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Hist�ria da agricultura no Brasil

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A Hist�ria da agricultura no Brasil retrata desde o per�odo pr�-colonial, quando os ind�genas praticavam a agricultura de subsist�ncia, chegando ao per�odo contempor�neo onde predomina a tecnologia e mecaniza��o agr�cola.

Frutas brasileiras, por Albert Eckhout durante o dom�nio holand�s em Pernambuco.

A agricultura era uma pr�tica conhecida pelos nativos, que cultivavam a mandioca, o amendoim, o tabaco, a batata-doce e o milho, al�m de realizarem o extrativismo vegetal em diversos outros cultivares da flora local, como o baba�u ou o pequi, quer para alimenta��o quer para subprodutos como a palha ou a madeira, e ainda de frutas nativas como a jabuticaba, o caju, a caj�, a goiaba e muitas outras.

Com a chegada dos europeus, os ind�genas n�o apenas receberam a cultura mais forte e dominante, como influenciaram os que chegavam: O portugu�s passara "a nutrir-se de farinha de pau, a abater, para o prato, a ca�a grossa, a embalar-se na rede de fio, a imitar os selvagens na rude e livre vida", no dizer de Pedro Calmon.[1]

At� a introdu��o do cultivo de exporta��o, o extrativismo do pau-brasil, foi a primeira raz�o econ�mica da posse das novas terras por Portugal.[2]

Brasil Col�nia: a monocultura da cana

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Ver artigo principal: Ciclo da cana-de-a��car
O a��car atraiu o colonizador, fez virem os escravos da �frica e provocou a invas�o do territ�rio.
A imagem retrata um engenho holand�s, na obra Historia Naturalis Brasiliae, de 1648.

Logo ap�s o Descobrimento, as riquezas naturais da terra n�o se revelaram promissoras, at� a introdu��o da produ��o de cana-de-a��car na regi�o Nordeste, principalmente em Pernambuco. Isto obrigou os portugueses a introduzirem a m�o-de-obra escrava, capaz de realizar as duras tarefas de cultivo da monocultura, sistema muitas vezes chamado de plantation. Essa fonte de riqueza, entretanto, n�o serviu para a promo��o do desenvolvimento t�cnico ou social.[3]

A concentra��o da riqueza e a forma��o de latif�ndios geraram um sistema social quase feudal - diverso do que ocorreu, por exemplo, na Am�rica do Norte, onde a terra foi dividida em pequenas propriedades. A economia brasileira era em sua maior parte dependente da exporta��o do a��car, que a despeito de ser trinta por cento mais barato que o produzido noutras partes, n�o possu�a acesso aos mercados, vindo a declinar na segunda metade do s�culo XVII. Muitas regi�es produtoras, ent�o, passaram a diversificar a produ��o, passando ao plantio do algod�o, como em Pernambuco, ou, na Bahia, do tabaco ou do cacau - embora o legado negativo desse per�odo tenha permanecido: a estrutura social arcaica e a baixa tecnologia agr�cola.[3]

Brasil Imp�rio: dom�nio do caf�

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Ver artigo principal: Ciclo do caf�
Planta��o brasileira de caf�, no come�o do s�culo XX.

Ainda no final do per�odo colonial o caf� foi introduzido no pa�s. Mas foi somente ap�s a independ�ncia que a produ��o se consolidou na regi�o Sudeste, sobretudo no estado de S�o Paulo. A exporta��o, que no come�o do s�culo XIX era de 3.178 mil sacas de 60 kg, passou a 51 milh�es e 361 mil sacas, nas d�cadas de 1880 e 1890 - saltando de dezenove por cento para cerca de sessenta e tr�s por cento do total da exporta��o do pa�s.[3]

Esse enorme peso econ�mico fez surgir uma nova oligarquia dominante no Brasil, os chamados Bar�es do Caf�. Apressou, ainda, os movimentos de imigra��o, com o fim da escravid�o, atingindo seu �pice nas chamadas pol�tica do caf�-com-leite e pol�tica dos governadores, esta �ltima no governo Campos Sales, at� a crise de 1929 encerrar este ciclo na d�cada de 1930 e com a industrializa��o do pa�s - com o capital oriundo do excedente cafeeiro.[4]

Ensacamento para exporta��o, no auge do ciclo do caf�.

