & Wada, 1955
- Octotemnus Mellié, 1847
- Odontocis Nakane & Nobuchi, 1955
- Orthocis Casey, 1898
- Paratrichapus Scott, 1926
- Paraxestocis Miyatake, 1954
- Phellinocis Lopes-Andrade & Lawrence, 2005
- Plesiocis Casey, 1898
- Polynesicis Zimmerman, 1938
- Porculus Lawrence, 1987
- Ropalodontus Mellié, 1847
- Scolytocis Blair, 1928
- Sphindocis Fall, 1917
- Strigocis Dury, 1917
- Sulcacis Dury, 1917
- Syncosmetus Sharp, 1891
- Tropicis Scott, 1926
- Wagaicis Lohse, 1964
- Xylographella Miyatake, 1985
- Xylographus Mellié, 1847
Referências
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- Gumier-Costa, F., Lopes-Andrade, C. & Zacaro, A. A. 2003. Association of Ceracis cornifer (Mellié) (Coleoptera: Ciidae) with the bracket fungi Pycnoporus sanguineus (Basidiomycetes: Polyporaceae). Neotropical Entomology, 32(2): 359–360.[4]
- Lawrence, J. F. 1987. A new genus of Ciidae (Coleoptera, Tenebrionoidea) from the Neotropical region. Revista Brasileira de Entomologia, 31(1): 41–47.
- Lopes-Andrade, C., Gumier-Costa, F., Zacaro, A.A. 2003. Cis leoi, a new species of Ciidae (Coleoptera: Tenebrionoidea) from the Neotropical Region. Zootaxa, 161: 1–7.
- Lopes-Andrade, C., Lawrence, J. F. 2005. Phellinocis, a new genus of Neotropical Ciidae (Coleoptera: Tenebrionoidea). Zootaxa, 1034: 43–60.
- Lopes-Andrade, C., Madureira, M. S., Zacaro, A. A. 2002. Delimitation of the Ceracis singularis group (Coleoptera: Tenebrionoidea: Ciidae), with the description of a new Neotropical species. Dugesiana, 9: 59–63.
- Lopes-Andrade, C., Matushkina, N., Buder, G., Klass, K.-D. 2009: Cis pickeri sp. nov. (Coleoptera: Ciidae) from Southern Africa. Zootaxa, 2117: 56-64.Primeira página disponível
- Lopes-Andrade, C., Zacaro, A. A. 2003a. The first record of Ennearthron Mellié, 1848 (Coleoptera: Tenebrionoidea: Ciidae) in the Southern Hemisphere, with the description of a distinctive new species. Zootaxa, 395: 1–7.
- Lopes-Andrade, C., Zacaro, A. A. 2003b. Xylographus lucasi, a new Brazilian species of Ciidae (Coleoptera: Tenebrionoidea). Dugesiana, 10: 1–6.
- Orledge, G. M., Reynolds, S. E. 2005. Fungivore host-use groups from cluster analysis: patterns of utilisation of fungal fruiting bodies by ciid beetles. Ecological Entomology, 30(6): 620–641.
- Ruta, R. 2003. Rhopalodontus lawrencei n. sp. – the first Rhopalodontus species in the Oriental Region. Genus, 14(3): 363–369.[5]
Referências citadas
[editar | editar código-fonte]- ↑ Lopes-Andrade, C. 2007a. Neoapterocis, a new genus of apterous Ciidae (Coleoptera: Tenebrionoidea) from Chile and Mexico. Zootaxa, 1481: 35-47.
- ↑ Lawrence, J. F. ; Lopes-Andrade, C. 2008. Ciidae Species Listing. Joel Hallan's Biology Catalog, Online [1]
- ↑ Almeida, S. S. P. & Lopes-Andrade, C. 2004. Two new Brazilian species of Cis Latreille, 1796 (Coleoptera: Tenebrionoidea: Ciidae). Zootaxa, 717: 1–10.
- ↑ Lopes-Andrade, C. 2007b. Notes on Falsocis Pic (Coleoptera: Tenebrionoidea: Ciidae), with the description of an endangered Brazilian species. Zootaxa, 1544: 41-58.
- ↑ Lopes-Andrade, C., Gumier-Costa, F. & Sperber, C. F. (2003) Why do male Xylographus contractus Mellié (Coleoptera: Ciidae) present abdominal fovea? Evidence of sexual pheromone secretion. Neotropical Entomology, 32: 217-220.[2]
- ↑ Madenjian, J. J., Eifert, J. D. & Lawrence, J. F. 1993. Ciidae: newly recognized beetle pests of commercial dried mushrooms. Journal of Stored Products Research, 29: 45-48.
- ↑ Lawrence, J. F. 1991. Three new asiatic Ciidae (Coleoptera: Tenebrionoidea) associated with commercial, dried fungi. The Coleopterists Bulletin, 45: 286-292.
- ↑ Lopes-Andrade, C. 2008 The first record of Cis chinensis Lawrence from Brazil, with the delimitation of the Cis multidentatus species-group (Coleoptera: Ciidae). Zootaxa, 1755: 35-46.
- ↑ Costa Lima, A. M. da. 1953. Insetos do Brasil. Coleoptera. Esc. Nac. Agr., Rio de Janeiro, Tomo 8, 323p.[3]