A imigra��o europ�ia se acentuou com a produ��o do caf� no oeste paulista, com a chegada ao pa�s sobretudo de italianos. A riqueza gerada pelo produto acentuou as diferen�as entre as regi�es brasileiras, especialmente o Nordeste.[3]

Al�m do caf� outras culturas tiveram crescimento ainda no s�culo XIX, como o fumo e o cacau, na Bahia, e a borracha na Amaz�nia: em 1910 a borracha representava em torno de quarenta por cento das exporta��es. O algod�o assistiu um crescimento tempor�rio, durante a Guerra de Secess�o, nos Estados Unidos da Am�rica.[3]

No p�s-guerra tem in�cio no pa�s o debate que indicava o atraso no setor agr�cola como um dos obst�culos ao desenvolvimento e � industrializa��o que se projetava na Era Vargas, nos entendimentos entre o pa�s e os Estados Unidos. O modelo a ser adotado recebia forte influ�ncia da CEPAL, organismo da ONU sediado no Chile.[5]

O atraso do campo n�o atendia mais � demanda dos grandes centros urbanos, e cidades como S�o Paulo, Rio de Janeiro e Recife sofriam com escassez de g�neros b�sicos como a��car, trigo, feij�o e outros.[5]

Diversifica��o agr�cola: anos 1960 a 1990

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O ex-ministro, Lu�s Fernando Cirne Lima, fundador da Embrapa, em palestra pelos 35 anos da entidade. Bras�lia, 2008, Jos� Cruz/ABr.

Ap�s o per�odo de forte influ�ncia da CEPAL, tem lugar os estudos feitos pelo Instituto de Estudos Brasileiros, fundado em 1962. No ano seguinte tinham in�cio as Reformas de base de Jo�o Goulart, provocando forte rea��o dos latifundi�rios. No meio acad�mico duas correntes se debatiam, uma dizendo que o pa�s possu�a uma estrutura feudal no campo, ao passo que intelectuais como Prado J�nior defendiam que a estrutura rural era capitalista; em ambos os casos pregava-se a reforma agr�ria como meio de melhoria do sistema econ�mico; tamb�m se falava em altera��es constitucionais, e todo esse quadro gerou a oposi��o acirrada dos conservadores, e que culminaram com o Golpe Militar de 1964.[5]

Durante o regime militar foi criada em 1973 a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria), com o objetivo de diversificar a produ��o agr�cola. O �rg�o foi respons�vel pelo desenvolvimento de novos cultivares, adaptados �s condi��es peculiares das diversas regi�es do pa�s. Teve in�cio a expans�o das fronteiras agr�colas para o cerrado, e latif�ndios em escala semi-industrial de soja, algod�o e feij�o.[3]

Dentre os pesquisadores da Embrapa que possibilitaram a incrementa��o da revolu��o verde na agricultura brasileira, destaca-se a pesquisadora tcheca-brasileira Johanna D�bereiner que, com suas pesquisas sobre os microrganismos fixadores de nitrog�nio, por sua amplitude mundial, rendeu-lhe, em 1997, a indica��o para receber o Pr�mio Nobel de Qu�mica.[6]

Em 1960 eram quatro os principais produtos agr�colas exportados; no come�o da d�cada de 1990 estes passaram a dezenove. O avan�o nestes trinta anos incluiu o beneficiamento: nos anos 60 os produtos n�o-beneficiados eram oitenta e quatro por cento do total exportado, taxa que caiu a vinte por cento, no come�o da d�cada de 90.[3]

As pol�ticas de fomento agr�cola inclu�am cr�ditos subsidiados, perd�o de d�vidas banc�rias, e subs�dios � exporta��o (que, em alguns casos, chegou a cinquenta por cento do valor do produto).[3]

Mecaniza��o: os anos 1990

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Colheitadeira em uma planta��o de algod�o brasileira.

A partir de 1994, com a estabiliza��o monet�ria do Plano Real, o modelo agr�cola brasileiro passou por uma radical mudan�a: o Estado diminuiu sua participa��o e o mercado passou a financiar a agricultura que, assim, viu fortalecida a cadeia do agroneg�cio, desde a substitui��o da m�o-de-obra por m�quinas (houve uma redu��o da popula��o rural brasileira, que caiu de vinte e um milh�es e setecentas mil, em 1985, para dezessete milh�es e novecentas mil pessoas em 1995), passando pela libera��o do com�rcio exterior (diminui��o das taxas de importa��o dos insumos), e outras medidas que for�aram os produtores brasileiros a se adaptarem �s pr�ticas de mercado globalizado. O aumento da produtividade, a mecaniza��o (com redu��o dos custos) e profissionaliza��o marcam esse per�odo.[3]

Desenvolvimentos sobre a agricultura no Brasil

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A historiografia agr�cola do pa�s surge com uma nova vis�o a partir da d�cada de 1930, com o lan�amento da obra Casa-Grande e Senzala de Gilberto Freire e Evolu��o Pol�tica do Brasil, de Caio Prado J�nior, ambos de 1933, al�m de outras obras posteriores.[7]

A partir da Guerra Fria a historiografia brasileira passou a dar maior enfoque � economia e aos fatores de produ��o, at� que na d�cada de 1970 surgem os primeiros trabalhos voltados especificamente para o setor agr�cola.[7]

Os defensores das ideias marxistas produzem grandes embates, que se esvaziam com o Golpe Militar de 1964. Obras como Forma��o Econ�mica do Brasil, de Celso Furtado (1959), "Da Senzala � Col�nia", de Em�lia Viotti da Costa e "A Revolu��o Brasileira", de Caio Prado Jr. (ambos de 1966) trazem importantes contributos para a compreens�o do passado agr�cola, permitindo que na d�cada de 1970 a produ��o espec�fica sobre agricultura tivesse espa�o. Ot�vio Guilherme Velho, na Inglaterra, K�tia Mattoso, na Bahia, s�o nomes que passam a abordar a tem�tica, n�o mais apreciando os dados oficiais, mas pesquisando ampla documenta��o. Surge o debate acerca dos modos de produ��o, que destacam nomes como Ciro Flamarion Cardoso, Jacob Gorender e Ant�nio Barros de Castro.[7]

Um maior impulso �s pesquisas deu-se com a cria��o do CPDA, em 1977 e, desde ent�o, as pesquisas da hist�ria da agricultura brasileira passaram a incorporar estudiosos de diversas �reas das ci�ncias humanas (como soci�logos, economistas, fil�sofos, etc.).[7]

Al�m das pesquisas centralizadas no Rio de Janeiro, estas passaram a se desenvolver noutros estados, em que se destaca o papel do Arquivo Público da Bahia, faculdades de Minas Gerais, etc., que muito contribuem para a ampliação do conhecimento historiográfico do setor agrícola no país.[7]

Referências

  1. CALMON, Pedro: História do Brasil, São Paulo, 1939, vol. 1
  2. ARRUDA, José Jobson (1996). «Cap. 21 - Os primeiros tempos: a exploração do pau-brasil». História Integrada: da Idade Média ao nascimento do mundo moderno. Ática. Foi com o objetivo de explorar o comércio dessa madeira que os portugueses fundaram uma série de benfeitorias(...) Os europeus dependiam dos índios para a extração das madeiras(...) A partir de 1530 a crise do comércio de especiarias... forçaram Portugal a ocupar definitivamente(...) 2ª ed. São Paulo: [s.n.] pp. 126 a 129. ISBN 85 08 05399 1 
  3. a b c d e f g h i BAER, Werner: A Economia Brasileira, Nobel, São Paulo, 2ª ed, 2003, ISBN 8521311974, ISBN 9788521311973
  4. ARRUDA, José Jobson de A.: História Moderna e Contemporânea. Ática, São Paulo, 13ª ed., 1981.
  5. a b c Antonio César Ortega e Emanoel Márcio Nunes (2001). «Agricultura Familiar: por um projeto alternativo de desenvolvimento local». Consultado em 5 de julho de 2010 
  6. Embrapa/Agrobiologia. «49 Anos Dedicados à Pesquisa em Microbiologia do Solo». Consultado em 13 de dezembro de 2009 
  7. a b c d e Maria Yedda Linhares (12 de abril de 1999). «Pesquisas em história da agricultura brasileira no Rio de Janeiro». Consultado em 22 de dezembro de 2009